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Colunistas
 
Na semana passada, almocei com François Labet e Philippe Senard, dois produtores de vinho da Borgonha. O encontro foi no restaurante da vinícola de Philippe, a Domaine Comte Senard, em Aloxe-Corton. Comemos um espetacular boeuf bourguignon, escoltados pelos belos vinhos de Philippe. Durante o almoço, enquanto conversávamos sobre o mercado de vinhos, Labet comentou sobre a dificuldade que é explicar a Borgonha aos menos iniciados no meio. Em especial, na Ásia. De fato, são inúmeras as particularidades da região.

Para que se tenha uma ideia, a Borgonha tem 100 diferentes denominações de origem, dividas em quatro categorias: vinhos regionais, locais, premier crus e grand crus; esparramadas em seis regiões (Chablis e grande Auxerre, Côte de Beaune e hautes côte de beaune, Côte de Nuits e hautes côte de nuits, Côte Chalonnaise e Couchois, Mâconnais, e Chantilonais). E mesmo dentro destas quatro categorias, há inúmeras variações. No caso dos premier crus, por exemplo, são 635 diferentes nomes de parcelas, que seguem o nome da vila onde ficam os vinhedos. E cada parcela tem uma tipicidade única. As castas dominantes são pinot noir, para os tintos, e chardonnay para os brancos. Mas ainda há a gamay entre as tintas e a aligoté para brancas. Sem falar em outras particularidades e exceções (como o excelente pinot gris feito pela Comte Senard em Aloxe-Corton). Aliás, a Borgonha é mestre em exceções. Há aqueles que controlam toda a produção, do plantio das uvas à comercialização do vinho. Há os negociantes, que compram o vinho pronto de pequenos produtores e engarrafam e comercializam. Ou seja, é muita informação para quem não está acostumado.

Dito assim, parece complicado entender a Borgonha. E, portanto, difícil vendê-la, como reclamava Labet. Mas, na verdade, embora não seja fácil explicar a região, entendê-la é bem mais fácil. E, para tanto, basta botar um borgonha de um bom produtor na taça. Toda a complicação causada pela confusão de regras, o emaranhado de microterroirs e a multiplicidade de nomes e denominações desaparecem. O vinho da Borgonha se expressa e se explica na boca.

São vinhos de uma sutileza ímpar, de elegância extrema, próprios, únicos e múltiplos. Uns mais frutados; outros, minerais. Uns de guarda; outros, de consumo rápido. Uns mais ricos; outros, diretos. E, quando bons, sempre emocionantes. Caso do Clos Vougeot de Labet, por exemplo. Ou do Corton de Philippe Senard. Ou dos vinhos de outro Philippe, o Pacalet. De Gay Baptiste, jovem produtor de Pernand-Vergelesses. Ou do raro Latricières-Chambertin da Domaine Trapet. O elegantíssimo Chassagne-Montrachet da Domaine Ramonet. E mesmo vinhos de grandes produtores como Joseph Drouhin, Bouchard Père Et Fils, Faiveley. Sem falar nos místicos vinhos da Domaine de La Romanée-Conti. E ainda há muito mais. Aliás, a melhor dica que possa ser dada sobre como escolher o vinho da Borgonha é prestar atenção ao produtor. Separar o joio do trigo. Este é o segredo da região.

Portanto, a conclusão a que chegamos ao final do almoço na Comte Senard foi esta: a Borgonha não precisa ser explicada por palavras. Basta abrir a garrafa que o vinho fala. E para bom entendedor...
 
Engarrafadas
Na próxima quinta-feira, dia 29, a Grand Cru da Barra da Tijuca vai promover um jantar com Benjamin Romeo, enólogo e proprietário da Bodega Contador. Serão degustados quatro vinhos do enólogo, incluindo o Contador 2007, que recebeu nota 100 do crítico norte-americano Robert Parker. No jantar, tapas variadas de entrada e paleta de cordeiro como prato principal. Mas, sem desmerecer o jantar, o que vale mesmo é provar, na companhia do cara, as maravilhas que Benjamin Romeo produz. Custa R$ 350 por pessoa. Maiores informações e reservas através do telefone 2431-0864.
Vinhos degustados
Vinho da semana
Domaine Comte Senard Corton-Charlemagne Grand Cru 2006
Borgonha, França
Vinho branco imenso, deste produtor de prestígio de Côte de Beaune. Rico e intenso no nariz, elegante e cheio na boca. Muito mais do que um chardonnay, é um corton-charlemagne. E, mais do que isso, um Comte Senard.
Nota: 9,5
Preço: R$ 535,80
Onde: Decanter (2286-8838)

Barato bom
Joseph Drouhin Saint Véran 2006
Borgonha, França
Normalmente, o barato bom não passa de R$ 50. Infelizmente, não é fácil achar no Brasil um bom vinho da Borgonha nesta faixa de preço. Este Saint Verán está um pouco acima dos R$ 50. Mas, para quem está interessado em provar um belo branco da região, este é dos melhores na faixa de preço. Franco no nariz, com notas de manteiga, delicado e fresco na boca. Está prontinho para beber e vai muito bem com peixes e aves com molhos leves.
Nota: 8
Preço: R$ 79,02
Onde: Mistral (3534-0044)

Para guardar
Château de La Tour Clos Vougeot Grand Cru 2004
Borgonha, França
Clos de Vougeot é um típico exemplo de como escolher o produtor é importante quando se fala da Borgonha. São cerca de 80 donos de vinhedos nos pouco mais do que 50 hectares de terreno. A qualidade do que é engarrafado como Clos de Vougeot Grand Cru varia e muito. François Labet é o sujeito que possui o maior número de vinhas ali. E um dos produtores em que se pode confiar. Este 2004 está uma beleza. Aroma intenso de aspargo verde, com um toque de especiarias. Na boca, harmonia é a palavra. Fresco, elegante, com um volume impressionante. Se a opção for beber logo, decante por, pelo menos, uma hora. Ou então deixe na adega, guardadinho, por mais uns cinco anos. Ou mais.
Nota: 9,5
Preço: R$ 735,35 (safra 2006)
Onde: Decanter (2286-8838)
Comentários
Cyrillo de S. Mothé Filho
Enófilo
Campo Grande
MS
26/04/2010 Oscar, ça va sans dire ...
Carlos Feliz
Adega Boulevard
Curitiba
PR
26/04/2010 Oi Alexandre,

Belos vinhos degustados! Minha dúvida fica por conta da decantação do Clos Vougeot. Até onde eu saiba, não devemos decantar Borgonhas, ou existem excessões?

Vc conversou com algum produtor sobre isso?

Abço Carlos
Eduardo Amaral
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
27/04/2010 Caro Lalas,

Belo texto, cheio de verdades. Visitei a região depois da colheita de 2007 e estive no Chateau de La Tour. EMHO, os Clos de Vougeot do Labet são mais prematuros que seus vizinhos, não requerendo uma guarda mais prolongada para mostrar quão belos são. Me parece uma questão de estilo. Óbvio que existe grande variabilidade nas safras. Infelizmente, não tenho minhas notas à mão para comparar com as suas. Estou quase certo que provei tb esse 2004.

Entretanto, o vinho que mais me impressionou naquele dia foi o Beaune 1er Cru Coucherias produzido pelo Labet. Estava estupendo. Abri o último em 2009 e continuava impecável, por talvez 1/5 do preço do Clos do Vougeot.

Sobre Corton sou suspeito para falar. Costumo encontrar pérolas no lugar; muitas não importadas ao Brasil. Em especial, sou fã da parcela grand cru de Renardes (acabo não curtindo tanto os Clos de Roi).

[]s e boa viagem.
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Eduardo
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