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Gente mais capacitada do que eu já escreveu por aí que a globalização é um fenômeno que não afeta apenas a economia. No mundo dos vinhos, está cada vez mais complicado diferenciar as coisas. Vinhos com DNA europeu feitos no Chile ou na Austrália são tão comuns quanto os produzidos no Velho Mundo, mas que seriam facilmente confundidos com um argentino ou um californiano. Muito pela disseminação de uvas como chardonnay, cabernet-sauvignon, syrah e sauvignon blanc, entre outras. E também pela evolução das técnicas de enologia, disponíveis em todos os países produtores.

Mas há as exceções. Os românticos, defensores da tradição. Os que valorizam as castas autóctones, que têm coragem de buscar um posicionamento diferente no mercado. Os que buscam uma identidade local. Entre eles está o engenheiro alentejano Paulo Laureano. Dono de um bigode de fazer inveja a todo o clã dos Sarney, Paulo, um dos grandes enólogos de Portugal, é um apaixonado pelas uvas portuguesas. Em rápida visita ao Rio de Janeiro, o engenheiro conversou com o colunista sobre uvas portuguesas, crise global, vinho brasileiro e contou os motivos que o levaram a diminuir drasticamente o número de vinícolas as quais prestava consultoria.
 
Alexandre Lalas Paulo Laureano
Na Paulo Laureano Vinus, o Sr decidiu trabalhar apenas com castas portuguesas. Acho ótimo que o Sr pense assim, mas quais foram os motivos que o levaram a tomar esta decisão? Acho que temos muitas castas boas e temos o dever de explorá-las. Acredito nas cores, nos aromas, nas características das uvas portuguesas. É uma forma de nos diferenciarmos do resto do mundo e fazermos um vinho que exprima o caráter das nossas terras, das nossas uvas e da nossa gente.

Além do mais, temos grandes castas, e muitas vezes os próprios portugueses não dão o devido valor a elas. No Alentejo, a alicante bouschet e a trincadeira, por exemplo, são fantásticas. No Dão e no Douro, a touriga-nacional é espetacular. E por aí vai. Agora estou fazendo dois vinhos com uma casta que estava praticamente extinta, a tinta grossa, um varietal e outro de corte. É uma casta com aromas bastante exóticos, uma acidez generosa e uma bela cor. Para usar em cortes, é especial.
O Sr. já chegou a trabalhar como consultor em quase 30 vinícolas. Agora, diminuiu drasticamente este número e está apenas com seis. Qual o motivo desta decisão? Em primeiro lugar, o crescimento da minha própria vinícola, a Paulo Laureano Vinus, que hoje em dia consome muito do meu tempo. E também o fato de preferir trabalhar com apenas alguns produtores com o qual houvesse uma identificação maior.
Depois de anos de investimento maciço, 2009 foi difícil para a indústria do vinho no Alentejo. A crise bateu forte no setor e algumas casas chegaram a fechar as portas. O Sr atribui este fato apenas à recessão mundial ou enxerga outros motivos? De fato, quando empresas chegam ao ponto de encerrarem as atividades é porque a coisa não está fácil. É obvio que a crise global é fator determinante, mas não é o único. Quando houve o boom do vinho no Alentejo, muita gente que não tinha nenhuma experiência no ramo resolveu comprar vinícolas. Gente de mercado financeiro, acostumada ao lucro rápido. Mas plantar uvas e fazer vinho não é exatamente a mesma coisa que especular. E quem veio com o pensamento do retorno financeiro imediato quebrou a cara.
O Sr vem sempre ao Brasil e há bastante tempo. O que nota de diferente no consumidor daqui em relação às primeiras visitas que fez ao país? Em primeiro lugar, o serviço do vinho no Brasil é excepcional. Melhor do que em Portugal. Taças e temperatura corretas, garçons e sommelier preparados. E um consumidor curioso, estudioso, que tem o privilégio de poder provar vinhos de todas as partes do mundo.
E quanto ao vinho brasileiro, dá pra falarmos de evolução da qualidade? Sem a menor sombra de dúvida. O vinho brasileiro melhora a cada ano. Os espumantes estão em excelente nível. Provei brancos bastante interessantes também. E mesmo os tintos estão bem feitos. Só não sei até onde os vinhos tintos feitos no Brasil podem chegar, mas isso por causa do clima e dos solos que têm por aqui.
Vinhos degustados

Vinho da semana
Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2006
Alentejo, Portugal
Esta casta quase extinta é a mais nova aposta do enólogo Paulo Laureano. E este vinho feito com a uva explica e muito os motivos. Bastante aromático, com notas de menta, amêndoa amarga e evolução para chocolate, muito fresco, sedoso, com bom volume na boca e um final irrepreensível. Um vinho com muito caráter e ineditismo, que faz valer a pena experimentar coisas diferentes.
Nota: 9,5
Preço: R$ 146
Onde: Adega Alentejana (2286-8838)

Barato Bom
Paulo Laureano Premium Branco 2007
Alentejo, Portugal
Branco bastante fresco e agradável feito por este craque do vinho português. Corte de arinto (60%) e antão vaz (40%), em que apenas a segunda uva tem passagem por madeira. No nariz, frutas tropicais, um leve toque herbáceo e notas florais. É daqueles vinhos em que a garrafa vai embora rapidinho, sem que ninguém perceba.
Nota: 8,5
Preço: R$ 40
Onde: Adega Alentejana (2286-8838)

Para guardar
Paulo Laureano Reserve Vinea Julieta Talhão 24 Tinto 2006
Alentejo, Portugal
O nome do vinho é comprido, mas explica-se. Julieta é o nome da mãe de Paulo Laureano. Talhão 24 é a parcela do vinhedo onde estão as uvas usadas neste tinto: tinta grossa, alfrocheiro e alicante bouschet. E o vinho é superlativo. Rico aromaticamente, com notas de amêndoas, balsâmico, tabaco, menta, alcaçuz, chocolate. Na boca é volumoso, com taninos finos, elegante até dizer chega, com final longo e que impressiona. Tem tudo para ficar ainda melhor com alguns anos na garrafa.
Nota: 9,5
Preço: 237
Onde: Adega Alentejana (2286-8838)
Comentários
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo
Mealhada
Bairrada
Portugal
09/11/2009 Bom dia, caro Lalas

Estou mais descansado, afinal a opinião do distinto enólogo bate certo com o que tenho dito aqui.

Penso que brevemente vamos ter a Caledoc em varietal e em cortes. O seu entrevistado não abriu o livro mas esta casta é uma das que ninguém conhece e vai dar uma coisa boa.

Um abraço
Fernando
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]