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Quanto vale um vinho? No próximo dia 17 de fevereiro, a inglesa Sotheby's vai leiloar quatro lotes, de doze garrafas cada, do Château Haut-Brion 1989, um dos melhores vinhos do mundo em uma safra excepcional. O lance mínimo por lote é de 8,2 mil euros. Um pouco mais de R$ 21 mil. Mas a expectativa é de que cada lote seja vendido por, no mínimo, 10 mil euros. Ou R$ 26 mil. O que dá pouco mais de R$ 2 mil por garrafa. Isso lá. Um brasileiro que porventura queira comprar o lote, ainda paga o imposto de nacionalização. O mesmo site anuncia duas garrafas magnum (de 1,5 litros) do mítico Romanée-Conti 1990. O lance mínimo é de 30 mil euros! Ou R$ 78 mil. Mas a expectativa é de que o comprador pague a bagatela de 48 mil euros pelo lote. Quase R$ 120 mil! Fica a pergunta: uma garrafa de vinho vale tanto dinheiro?

Para colecionadores ávidos por raridades, vale. Estes sujeitos endinheirados, muito mais do que um investimento, buscam o prazer de ter algo que ninguém tem. Muitas vezes, sequer chegam a abrir os rótulos mais raros, que exibem para amigos como verdadeiros troféus. Mas para o consumidor normal de vinho, que não dispõe de tanto dinheiro na conta bancária, gastar fortunas em uma garrafa é um desperdício.

O custo da produção de um vinho, por mais caro que ele venha a custar na gôndola, passa longe dos valores pagos por rótulos tops como Pétrus, Mouton-Rothschild, Latour, Romanée-Conti, Ausone, Haut-Brion, Margaux, entre outros. O que faz com que as garrafas custem rios de dinheiro é a especulação. A safra de 2005 de Bordeaux, tida e havida como a melhor dos últimos tempos, levou os preços dos vinhos mais renomados da região às alturas. E, mesmo assim, consumidores ansiosos por comprarem o que, supostamente, havia de melhor no mundo do vinho, esgotaram os estoques das vinícolas mais disputadas. Quando um crítico como Robert Parker pontua um vinho com mais de 95 pontos, a demanda por uma garrafa aumenta loucamente. O preço pega um elevador à estratosfera.

A qualidade dos grandes vinhos mais caros do planeta é indiscutível. São, de fato, obras de arte para os amantes da bebida. Mas, ainda que mereçam ser tratados desta forma, não são mais do que bebidas fermentadas de uva. Ao contrário de grandes quadros, perecem com o tempo. São feitos para serem bebidos, e não guardados por toda a vida.

Em maio do ano passado, no Rio de Janeiro, um empresário promoveu uma degustação com todas as safras do Barca Velha, ícone do vinho português. A safra de 2000, disponível no mercado brasileiro, custa R$ 890. Uma garrafa da safra 1957, a primeira do Barca Velha, não tem preço. Para que se tenha uma noção do ineditismo da coisa, o enólogo Luis de Sottomayor, que faz o Barca Velha hoje em dia, veio ao Brasil especialmente para a prova. E, pela primeira vez em sua vida, pôde experimentar o vinho da safra de 1957. Quanto vale esta experiência? Depende da vontade - e do bolso - de cada um.
 
Comentários
Mauro Raja Gabaglia
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
07/02/2010 Alexandre, além desses fatos citados por você, infelizmente, os Fundos de Investimentos em vinhos, que surgiram nos EUA e na Europa, ajudam a manter os preços inflados, principalmente os grandes Bordeaux, com características de guarda, comprados geralmente "en primeur". Esses vinhos são armazenados por um longo tempo, até a venda para realização de lucros. E quem paga, ou não, a conta, somos nós, enófilos, que ficamos privados do principal prazer que os vinhos proporcionam: Bebê-los.
Tito Villar
Médico
Juiz de Fora
MG
08/02/2010 Caro Alexandre:

Como você disse, os custos de produção de um bom vinho são parecidos. Um dos maiores empresários brasiléiros na área de mineração e petróleo conhecido de todos, afirmou: pagar uma garrafa de vinho acima de R$300,00 reais é desperdício de dinheiro. Estou com ele, em viagens se monta uma boa adega com o tempo.

Como bom mineiro, em homenagem a sua coluna (..e outras cachaças), vai uma dica da terrinha. A cachaça Coluninha, da pequena cidade de Coluna, graduação 40gr, leve, destilada duas vezes, registrada na AMPAC, numerada, orgânica como está na moda, passando por cinco tonéis (Amburana, Ipê, Jequitibá, Castanheira do Pará e Carvalho), uma fortuna de R$ 25,00 reais. Acho que nós brasileiros temos que valorizar mais os nossos produtos(vinhos, espumantes e outras cachaças).

Parabéns pela matéria.
Abçs
Paulo Henrique Martins
Enófilo
São Paulo
SP
10/02/2010 Prezado Alexandre,

Matéria perfeita! Quando falamos de vinhos ícones, seja um Bordeaux, Borgonha, Barca Velha, etc, o que está em jogo não é o custo de produção e sim a disposição do mercado em pagar o preço solicitado. Assim como se paga Petrus (que nem Bordeaux é) a R$ 20/30 mil para que fiquem como troféus, tem quem compre Ferraris, Bugattis, por mais de um milhão de reais, para deixá-las nas garagens...
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
25/02/2010 Caro Lalas,

Você poderia nos informar por quanto foram arrematados êstes lotes? E se possível seus destinos?

Abs,
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