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 Muitas vezes quando abrimos uma garrafa de vinho, a bebida está quase sem aromas. No jargão dos enófilos, dizemos que o vinho está fechado. Nestes casos, recomenda-se colocar o líquido em um decanter para que o contato com o oxigênio liberte os aromas da bebida. Dizemos, então, que o vinho está abrindo. Dependendo do rótulo, leva tempo para que o vinho abra. Com a promessa de diminuir esta espera, surgiram os aeradores.
De um tempo para cá, o mercado de vinho tem sido invadido por estes produtos. Duas versões já estão disponíveis nas lojas e sites de vinho, outro está a caminho e ainda há um aerador francês que promete transformar qualquer vinho jovem em um ancião centenário em questão de segundos.
Para entender alguns destes produtos, a Confraria dos Nove se reuniu, na semana passada, para avaliar alguns dos aeradores disponíveis no mercado. O mesmo vinho foi provado, às cegas, em seis diferentes versões: passando pelo Vinturi, pelo The Wine Finer, pelo Oxyger De Vin, usando a Clef de Vin, um decanter normal e abrindo a garrafa sem aerar.
Participaram da degustação, além do colunista, a sommelière Cecilia Aldaz, do Eñe; o chef Danio Braga, da Locanda; Paulo Nicolay, vice-presidente da SBAV-RJ; Ricardo Farias, diretor da ABS-RJ; a crítica de gastronomia Luciana Plaas e o empresário Duda Zagari, da Confraria Carioca, loja que cedeu os vinhos para a prova. A degustação foi realizada no Lorenzo Bistrô, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio de Janeiro e o serviço foi conduzido competentemente pelo dublê de garçom e sommelier Radamés Chinemann.
O teste foi feito primeiro com o espanhol Petit Grealo 2004, vinho espanhol sem passagem em madeira. A mesma prova foi repetida em seguida com o também espanhol Pujanza 2005, que tem estágio de 18 meses de barricas de carvalho. Foram conferidas notas de zero a dez para cada uma das versões dos dois vinhos. Só que mais importante do que estabelecer um vencedor da degustação foi avaliar o comportamento de cada aerador com os diferentes vinhos. E, finda a degustação, a principal conclusão foi de que ainda é preciso estudar, e muito, o assunto.
Abaixo, o desempenho de cada um dos aeradores nas duas provas:
Clef de Vin Produto francês, desenvolvido pelo sommelier Franck Thomas e pelo químico Lorenzo Zanon. É uma espécie de chave, com uma liga de metal, que promete "envelhecer" o vinho através de uma rápida oxigenação, promovida por reação química aos tais metais. Segundo o fabricante, cada segundo da chave em contato com o vinho, em dose de 10 cl, equivale a um ano de envelhecimento. Na prova, a chave ficou dois segundos em contato com o líquido.
No vinho sem passagem por madeira, o desempenho da Clef de Vin foi sofrível e obteve a pior nota para os degustadores. Já quando foi usada no vinho com envelhecimento em barricas de carvalho, a geringonça teve um resultado melhor: foi a que obteve a maior nota dos provadores. Ou seja, para vinhos sem madeira, não vale a pena usar o acessório. Não disponível no Brasil, custa US$ 129 no site www.vinetpassion.com.
Oxyger De Vin e Vinturi Ambos funcionam seguindo o mesmo princípio: o aumento da velocidade de um fluido em movimento provoca a diminuição de sua pressão. Ambas as peças têm dois pequenos furos laterais, que sugam o ar para dentro do aerador e aumenta a oxigenação do vinho. Na prova, o americano Vinturi saiu-se um pouco melhor do que o brasileiro Oxyger de Vin, em ambos os vinhos. Porém, as médias dos dois produtos foram muito próximas. E, em ambos os casos, os vinhos ficaram melhor do que fossem servidos diretamente da garrafa para a taça. O Vinturi está a caminho do Brasil e custará cerca de R$ 120. Já o Oxiger de Vin é vendido no site Artesanato do Vinho (www.artesanatodovinho.com.br) e custa R$ 100.
The Wine Finer Desenvolvido pelo designer dinamarquês Marcus Vagnby, funciona além de aerador, como filtrador e corta-gotas. Telas muito finas de aço inoxidável filtram a bebida que passa por 32 micro aeradores na hora em que o vinho é servido. Na prova, o Wine Finer saiu-se bem melhor com o vinho barricado, quando obteve a segunda maior nota. Na bebida sem passagem em madeira, em compensação, o Wine Finer ganhou apenas da Clef de Vin. Custa R$ 199 e é vendido na Spicy, e nos sites do Ponto Frio e do Extra.
Vale lembrar que o bom e velho decanter, cujos aeradores prometem aposentar, saiu-se muito bem com os dois vinhos. |
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Vinhos degustados |
Vinho da semana Craggy Range Le Sol 2007 Hawke's Bay, Nova Zelândia A Nova Zelândia é mais conhecida pelos excelentes sauvignon blancs e pinots que produz. Mas este syrah rivaliza com os melhores do tipo produzidos na vizinha Austrália e no mundo. Nariz de riqueza ímpar, com notas de fruta madura, tomilho, anis, terra queimada e couro. Na boca, é espetacular. Intenso, suculento, macio, persistente, deixa a boca com um gostinho de torta de amoras. Combina com carnes de caça. Nota: 9,5 Preço: R$ 340 Onde: Decanter (2286-8838)
Barato bom Vinha do Putto Tinto 2007 Bairrada, Portugal Os irmãos Jorge e Carlos Campolargo são os responsáveis por esta simpática vinícola da Bairrada. Este saboroso tinto é um corte de tinta roriz, touriga-nacional, cabernet-sauvignon e syrah, ou seja, uma mistura de castas típicas portuguesas com variedades francesas. Bastante frutado e fresco, é um vinho fácil de gostar, daqueles em que a garrafa vai embora sem que ninguém se dê conta. Nota: 8 Preço: US$ 24,90 Onde: Mistral (3534-0044) |
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