"LF""LF""LF""LF""LF"
Matérias relacionadas
Colunistas
 
A petit verdot é a enfant terrible das uvas. É pequenina e casca grossa. Literalmente. Robusta e carregada de taninos, empresta estrutura e cor aos vinhos quando é usada em cortes com outras castas. Francesa de nascimento, é bem comum em Margaux, onde os tintos, mais leves por natureza, pedem um pouco de tanino e cor. Em alguns anos, o grande Château Margaux, um dos melhores vinhos do mundo, chega a ter 6% de petit verdot na composição. Mas, como santo de casa não faz milagre, na França a casta tem apenas status de coadjuvante. Culpa do clima. O amadurecimento da uva é lento, acontece depois inclusive da tardia cabernet-sauvignon, o que inviabiliza o plantio da cepa em climas mais frios. Para complicar ainda mais, a petit verdot gosta e precisa da luz do sol para atingir a sua maturação ideal. Mas odeia calor exagerado.

Mesmo assim, nos últimos anos a cepa tem ensaiado uma subida ao estrelato. Lugares como Austrália, Espanha, Estados Unidos, Portugal, Chile, Itália, África do Sul, Bulgária, Uruguai e Argentina têm apostado, com sucesso, na casta. E vinhos feitos com a uva são cada vez mais comuns nos catálogos das importadoras brasileiras. Por esta razão, a enfant terrible foi o tema da degustação de outubro da Confraria dos Nove. A prova foi realizada na semana passada, no restaurante Terzetto, em Ipanema.

Doze vinhos, de sete diferentes países, foram provados às cegas. Participaram da degustação os professores da ABS/RJ Fernando Miranda e Ricardo Farias; o presidente da SBAV/RJ Paulo Gomes; os sommeliers João Souza, Alexandre Neo e Manu Brandão; a sommelière Elaine Oliveira; a crítica de gastronomia Luciana Plaas; os importadores Duda Zagari, Guilherme Martins e João Luís Manso; e o colunista.

O nível da prova foi excelente. Nove entre os onze vinhos pontuados conseguiram média superior a oito. Uma amostra foi eliminada por apresentar defeito e ficou de fora da disputa. Participaram da degustação os seguintes vinhos, na ordem de serviço: Château Ducos Petit Verdot 2006 (Brasil), Santa Carolina Barrica Selection Petit Verdot 2007 (Chile), Ruca Malén Petit Verdot 2007 (Argentina), Landelia Petit Verdot 2005 (Argentina), Casa Silva Gran Reserva Petit Verdot 2006 (Chile), Finca Coronado Petit Verdot 2004 (Espanha), De Bortoli Vat 4 Petit Verdot 2006 (Austrália), Von Siebenthal Toknar 2005 (Chile), Viña Alicia Cuarzo 2005 (Argentina), Pisano RPF Petit Verdot 2007 (Uruguai) e Diga? 2006 (Portugal).

O resultado mostrou que, apesar de se dar muito bem no Novo Mundo, é no Velho mesmo que a petit verdot sente-se em casa. Em primeiro lugar o espanhol Finca Coronado Petit Verdot 2004, seguido de perto pelo português Diga? 2006. Mas a diferença entre os cinco primeiros colocados foi muito pequena. Abaixo, a classificação final:

 
Vinhos degustados
Vinho da semana
Finca Coronado Petit Verdot 2004
Viño de la Tierra de Castilla, Espanha
O grande vencedor da degustação às cegas de petit verdot promovida pela Confraria dos Nove é um vinhaço. Intenso no nariz, com notas de frutas maduras (amora, cereja, framboesa), violeta, eucalipto, especiarias e torrefação. Na boca, é vigoroso, carnudo, cheio de estrutura e taninos, equilibrado, fresco e com um final longo de frutas. Carne vermelha nele!
Nota: 9,5
Preço: R$ 326
Onde: Península, 2529-8983

Barato Bom
Salton Virtude Chardonnay 2008
Bento Gonçalves, Brasil
Depois do estrondoso sucesso do Lote I da Villa Francioni, muitas vinícolas nacionais resolveram apostar na chardonnay. Algumas quebraram a cara, mas outras conseguiram resultados acima do razoável. Este é mais um da boa leva de brancos feitos com a casta no Brasil. No nariz, um pouco mais de madeira do que o necessário e muitas notas de manteiga, pipoca, coco, baunilha e um melão lá atrás, escondido. Na boca, melhora e mostra uma acidez correta, boa estrutura e um final largo e agradável. Pede comida e combina com frutos do mar e massas com molho branco. É a primeira safra deste vinho e isso é algo a considerar. A tendência é que safras futuras deem resultados ainda melhores.
Nota: 8
Preço: R$ 49,90
Onde: Salton (7821-9502)

Para guardar
Santa Carolina Barrica Selection Petit Verdot 2007
Vale do Rapel, Chile
Grande surpresa da prova às cegas de petit verdot organizada pela Confraria dos Nove, na semana passada, no restaurante Terzetto, em Ipanema. Intenso aromaticamente, com notas de cereja, amoras, mirtilo, figo, tabaco e chocolate. Na boca, é potente, robusto, com taninos presentes e de qualidade, de boa estrutura, acidez bem marcada, longo. Ainda um tanto rústico, tem tudo para melhorar com o tempo. Perfeito com costela, cordeiro, ojo de bife e outras carnes vermelhas.
Nota: 9,5
Preço: R$ 61,20
Onde: Casa Flora, 2224-0826
Comentários
Eugênio Oliveira
Enófilo
Brasília
DF
19/10/2009 Caro Lalas, tenho curiosidade sobre o Toknar da Von Siebenthal, o que você me diz, como é esse vinho?

Quanto ao Salton Virtude, muito se falou dele, mas particularmente prefiro o Cordilheira de Santana Chardonnay, o Luiz Argenta Chardonnay e Villa Francioni, a ele.
Fernando Sequeira de Matos
Aposentado de vinhos e enófilo
Mealhada
Bairrada
Portugal
19/10/2009 Caríssimo Lalas

A este fim da Europa que se chama Portugal chegaram todos os povos do Norte da Europa e do proximo Oriente. Uma das tribos nomadas trouxe tudo o que tinha, era Francesa e com ela veio o Petit Verdot. Há 20 seculos? talvez...

E caso que não é unico, esta casta melhorou aproveitando um clima com mais sol e mais ameno e menos chuva e frio. È uma casta pouco plantada mas que terá futuro pois ocupará as castas que por cá não tem clima propicio e que estão a ser arrancadas, castas do norte da Europa, do Mosel como a riesling. Na Bairrada, conheço 3 produtores mas no Ribatejo há já bons plantios de Petit Verdot. Será bom para o preço baixar um pouco.

Espero continuar a ler os seus artigos que elevam com certeza o nivel do conhecimento vinicola dos brasileiros. Continue nessa cruzada, está a prestar um serviço ao seu país.

A minha Bairrada com o Campolargo lá teve um 2º lugar, estamos em todos os campeonatos, parecemos a canarinha ou ganha ou fica por perto.

UM ABRAÇO
FSM
Fernando Sequeira de Matos
Aposentado de vinhos e enófilo
Mealhada
Bairrada
Portugal
25/10/2009 Caro Lalas

Os seus comentários acabam por serem de boa leitura, mas por vezes obrigam-nos a ir na busca da sua leitura na real. Procurei, achei, e bebi o Petit Verdot.

Sem ser um casta nobre, é boa e vai apetecer bebê-lo mais vezes. Obrigado.

Fernando
Alexandre Lalas
EnoEventos
Rio de Janeiro
RJ
30/10/2009 Grande Eugênio

Gosto muito do Toknar. É um vinho de personalidade, que esbanja estrutura, corpo, com taninos ainda um tanto duros, mas de alta qualidade. E um final com uma ligeira e agradável sensação de doçura. É caro, mas vale a pena.

E Grande Fernando,

Estive em Portugal, em Beja, para a ViniPax. Uma feira de vinhos do sul. Gostei de muita coisa que provei por lá e ainda não conhecia, como os vinhos da Herdade de Portocarro, Fita Preta e Quinta do Francês.

E eu é que agradeço os seus comentários, sempre precisos.

Abraços a todos
Alexandre Lalas
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]