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Eu sou fã incondicional dos vinhos do vale do Rhône. Desde os grandes hermitages aos mais simples côtes-du-rhône, bons para o dia-a-dia. Os vinhos tops da região, são tão bons quanto os grandes de Bordeaux ou da Borgonha. E, apesar de caros, custam bem menos do que os do mesmo nível das regiões mais cotadas. E os mais básicos são perfeitos para as necessidades diárias de um bom enófilo. E estes são baratinhos. Por esta razão, sempre que posso, escrevo um pouco dessa região.

O vale do Rhône fica entre Avignon, ao sul e Vienne, ao norte. O vinho é a principal atividade econômica da região. São 76.330 hectares de vinhedos e uma produção que beira os três milhões de hectolitros. Os vinhos são divididos entre regionais, villages, vinhos do Rhône, fortificados, de mesa e os crus, os mais prestigiados. No sul do vale, estão Beaumes de Venise, Châteauneuf-du-Pape, Gigondas, Lirac, Tavel, Vacqueiras e Vinsobres. No norte, Château Grillet, Condrieu, Cornas, Cote-Rôtie, Crozes-Hermitage, Hermitage, Saint Joseph e Saint Péray. Os solos variam conforme a parcela do vinhedo. Há de tudo um pouco. Areia, calcário, xisto, granito, e por aí vai. Por este motivo, mesmo dentro de cada denominação de origem há tanta diferença de estilo e, consequentemente, de qualidade. No norte, a maioria das vinhas estão em colinas com declive pronunciado, o que dificulta tanto o manejo da planta, quanto a colheita.

Os tintos da região têm espaço garantido no mercado, especialmente os do norte. Muito por conta do apreço que o crítico norte-americano Robert Parker tem pelo lugar. Parker já escreveu um livro sobre o Rhône, e frequentemente pontua os vinhos da região com notas altas. Mas os brancos, igualmente bons, seguem, salvo raras exceções, um tanto ignorados. Injustiça da brava.

Embora bons brancos também sejam feitos no sul do Rhône, especialmente em Châteauneuf-du-Pape, é ao norte do vale que ficam as melhores joias. A melhor delas é a mais rara: uma pequena propriedade de apenas 3,5 hectares, que faz, com a viognier, um dos grandes vinhos do mundo, o Château Grillet. Trata-se de um branco ímpar, com uma enorme capacidade de envelhecimento. Mesmo na França, é difícil de achar. Além de caro. Mas vale cada centavo. O château ainda produz uma aguardente de uva que é outro espetáculo, mas é assunto para outra coluna.

Também com a viognier são produzidos os vinhos de Condrieu, outra denominação de origem respeitada mundo afora. São vinhos de impressionante riqueza aromática, com frescor e volume na boca. Dependendo do produtor, podem ser guardados por muito tempo. Mas, na média, são para serem bebidos ainda jovens.

As outras duas uvas brancas cultivadas no norte do Rhône são a marsanne e a roussanne. A primeira gera vinhos vigorosos, com boa estrutura, acidez bem marcada, e aromas de flores e avelã. A segunda, aporta delicadeza e elegância aos vinhos, além de aromas florais como rosa branca e madressilva. Mas tem uma tendência a uma rápida oxidação, é usada apenas em cortes, e, em geral, em menor proporção do que a marsanne.

Em Hermitage, os brancos são ricos, elegantes e longevos. Crozes-Hermitage e Saint Joseph produzem vinhos mais fáceis, frutados e com menor potencial de guarda. Além da clássica harmonização com peixes, os brancos destas regiões vão bem com pratos a base de frango ou com carne de rã. Já Saint Péray gera brancos mais minerais, com acidez pronunciada e que combinam muito bem com frutos do mar, além de espumantes bastante interessantes. Mas estes também ficam para outra coluna...
 
Vinhos degustados
Vinho da semana
Condrieu Invitare 2007
Rhône, França
Michel Chapoutier é um dos craques do vale do Rhône. Os vinhos da Maison são particulares. Dos mais simples, aos mais trabalhados. Este condrieu é uma beleza. No nariz, intenso e persistente, com notas florais, toque de manteiga, pêssego e damasco. Mas, apesar de toda a riqueza aromática, é na boca mesmo que o vinho fala. Tem bom corpo, volume, frescor, textura e fineza. Até tem capacidade de envelhecer, mas está tão bom agora que não há motivo para guardá-lo. Pode ser bebido solo ou com uma grande variedade de pratos que vão de comida tailandesa a peixes grelhados.
Nota: 9,5
Preço: R$ 210,32
Onde: Mistral (3534-0044)

Barato bom
Côtes-du-Rhône La Vinsonbraise Blanc 2008
Rhône, França
Branco simples, fresco e fácil, para o dia-a-dia, feito com a grenache blanc e a clairette blanche, duas uvas muito cultivadas no sul do vale do Rhône. Delicado, serve como aperitivo ou para acompanhar refeições a base de peixe, massas com frutos do mar, mariscos e afins.
Nota: 7,5
Preço: R$ 26,98
Onde: Zona Sul (2122-7070)

Para guardar
Hermitage Chevalier de Stérimberg 2005
Rhône, França
A Jaboulet é das mais importantes vinícolas do vale do Rhône. O Hermitage La Chapelle, é um dos grandes tintos, não apenas da região, mas do mundo. Ofuscado pelo brilho do La Chapelle, está este branco fantástico, rico, intenso, pleno, com notas de pêra, caramelo, mel e uma imensa capacidade de guarda.
Nota: 9,5
Preço: R$ 278,96
Onde: Mistral (3534-0044)
Comentários
Juan Jose Verdesio
ABS Brasília
Brasília
DF
18/04/2010 Alexandre:

Parabens pela divulgação das maravilhas do Rhône. Concordo que há muita beleza escondida entre os meandros do Rhône. Mesmo algumas produções de pequenos produtores cooperados chegam a surpreender. Me lembro de um amigo meu que mora em Grenoble que comprava vinho em vrac a 2 ou 3 dolares o litro (preços de 1996) de uma cooperativa de Cornas, ele mesmo o engarrafava e 10 anos depois eram vinhos equivalentes a grandes Bordeaux.

Continua falando deles. Mas não muito, para que não apareça o olho grande que aumente os preços.
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo
Poiares
Portugal
20/04/2010 Boa tarde

É bom ler sobre o Rhône e só mesmo lá, e depois de beber uns copos de Chateauneuf-du-Pape, fui capaz de comer umas grenouilles. É delicioso sair da Provence, subir até Vienne, Albertville e entrar na Route du Vin e beber os bons Rhônes nas pequenas estalagens.

Parabéns pela prosa, os enófilos devem agradecer, só não devem é entrar na vizinha Suiça pois lá as coisas complicam-se é tudo muito mais preconceituoso... coisas do capital.

Bons vinhos .. seeeeeeeeeeeeempre
Fernando
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]