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 Quando a minha prima Silvia foi passar uma temporada em Madri, lá se vai um par de anos, a primeira coisa que Cristiano, o marido dela, fez foi arrumar uma loja de vinhos perto da casa onde eles foram morar. E a menos de um quarteirão de distância, tinha lá uma lojinha bem simpática, daquelas de bairro. Relativamente acanhada, mas com rótulos de todas as regiões da Espanha. O vendedor era um educado argentino que, notando o interesse do marido da minha prima por vinhos, começou a sugerir alguns produtores. Entre as dicas, uma chamou a atenção. Quando Cristiano apresentou os vinhos da Pago de los Capellanes para a família, foi amor ao primeiro gole.
Essa adoração causou um problema danado. Como o vinho não tinha importador aqui, a cada vez que alguém ia visitar minha prima em Madri era um tal de encomendar garrafas e mais garrafas do tal Capellanes. Quando ela voltou ao Brasil, felizmente, todos ainda tinham alguns exemplares do vinho na adega. Mas agora nem é preciso mais tanta parcimônia na hora de abri-los. O espanhol Jesus Ruiz Santamaria, da importadora Cava de Vinhos (24 2222-1990, www.cavadevinhos.com), resolveu trazer os rótulos da vinícola para o Brasil. Nesta sexta, eles já estarão à venda na loja de Jesus em Itaipava. Finalmente!
A Pago de los Capellanes foi fundada em 1996. A bodega fica em Pedrosa de Duero, no coração da Ribera del Duero. Pago significa uma parcela definida de terreno. De lá, saem as uvas para a produção dos vinhos. Entre os séculos XIII e XIV existia ali uma pequena capela. Os aldeões doavam pequenos trechos de terra para os capelães em troca de orações e missas. Daí surgiu o nome da vinícola.
As vinhas ficam a 800 metros acima do nível do mar. Os solos variam de argiloso a calcário e são muito pobres. Por isso, as raízes são obrigadas a irem fundo para buscar nutrientes. Os verões são bem quentes, com temperaturas atingindo 45 graus. No inverno, o frio chega e os termômetros comumente vão abaixo de zero. A alta amplitude térmica favorece a maturação das uvas. A produção é pequena, e a colheita, manual. A casta mais plantada é a tinto fino, nome local da tempranillo. Cabernet-sauvignon e merlot são as outras uvas cultivadas. A vinícola é uma beleza, projetada pelo arquiteto Jesús Manzanares. Destaque para a sala de barricas, que abriga mais de 2.500 unidades, todas francesas, de diferentes marcas e tostas.
A Pago de los Capellanes produz apenas cinco vinhos. Todos tintos. E com sempre com altas notas conferidas pelo crítico norte-americano Robert Parker. O Tinto Joven (R$ 68) é um corte de tinto fino (80%), cabernet-sauvignon (10%) e merlot (10%), com passagem de cinco meses em barricas francesas novas. No nariz, apresenta notas florais e de frutas vermelhas frescas, com um leve toque de baunilha. Na boca, é vivo, fresco e com a elegância comum em todos os vinhos da vinícola. O Tinto Crianza (R$ 150) é um corte de tinto fino (90%) e cabernet-sauvignon (10%), e estagia por um ano em barricas novas e seminovas de carvalho francês. No nariz, fruta madura e baunilha em harmonia. Na boca, é macio, com taninos finos, equilibrado e longo.
O Pago de los Capellanes Reserva (R$ 250) foi o primeiro rótulo da vinícola que tive a chance, e o prazer, de provar. Corte de tinto fino (90%) e cabernet-sauvignon (10%), descansa por 18 meses em barricas novas de carvalho francês. No nariz apresenta um coquetel de aromas em que se sobressaem cereja, cassis, baunilha e coco, com um toque de alcaçuz. Na boca é carnoso, maduro, com uma acidez perfeita, longo, saboroso. Vale a pena decantar por uma hora.
De parcelas selecionadas saem os dois vinhos tops da vinícola. O Parcela El Nogal (R$ 290) e o Parcela El Picón (R$ 750). O El Nogal é feito com a tinto fino vinda de uma parcela de apenas seis hectares com rendimento inferior a 4 mil quilos por hectare. Estagia por 22 meses em quatro tipos diferentes de barricas francesas, de diferentes tostas e idade. No nariz, madeira e uva maravilhosamente integrados, com notas florais, frutas vermelhas, baunilha, chocolate, coco, couro e um toque de pimenta. Na boca, alia elegância e potência, com muita fruta e uma acidez arrebatadora. Decantar o vinho é preciso nesse caso. Pelo menos por uma hora.
O El Picón é simplesmente um dos melhores vinhos de toda a Espanha. Também precisa de uma horinha no decanter para mostrar tudo o que pode oferecer. É feito com a tempranillo oriunda de um vinhedo de apenas dois hectares e tem passagem de 26 meses em madeira. Amora, cassis, canela, couro, tabaco, baunilha, chocolate, cogumelo, alcaçuz...o nariz é de uma complexidade ímpar. Na boca, é uma sinfonia. Taninos doces, macios, finos. Gordo, pleno, longo. Um vinho para momentos raros. |
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Vinhos degustados |
Vinho da semana Pago de los Capellanes Crianza 2006 Ribera del Duero, Espanha Produtor de prestígio na Espanha, com sucessivas notas altas na imprensa internacional, a Pago de los Capellanes chega ao Brasil através da Cava de Vinhos, do espanhol Jesus Ruiz Santamaria. Este crianza é um corte de tinto fino e cabernet-sauvignon, com boa intensidade aromática. Fruta e madeira bem integradas, fino, volumoso, macio e longo. Bom com filés. Nota: 9 Preço: R$ 150 Onde: Cava de Vinhos (24 2222-1990)
Barato Bom Indómita Selected Sauvignon Blanc 2008 Vale de Casablanca, Chile Branco simples e bem feito deste emergente produtor chileno. No nariz, maracujá, arruda e um leve toque mineral. Na boca, frescor e equilíbrio. Vinho leve e fácil, sem grandes pretensões e de preço justo. Bom para mariscos em geral. Nota: 7,5 Preço: R$ 24 Onde: Barrinhas (2131-0021)
Para guardar Pago de los Capellanes Parcela El Nogal 2004 Ribera del Duero, Espanha Um dos tops da vinícola, 100% feito com a tempranillo, de uma parcela selecionada de um vinhedo de baixíssimo rendimento. Nariz intenso e persistente, com notas florais, fruta vermelha, baunilha, coco, couro, chocolate e pimenta do reino. Na boca, é fino, com muita fruta, potente e elegante. E com um final longo e relativamente doce. Decante. Nota: 9,5 Preço: R$ 290 Onde: Cava de Vinhos (24 2222-1990) |
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