|
 Eu não sou um sujeito dos mais crédulos. Sou um tanto cético até. Não costumo acreditar em soluções instantâneas ou efeitos milagrosos. Ainda mais em questões relacionadas ao mundo do vinho. Por isso, quando o sommelier Dionísio Chaves me convidou para ir ao Fasano prestigiar o lançamento do Vinturi, pensei duas vezes. Mas, movido muito mais pela vontade de prestigiar o meu amigo do que pela curiosidade em conhecer o produto, fui lá conferir.
Muitas vezes, ao abrirmos um vinho, a bebida não está exatamente como pensada pelo enólogo. Falta-lhe aroma. Neste caso, dizemos que o vinho está "fechado". Quando o oxigênio entra em contato com o líquido, alguns aromas são liberados. Em alguns casos, um decantador pode ser utilizado para acelerar este processo. O tempo varia de acordo com a bebida. Para abrir, um vinho pode levar 30 minutos. Às vezes, leva ainda mais tempo. O Vinturi, o tal produto que seria lançado no Fasano, promete cumprir este papel em questão de segundos. Antes de ir, como de costume, torci o nariz para a invencionice e não levei a menor fé no resultado.
Acontece que o inventor do Vinturi não é um sujeito qualquer. Rio Sabadicci já trabalhou na NASA e na Apple. É daqueles caras que vivem para inventar coisas. Bebedor de uísque, um belo dia, jantando na casa de amigos, ficou intrigado quando o anfitrião decantou um cabernet-sauvignon do vale do Napa. O fato de o vinho melhorar depois de algum tempo aberto despertou a curiosidade de Rio pelo assunto. Como todo norte-americano que se preza, Rio não gosta de esperar. E, no tempo livre que tinha, assim, como um hobbie, decidiu inventar algo que aerasse o vinho imediatamente. Dois anos depois, chegava ao mercado o Vinturi.
No Fasano, cada degustador recebeu quatro taças de vinho: duas de branco, duas de tinto. O branco era um chardonnay e o tinto, um cabernet-sauvignon. Ambos chilenos, ambos ainda bem jovens. Estávamos lá para ver se realmente havia diferença entre o vinho que passara pelo Vinturi e o outro, que não havia passado. Eis que eu, sujeito sem fé, caí bonito do cavalo.
Entre os brancos, a diferença era abissal. Enquanto o que não havia passado pelo produto apresentava um nariz dominado pela madeira, com aromas de baunilha e coco, o outro, que havia passado pelo Vinturi, mostrava-se menos intenso aromaticamente, porém muito mais elegante e agradável. No caso dos tintos, o sem Vinturi tinha um aroma forte de pimentão verde, que sumiu, como por encanto, na taça do que havia passado pelo aerador. Ou seja, em ambos os casos, o vinho melhorou com o produto.
Com o tempo, ambos os vinhos se equivaleram. Mas o fato é que o Vinturi, de fato, cumpre o que promete: uma rápida aeração da bebida. E isso acontece por conta de pequenos furinhos laterais que promovem uma oxigenação do vinho. Existe a versão para tintos e a para brancos. Esta última tem furinhos laterais um pouco maiores, e é recomendada também para a aeração de vinhos feitos com a pinot noir e a syrah.
Nos Estados Unidos, o Vinturi é líder de mercado entre os aeradores. Por lá, custa cerca de US$ 40. Já a caminho do Brasil, custará algo em torno de US$ 70. Coisa de R$ 120. A quem não crê na eficácia do troço, eu recomendo experimentar. Fazer experiências, aliás, é meu plano, assim que comprar o meu. Vou querer ver em quais casos a utilização do Vinturi vale a pena. Rio Sabadicci não tinha o menor respeito pelo vinho. Caso tivesse, certamente sequer teria pensado em inventar uma coisa dessas. Mas que o negócio funciona, isso não há como negar. |
|
Vinhos degustados |
Vinho da semana Fita Preta Tinto 2007 Alentejo, Portugal Representantes da vinícola estiveram na Expovinis na semana passada em busca de importador no Brasil. Tomara que encontrem. Os vinhos da Fita Preta são pra lá de interessantes. Este tinto é uma beleza. Notas de frutas vermelhas maduras, cogumelos, eucalipto. Na boca, bom corpo, sedoso, boa textura, equilibrado, longo. N/D no Brasil
Barato bom Miolo Gamay 2010 Campanha, Brasil Henry Marionnet é um enólogo francês de prestígio. Costuma fazer maravilhas com a uva gamay, típica da região de Beaujolais. Desde o ano passado, Marionnet ajuda a Miolo a elaborar o gamay da empresa. Neste ano, a parceria funcionou como nunca. O Gamay 2010 é o melhor já produzido pela Miolo. Nariz de média intensidade, com notas de cereja e ameixa; na boca é leve, macio, fácil e gostoso. Um vinho para celebrar, mas acompanha com louvor pratos como frango assado. Nota: 8 Preço: R$ 19 Onde: Miolo (3077-0150)
Para guardar Gillmore Cobre Gran Reserva 2003 Vale de Loncomilla, Chile Corte de cabernet-sauvignon, cabernet franc, merlot e carignan; intenso no nariz, com notas de cassis, fruta madura e fumo. Bom corpo, macio, fino, fresco e longo. Até pode ser degustado já, mas vai melhorar ainda mais com mais alguns anos de garrafa. Nota: 9 Preço: R$ 195 Onde: Ana Import (71 3337-1111) |
|