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No Chile, em uma tarde quente de junho do ano passado, doze pequenos vinhateiros, apaixonados pelo bom vinho, resolveram dar um basta, um grito de independência. Em uma indústria cada vez mais impessoal, dominada pela tecnologia e refém das leis de mercado, onde grandes conglomerados dividiam o espaço com endinheirados investidores, verdadeiros mecenas do vinho, este pequeno grupo de idealistas decidiu que era hora de fazer barulho. Uniram as forças, arregaçaram as mangas e assim nasceu o MOVI (Movimento de Vinhateiros Independentes).

O MOVI é, de longe, a melhor notícia que aconteceu no panorama vinícola chileno nos últimos tempos. Mal nasceu, já cresceu, encorpou. À dúzia que criou o movimento, se juntaram outras quatro vinícolas. Em comum a elas, o compromisso com a independência e a busca por vinhos que reflitam o caráter e a identidade da terra e do local de onde vêm.

E ainda há outros compromissos que os sócios do MOVI precisam cumprir. Não pertencer ou manter laços com investidores ou poderosos grupos econômicos é uma condição primordial para a vinícola interessada em ingressar no movimento. Ter produção pequena e necessariamente voltada para a qualidade é outro ponto importante. E quanto mais pessoal e humano for o vinho, melhor.

Fazem parte do MOVI as seguintes vinícolas:

  • Bravado Wines
  • Clos Andino
  • Flaherty
  • Garage Wine Co.
  • Gillmore
  • Hereu
  • I Latina
  • Meli
  • Polkura
  • Reserva de Caliboro
  • Rukumilla
  • Sigla
  • Starry Night
  • Tipaume
  • Trabun
  • Von Siebenthal.

    O casal Constanza Schwaderer e Felipe García, pais do tinto Facundo e do branco Marina, eleito pelo Guia de Vinhos do Chile como o melhor sauvignon blanc do país no ano passado, pilotam a Bravado Wines.

    Outra estrela da companhia é a Von Siebenthal. Dona de um portfólio invejável, é considerada por muita gente (eu, inclusive) a melhor vinícola chilena da atualidade.

    A Reserva de Caliboro, do conde italiano Francesco Marone Cinzano, produz apenas um vinho, o Erasmo, tinto de corte, feito no Vale do Maule e um dos mais elegantes vinhos do país.

    A Polkura produz poucas garrafas de um syrah de qualidade feito em Marchigüe, no vale do Colchágua.

    Ed Flaherty é enólogo da Viña Tarapacá e um dos principais responsáveis pelo salto de qualidade que a vinícola deu nos últimos anos. Em paralelo, toca um projeto pessoal, junto com a esposa, Jen Hoover: a Flaherty Wines. O vinho, um corte de syrah e cabernet-sauvignon, é um espetáculo.

    Sigla é um projeto dos enólogos Cecilia Guzmán (Haras de Pirque), Germán Lyon (Perez Cruz), José Pablo Martin (Tamaya) e o francês Pierre Viala. O vinho é um belo cabernet/syrah do Alto Maipo.

    A Rukumilla é uma vinícola orgânica do vale do Maipo, pertencente a Andres Costa. Apenas um vinho é produzido, outro corte de cabernet/syrah, de excelente qualidade.

    Francês de Cognac, Jose Luis Martin-Bouquillard passou cerca de 15 anos na gigante Pernod-Ricard e quatro na LVMH, mais precisamente na Veuve-Cliquot. No Chile, dirige com outros cinco amigos a Clos Andino, vinha de Curicó, especializada em cabernet-sauvignon.

    A Garage Wine Co. e um projeto franco-canadense, cujas uvas provém do Alto Maipo, de Casablanca ou do Aconcágua, dependendo do que os enólogos pretendem. Os vinhos são bons e difíceis de encontrar, mesmo no Chile.

    A Gillmore é uma vinícola do vale do Maule, colecionadora de prêmios. O Hacedor de Mundos, corte de cabernet franc, cabernet-sauvignon e merlot, é assombroso.

    Hereu é um corte de syrah, malbec e carignan, de três diferentes vales chilenos. O dono da vinícola é o francês Arnaud Hereu, que também é enólogo da Odjfell.

    Irene Paiva, enóloga da San Pedro, é uma das sócias do I Latina, que faz um bom syrah no vale do Cachapoal.

    Os vinhos da Meli, Starry Night, Tipaume e Trabun eu ainda não tive a chance de provar. Mas, em se tratando de sócios do MOVI, singulares eles com certeza devem ser.
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    Comentários
    Marcelo Carneiro
    Advogado e enófilo
    Resende
    RJ
    21/02/2010 Os vinhos da Gillmore são fantásticos. Não são baratos, claro, mas são compatíveis com a faixa de preço. Vale o gasto.
    Eder Heck
    Sommelier Mr. Lam
    Rio de Janeiro
    RJ
    21/02/2010 Lalas,

    É incrivel como a impessoalidade tomou conta das vinicolas mundo a fora, no Chile então nem se fala. Sabemos que é um negócio e como tal necessita administração séria e profissional, mas estamos entregues de uma maneira geral aos marqueteiros de carterinha. fazem vinhos pensando nos pontos das revistas, em notas altas do americano que gosta de madeira.

    Fico muito feliz que vc esteja noticiando o MOVI. Estive no Chile em janeiro e ouvi falar deles, foi o próprio Ed Flaherty quem me contou, trabalho com o vinho dele e compartilho de sua opinião, é muito bom. Abs
    Rodrigo Britto
    Enófilo
    Sampa
    SP
    21/02/2010 Estive no Chile há pouco, mas não vi nada deste movimento. Mas, parabéns! Os grandes estão se tornando cada vez mais marketeiros - as visitas são irrepreensíveis -, os vinhos são bons, mas todos muito parecidos, com uma tendência para o álcool e o corpo exagerado. Quem sabe este grupo poderia, no futuro próximo, organizar excursões dirigidas, didáticas, para nós, simples apreciadores? Um pacote direto do Brasil para conhecer estas ditas maravilhas...

    Um abraço,
    Rodrigo Britto
    João Montarroyos
    Mestre equitador
    Rio de Janeiro
    RJ
    22/02/2010 Concordo com o Eder, mas... o segredo do sucesso é a boa propaganda, além do mais, o estoque mundial do divino líquido é enorme, a concorrência é furiosa; e tem que vender!
    Eduardo Amaral
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    22/02/2010 Caro Lalas,

    Ótima notícia; sinal da maturidade da vinicultura por lá.

    A título de colaboração, a linha Hacedor de Mundos é varietal; exatamente os que vc listou. O corte é chamado "Cobre". Pessoalmente, nunca o vi a venda no Chile.

    []s e sucesso.
    Bruna Cristofoli
    Enóloga
    Bento Gonçalves
    RS
    22/02/2010 Que tal sair algo parecido aqui no Brasil??
    Werner Schumacher
    Vinhateiro
    Bento Gonçalves
    RS
    22/02/2010 Iniciativas como esta do MOVI são dignas de mérito, pois reforça a nossa posição de que é possível, sim, continuar produzindo vinhos artesanais e não apenas aqueles tecnológicos.

    No ano passado criamos a UVIFAM - União Brasileira das Vinicolas Familiares e Pequenos Produtores. O nome é grande, como grande é a nossa vontade de lutar por vinhos autênticos e pela agricultura familiar.

    Felicitações aos MOVIanos.
    Werner Schumacher
    UVIFAM
    Vice Presidente
    Paulo Roberto Gomes de Oliveira
    Enófilo
    Visconde de Mauá
    RJ
    23/02/2010 Lalas,

    Conhecia atalhos da história, mas não sabia da grandeza do MOVI. Como bem sabes, no Chile tudo é possível. O terroir que a filoxera não conseguiu interferir na capacidade de seguir suas possiblidades, é convicente que este movimento seja a continuação da sua existência.

    Parabéns Lalas...

    Paulinho Gomes
    Presidente da SBAV-Rio
    Charlston Dalmonico
    Gerente de Vendas Berenguer Imports
    Curitiba
    PR
    23/02/2010 O I Latina chegou ao Brasil no início deste ano e já está disponível no mercado... Deveremos apresentar a safra 2008 no Rio em breve... e o convite vai chegar à você com certeza.

    Abração
    João Pedro De Bastiani
    Técnico Enologia
    Nova Roma do Sul
    RS
    23/02/2010 Já imaginou algo parecido, não precisamos inventar, mas temos bons exemplos a ser seguidos.
    Daniel Salvador
    Enólogo
    Flores da Cunha
    RS
    24/02/2010 Caro Lalas!

    Como empresário do ramo defenderei meu pão. O MOVI é uma iniciativa com ar de preocupação com o mundo do vinho, de valorização e resgate dos verdadeiros "terroirs". Os conglemerados industriais ainda assim estarão presentes, porém o apreciador de vinhos se entrega quando o assunto é personalidade, diferenciaçao, calor humano e vinico.

    Daniel Salvador
    Vinícola Salvador
    Raul José Setubal Bussolotti
    Distribuidor de Vinhos/Azeites
    Vila Velha - P.da Costa
    ES
    28/02/2010 Prezados Senhores(as)

    Hoje o vinho é uma industria de muita repercussão. É quase impossivel verificar a extensão dos danos quando acontece uma situação de falsificação de vinhos. Temos que cada vez mais organizar grupos que defendam o vinho não como $$$, mas como uma bebida que deve estar salvaguardada, destas situações de risco.

    Destes inescrupulosos que se aproveitam dos recursos financeiros para danificar a imagem daqueles que tem em suas vinícolas a qualidade e a tradição, aliada ao delicioso sabor de produzir um vinho que é vivo, em nossos momentos de prazer e glamour.

    Saudações a todos apreciadores de vinhos.

    Raul José Setubal Bussolotti
    www.azeitesevinhos.blogspot.com
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]