"LF""LF""LF""LF""LF"
Matérias relacionadas
Colunistas
 
Dois mil e cinco foi uma safra daquelas de manual na região de Bordeaux, na França. Foi tudo como manda o figurino. Dias quentes, mas não sufocantes. Noites frescas, não frias. E nenhuma chuva. O resultado: uvas maravilhosas, perfeitas. Eufóricos, muitos produtores não hesitaram em apontar 2005 como a melhor safra de todos os tempos. Superior a 2000, 1982, 1961, 1947, 1945, 1929. Outros, mais comedidos, preferem esperar mais algum tempo antes de concordar com a afirmação. Se é a melhor ou não de todas, só o tempo dirá. Mas a verdade é que 2005 já é a safra mais cara da história.

Na semana passada, no restaurante Fasano, alguns enófilos puderam comprovar a qualidade da safra 2005. Sete crus classés de Bordeaux foram degustados, às cegas. Os seconds crus Château Montrose e Château Cos d'Estournel, de St-Estèphe e Château Ducru-Beaucaillou, de Saint-Julien; os cinquièmes crus Château Grand-Puy Lacoste e Château Pontet-Canet, ambos de Pauillac; e os premiers grand crus classés B de Saint-Emilion Château Angélus e Château Pavie. Todos 2005.

Noves fora a juventude dos vinhos, ainda bebês, o nível da prova foi espetacular. O que comprova a excelência da safra. Não foi conferida nenhum tipo de pontuação aos vinhos. Mas, revelados os rótulos, vieram algumas confirmações. O Château Pavie mostrou toda a sua intensidade aromática. Embora careça um pouco de elegância, é um grande vinho. O Angélus, preferido da maioria, esbanjou estrutura e finesse. O Ducru-Beaucaillou mostrou o equilíbrio de sempre. Os dois vinhos de Pauillac, potentes e robustos, demoraram mais tempo para abrir, em especial o Pontet-Canet. E os dois de St-Estèphe estavam impecáveis. Vale lembrar que todos os vinhos foram decantados por uma hora e quarenta antes de serem servidos. Se a safra é a melhor de todos os tempos, eu, pelo menos, não sou capaz de afirmar com certeza. Mas que todos estes vinhos degustados entrarão no hall dos grandes da história, disso não resta a menor dúvida.

Mas os felizardos presentes à degustação ainda tiveram outras surpresas. Após a prova, veio o jantar. E com a comida sempre ótima do Fasano, mais quatro grandes vinhos. Para começar, o polêmico Château Pavie 1995. Robert Parker deu míseros 78 pontos ao vinho. De fato, o vinho está a léguas de ser um grande tinto. Falta equilíbrio, sobra acidez. Mas talvez a nota seja baixa demais. De qualquer modo, valeu pela polêmica.

Depois não houve mais nenhum questionamento, apenas celebração. O vinho seguinte foi o Château Cos d'Estournel 1996. Um assombro. Perfeito equilíbrio entre álcool, acidez e taninos, um vinho sutil e elegante, como tem que ser um grande bordeaux. Quando ninguém mais poderia imaginar que a coisa ainda podia melhorar, chegou o grande nome da noite: o Château Léoville Las Cases 1978. Para beber de joelhos, batendo palma.

O gran finale ficou por conta do alsaciano Seilly Schenkenberg Sélection Grains Nobles 1989, um vinho de sobremesa imponente, com perfeita combinação de açúcar e acidez e aromas de damasco seco e mel.
 
Vinhos degustados
Vinho da semana
Seghesio Sonoma Zinfandel 2006
Sonoma County, Estados Unidos
A Zinfandel é uma casta bastante interessante, e pouco explorada comercialmente no Brasil. São poucas as boas opções de vinhos feitos com esta uva no mercado. Este é um deles. Nariz repleto de frutas maduras (cereja, ameixa, amora) e especiarias. Na boca, é macio, sedoso, com boa acidez e um final longo e envolvente. Bom com frango marinado.
Nota: 8,5
Preço: US$ 59,90
Onde: Mistral (2274-4562)

Barato Bom
D'Arenberg The Stump Jump Red 2005
Mc Laren Valley, Austrália
Bom vinho em promoção. Baixou de mais de R$ 60 para menos de R$ 50. Corte de grenache (50%), shiraz (26%) e mourvèdre (24%), de grande intensidade aromática, com notas de amora madura, canela e aroeira. Na boca, alia vigor e maciez, com bom frescor, taninos doces e bom final. Perfeito com churrasco.
Nota: 8,5
Preço: R$ 49,50
Onde: Zahil (3860-1701)

Para guardar
La Nieta 2005
Rioja, Espanha
Cada vez mais a Espanha apresenta vinhos espetaculares de preços estratosféricos que colecionam notas igualmente altas mundo afora. Este é mais um deles. Feito com a tempranillo de um vinhedo único de apenas 1,7 hectares, é um portento. Expressivo no nariz, com notas de café, chocolate, caramelo e baunilha. Na boca, é um tiro. Potente, maduro, quase mastigável, gordo, longo, com um retrogosto de fruta madura e chocolate. Tem um longo caminho pela frente. Se a opção for beber logo, decante. Pelo menos, por uma hora.
Nota: 9,5
Preço: R$ 993
Onde: Península (2529-8983)
Comentários
Eugênio Oliveira
Enófilo
Brasília
DF
12/10/2009 Caro Lalas,

Você não acha um sacrilégio abrir esses grandes vinhos de Bordeaux, da safra 2005, hoje? São vinhos que chegaram ao mercado ano passado, e talvez estejam com apenas 5% do seu potencial desenvolvido. Essas altas notas para safra 2005 podem levar à decepção ou ilusão, já que elas são dadas levando-se em conta o potencial de envelhecimento dos mesmos, e não o prazer que eles proporcionam no momento atual. Provavelmente o Château Léoville Las Cases 1978 e o Château Léoville Las Cases 1978, apesar de serem de safras consideradas inferiores a 2005, estavam mais prazerosos que os Bordeaux 2005.

Claro que se me convidassem para degustar Petrus, Le Pin, Cheval Blanc ou qualquer outro Bordeaux 2005 eu iria sorrindo, mas se fosse eu que tivesse comprado uma dessas garrafas, pode estar certo que só as abriria em 15 a 20 anos.

Um abraço.
Eugênio
www.decantandoavida.com.br
Ronaldo Esteves Borgerth
ABS
Rio de Janeiro
RJ
12/10/2009 Opa, vou comprar 1 caixa do La Nieta 2005!
Valdiney C. Ferreira
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
13/10/2009 Caro Lalas,

Sacrilégio! Para cometer um infanticídio destes só mesmo no 0800! Mas, como foi o Léoville Las Cases 78 no detalhe? Degustei 2 garrafas em setembro e foi uma frustação enorme. As duas "já eram". Completamente decrépitas! Sem alma, sem corpo. Viajaram para o Brasil em 2001 e estavam adegados todo o tempo.

Com base nas suas informações vou procurar esta safra aqui em Paris e fazer uma experiência. Tem um Baccus próximo de onde estou e vou ver se consigo. O cara é fanático por Bordeaux e tem raridades que só dependem de um bom caixa para encarar.

Abcs
Alexandre Lalas
EnoEventos
Rio de Janeiro
RJ
30/10/2009 Amigos Eugênio e Valdiney

De fato, os vinhos ainda estão longe de terem atingido o melhor do potencial que têm. Mesmo decantados por quase duas horas, ainda estavam um tanto duros. Mas a intenção da prova era justamente analisar as possibilidades destes vinhos. Conferir se eles realmente têm esta estrutura toda que permite esperar que dali saiam vinhos espetaculares. E neste aspecto, a prova foi reveladora. São todos, sem exceção, grandes tintos.

Amigo Ronaldo

Uma caixa de La Nieta?!?! Tás podendo!!! Me chama pra tomar pelo menos uma garrafinha com o amigo...

Abraços
Alexandre Lalas
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]