"LF""LF""LF""LF""LF"
Matérias relacionadas
Colunistas
 
Vinho e azeite guardam diversas semelhanças históricas, geográficas e culturais. São elementos importantes da civilização, da integração e do comércio entre os povos. E, assim como o vinho, o azeite guarda interessantes particularidades na produção.

O azeite vem da azeitona, fruto da oliveira, árvore mediterrânea cuja história se confunde com a da humanidade. Foi no Monte das Oliveiras que Jesus recebeu o beijo de Judas. Para a produção do azeite, a azeitona é colhida após o verão, durante todo o outono e o inverno. Depois de colhido, o fruto é levado a um lagar, onde é esmagado para a extração do azeite, que passa por uma análise química e organoléptica e é classificado.

O processo de colheita da azeitona é bem diferente do da uva. Enquanto na uva busca-se a maturação ideal, a azeitona é colhida em diferentes estágios. Depende principalmente do caráter que se quer para o azeite. O grande indicador é a cor do fruto, que passa do verde ao violáceo até chegar ao roxo-escuro e ao negro. Durante a mudança de cor, o azeite vai se formando na polpa da azeitona. E o grau de maturação do fruto é um dos fatores determinante no sabor do azeite.

Outro fator, e o mais importante, é a variedade da azeitona. Em Portugal, as mais comuns são a galega, a carrasquenha, a cordovil, a cobrançosa e a verdeal. Na Espanha, destacam-se a empeltre, a sevillano, a picual, a santa emiliana e a arbequina. Na Itália, a cerasuola, a leccino, a frantoio, e a coratina, entre outras. Na Grécia, a korinenke e a arbusana. E por aí vai.

Além dos países mediterrâneos, Chile, Argentina, Estados Unidos, África do Sul e Austrália também produzem azeite. Mas, ao contrário do que acontece na Europa, onde se procura aliar as melhores características de cada variedade em um blend, no Novo Mundo, muito por conta da influência da cultura do vinho, se dá importância à variedade e se produz mais azeites de um tipo de azeitona apenas, os monovarietais. Na Europa não é assim. No Velho Continente, busca-se complexidade. O que é conseguido através do blend de diferentes tipos de variedade e mesmo de distintos estágios de maturação da azeitona.

O azeite é analisado e classificado de acordo com parâmetros químicos, como grau de acidez, estado de oxigenação e componentes anormais, e também por conta do cheiro e do sabor. A qualidade é influenciada pela variedade da azeitona, pela combinação de clima e solo, pelo manejo no campo e pelos procedimentos adotados após a colheita da azeitona. Quanto mais rápido o azeite for extraído depois da colheita do fruto, melhor. E, no lagar, higiene é fundamental. A azeitona oxida muito depressa, além de ser de fácil contaminação.

Existem três tipos de azeite: extra-virgem, virgem e azeite de oliva. O extra-virgem tem acidez igual ou inferior a 0,8%. O virgem tem acidez igual ou inferior a 2%. E o azeite de oliva é uma mistura de azeite refinado com azeite extra-virgem ou virgem. Para cozinhar, o ideal é usar o azeite de oliva, já que, quando levado à altas temperaturas, o extra-virgem perde as características organolépticas que fazem a diferença entre ele e o azeite comum. O azeite pode ter aromas mais ou menos frutados, e pode ser mais picante ou amargo dependendo da variedade e da época em que a azeitona foi colhida. Quanto mais tarde, mais amarelo para dourado fica a cor do azeite e mais doces os sabores. Quanto mais cedo for a colheita, mais esverdeado na cor, frutado no nariz e amargo e picante na boca fica o azeite.

Em geral, quanto menor a acidez, melhor o azeite. No rótulo, costuma vir sinalizada a acidez máxima que terá ao longo de sua vida útil. Ao contrário do vinho, o azeite só faz piorar com o tempo. Portanto, guardá-lo não serve para nada.
 
Comentários
Simey Santos
Enótria Vinhos
Vitória
ES
04/11/2009 Excelente matéria! Eu sou apaixonado por azeite, foi muito interessante ver as dicas!

Parabens!
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo
Mealhada
Bairrada
Portugal
08/11/2009 Caro Lalas

O meu avô mineiro era mais azeiteiro que vinhateiro.

Nos anos 40, durante a guerra, o azeite era um produto de subsistência, todos o cultivavam e levavam ao lagar por não ter lagar próprio. O lagar era do meu avô e para além da sua produção própria, produzia o azeite de toda a gente das redondezas.

E para além do que recebia em pagamento (sempre extra- virgem, pois era sempre a primeira lagarada para o patrão), ainda comprava as sobras. O principal negócio era pois o azeite já que no vinho todo o mundo o fazia na sua adega.

Hoje a Oliveira está no mundo todo na Autralia, na Califórnia e no Brasil.

No Brasil, os estudos no terreno começaram em 1986 em Minas. A 1ª lagarada foi feita em 29 de Fevereiro de 2008. O extra-vigem teve uma grau de acido oleico entre 0,3 e 0,7.

Pode ser considerado já um bom azeite. O tipo de Oliveira que melhor se adaptou é com certeza a que foi plantada e temos um olival jovem e monotipo. Não vamos ter um azeite com as variedades de sabores e aromas que uma oliveira com um século, mas já só faltam 80 anos (A oliveira da entrada da casa do tio Ernesto, dizem os entendidos, que tem 20 séculos).

Agora que já disse bem da terra do meu avô, queria dizer-lhe que:

  • Azeite extra-virgem é o da primeira lagarada
  • Azeite Virgem é o da segunda lagarada
  • Azeite refinado é o que se faz com as azeitonas tocadas e com refinação de caroços e adições de sabores.

    A acidez depende da qualidade da azeitona e da sua maturação. O melhor azeite é aquele em que a azeitona é escolhida, são retiradas as que no varejo foram danificadas e a azeitona entra no lagar no mesmo dia da colheita. E assim temos acido oleico de 0%.

    Se houver menos cuidado na primeira lagarada e se a colheita não leva em linha de conta a maturação temos 0,05%. A segunda lagarada passará sempre de 1%, máximo de 1,5%.

    A partir daqui já não são azeites e um bom oleo de girassol para culinária já é melhor que a 3º lagarada.

    A legislação já está a apertar e já temos denominação de Origem nos Azeites e um controle muito grande.

    um abraço
    Fernando
  • Emerson Muniz
    Lisboa
    Portugal
    13/11/2009 Caro Fernando Sequeira de Matos

    Lamento informar, mas uma parte do seu comentário não esta correcto.

    A acidez do Azeite é determinada pelo tempo que se leva da colheita da azeitona até o inicio do seu processamento no lagar. Quanto mais breve seja este tempo, menos ácido será o azeite. Em cada lote, uma amostra é retirada e levada para laboratório para analisar, entre outros, o grau de acidez.

    Já agora acrescento que não existe um grau de acidez ideal; para determinados pratos, como certos peixes, o grau de acidez é um; para saladas, é outro. E acrescento que o limite, pelo menos cá em Portugal entre o Extra Virgem e o Virgem é 0,9º.

    Melhores Cumprimentos.
    Fernando Sequeira de Matos
    Enófilo
    Mealhada
    Bairrada
    Portugal
    13/11/2009 Bom dia, caro Emerson Muniz

    Não deve ter lido bem ou eu me expressei mal.

    Parece que digo que a azeitona deve entrar no lagar no mesmo dia da colheita. Mas só isso não é o suficiente e por isso aponto outros motivos não menos importantes.

    Agora com 65 anos já não apanho azeitona, estou retirado, mas fiz muito azeite no lagar do meu avô.

    Fernando
    Liandro Silva
    Gourmet
    Niterói
    RJ
    26/11/2009 Gostaria de parabenizar a belissíma matéria sobre azeites, muito bom caro Alexandre, e aos outros profissionais que comentaram essa reportagem. Só quem ganha somos nós meros espectadores e apreciadores da boa arte culinária.
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]