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Muitas vezes o ser humano sonha secretamente com o fim dos tempos, com o dia em que tudo se acabará. Tsunamis, terremotos, erupções, pragas e toda a sorte de catástrofes possíveis e imagináveis habitam o inconsciente coletivo da humanidade. É como se até desejássemos a morte definitiva, o fim irreversível. Seria, talvez, uma resposta à transitoriedade de todos nós, à nossa mortalidade. Ou seja, se tudo acabasse, não perderíamos nada do que estivesse por vir.

O fato é que o poder de decidir quando e como partir é sempre atraente. É como se pudéssemos controlar o incontrolável, alcançar o que não está ao nosso alcance. E, com esse pensamento fatalista na cabeça, a coluna resolveu fazer uma pergunta. Se fosse possível escolher que garrafa de vinho para beber antes de morrer, qual seria o rótulo eleito?

Reinaldo Paes Barreto, meu colega de jornal e de taça, escolheria um champanhe. Mais precisamente, um Dom Pérignon. Para ele, a morte significa uma passagem de fase, uma entrada em uma nova etapa, um novo começo. Portanto, motivo para celebração.

Um champanhe também seria a escolha do mestre Célio Alzer, professor da Associação Brasileira de Sommeliers. Célio escolheria o Krug Clos du Mesnil 1990. "É um vinho que me levaria às alturas! E nessa hora, quanto mais perto do céu, melhor", brincou.

O sommelier Dionísio Chaves, que em breve abrirá um novo restaurante na Barra da Tijuca, o Duo, escolheria um Montrachet 1990 da Domaine de La Romanée-Conti. Para ele, mais do que ser o melhor vinho que já provou na vida, é a história do poder que um vinho branco tem em superar tintos ainda mais badalados.

O mesmo vinho, mas em safra diferente, seria a escolha de outro sommelier, Eder Heck, do Mr. Lam. Eder escolheria o Montrachet 1978, também da DRC. Segundo ele, "este vinho seria capaz de salvar um condenado da forca".

O mestre Danio Braga não se faria de rogado. Escolheria um Château Petrus 1921. "Fico com este vinho por ter sido o melhor que bebi, o que mais me emocionou, em toda a minha vida. Então, partiria para o outro lado com este gosto na boca", disse Danio.

Da mesma safra é a escolha do sommelier Marcos Lima: o Château D'Yquem 1921. "Beberia este vinho para poder levar na boca e na memória o prazer e a doçura destes grandes momentos", explicou Marquinhos.

Um vinho de Bordeaux seria a escolha de outro professor da ABS, Ricardo Farias. O Château Haut-Brion 1982 seria o eleito. O motivo, além da qualidade indiscutível da bebida, é saudade. "Há cerca de 10 anos, após uma degustação na ABS Rio, convidei algumas pessoas para continuarmos degustando na minha casa. Entre estas pessoas, estava uma querida amiga: Juarezita Santos, dona do Quadrifoglio. Para finalizar, provamos um Haut Brion 1982, irrepreensível. Mas, mais que o vinho, ficou-me a lembrança da Juarezita, que já se encontrava doente e foi, provavelmente, a sua última degustação. Pouco depois foi internada vindo a falecer", contou Ricardo.

O chef Paulo Pinho, do Sagrada Familia, escolheria o italiano Brunello de Montalcino Soldera Riserva 1993. "Foi o melhor vinho que já tomei. É sensacional. Bebi uma garrafa lá na Itália e outra aqui no Brasil. Se eu tivesse outra garrafa, seria ela a eleita para este momento final", falou Paulinho.

O professor Fernando Miranda iria de um vinho argentino feito na Patagônia. "Escolheria o Noemia, que além de ser um dos melhores vinhos das Américas, o casal proprietário, a italiana Noemí Marone Cinzano e o marido, o enólogo dinamarques Hans Vinding Diers são pessoas de primeira qualidade, muito simpáticos também", indicou Fernando. O sommelier do Terzetto, João Souza, escolheria o português Barca Velha 1965. "Nasci em 1965 e, além de ser o vinho da 'minha safra', é um dos melhores que já tive o prazer de provar e que mais me surpreendeu", explica.

Um vinho português também seria a escolha do enófilo e consultor Paulo Nicolay. Mas, se pudesse, Paulo degustaria um Quinta do Noval Nacional 1963 antes de passar desta para melhor. Por coincidência, seria a mesma escolha do colunista. E a explicação é simples: O Noval Nacional 1963 é um dos melhores vinhos do porto já feitos em todos os tempos. É, para os amantes deste tipo de bebida, uma espécie de Santo Graal.

E você, que vinho escolheria?


Esta é a última coluna que escrevo, nesta derradeira Revista Programa. Foram 189 colunas, sexta sim, sexta também, desde janeiro de 2007, sempre escritas com prazer. Muitos vinhos comentados, muitos assuntos discutidos e muitos amigos feitos. Fica o muito obrigado a todos os que leram, passaram os olhos, mandaram e-mail, comentaram e fizeram deste espaço um lugar onde o vinho (e também outras cachaças) foram sempre tratados com muito respeito e seriedade. Saúde.
 
Nota do editor
O querido e glorioso Jornal do Brasil, que por tanto tempo escreveu nossa história em suas páginas, deixa de circular no próximo dia 31 de agosto. É um momento triste para nosso país. Portanto, a coluna do Alexandre Lalas deixa de ser publicada na Revista Programa e esse é o porquê do último parágrafo acima.

Mas, no meio dessa tristeza, nossos leitores podem se alegrar, pois o colunista continuará assinando, semanalmente, a coluna Vinhos e outras cachaças aqui nas páginas do EnoEventos e em seu novo site Wine Report
Comentários
José Augusto Saraiva
Importador
Rio de Janeiro
RJ
29/08/2010 Lalas,

189 edições!!?? A gente nem percebe, quando a prosa é boa e o assunto nos encanta. Suas colunas sempre fizeram o fim de semana mais agradável.

Ainda bem que vai continuar no Wine Report.

Grande abraço e muita saúde,
José Augusto Saraiva
Paulo Nicolay
Consultor de vinhos
Rio de Janeiro
RJ
29/08/2010 Grande Lalas,

Só fico triste pela perda de um pedaço da nossa história, pois sei que as suas colunas continuarão nos presenteando em outros meios.

Mas também fiquei feliz em saber que o seu último vinho coincidiu com o meu!..... Se morrermos juntos, podemos dividir a mesma garrafa !....

Grande abraço!
Yoná Adler
Mistral RJ
Rio de Janeiro
RJ
29/08/2010 Caro Lalas,

Aprendi com a vida, que deve-se sempre olhar para frente, pois o passado nada mais é do que a base do presente e do futuro. Não tenho dúvidas de que no JB tenha sido muito bom e torço que daqui para frente seja melhor ainda (e será, acredite)! Pode contar sempre!

Bjs, Yoná.
José Paulo Schiffini
Enófilo da velha guarda
Rio de Janeiro
RJ
30/08/2010 Lalas,

Parabéns por continuar escrevendo suas "love letters" sobre vinhos. Cada frase exala aromas de sua paixão! Cada garrafa comentada guarda os segredos da sua alma. Cada gole que tomo dos vinhos comentados são lembranças líquidas e vivas de nossos encontros.

Schiffini
Didu Russo
Colunista de vinhos
Carapicuiba
SP
30/08/2010 Devo dizer que o sr. Tanure deixa mais uma marca lamentável de administrador abutre. Uma vergonha "Secondo Me".

Aqui em São Paulo eu acabei pagando uma cozinha de R$ 50.000,00 com meus próprios recursos em meu site e meu programa de TV, pois ele não cumpriu uma permuta que consegui com a BENTEC e Lovara, graças ao apoio dos Miolo. Era para o programa GULA que eu seria o apresentador e que nunca existiu, pelos descaminhos da ganância dessa pessoa lamentável para a reputação do ser humano.

Uma vergonha total acabar com um título como esse e como outros que estão sucumbindo aos poucos.(GULA/JB/Gazeta Mercantil), VERGONHA NACIONAL. Eu abomino esse comportamento e lamento muito a situação.
José Mauro Bernardo Mesquita
Enófilo - SBAV-Rio
Rio de Janeiro
RJ
30/08/2010 Sempre fui fã de seus textos e tenho guardado todas suas colunas da Revista Programa - pelo menos as que consegui comprar, pois o JB há tempos andava mal das pernas e nem todo jornaleiro o recebia nas sextas-feiras.

Já comprei muito vinho seguindo suas preciosas dicas e fico contente em saber que vou poder desfrutá-las em outras paragens, apenas lamento não ter como colecioná-las em papel...rs Já pensou em reuni-las em livro? Seria de grande valia para todos os amantes do vinho.

Boa sorte na nova empreitada e até a próxima degustação!

Um abraço, José Mauro.
Valdiney Ferreira
L'Orangerie
Rio de Janeiro
RJ
30/08/2010 Caro Lalas,

Ainda bem que via Wine Report e EnoEventos não perderemos o prazer de continuar lendo suas colunas e continuaremos degustando este seu jeito especial de falar de vinhos.

Nossas almas rubro-negras e cariocas que já não andam muito felizes, terão que suportar mais esta: a última edição do JB num dia 31 de agosto. Meu contraponto para esta 3a feira, que em outras circunstancias seria melhor esquecer, será a comemoração do aniversário de 30 anos de meu filho com um Delamain Très Vieille Réserve de La Famille Grande Champagne porque como disse Samuel Johnson (17779), "o clarete é para rapazes, o porto para homens, mas quem deseja ser herói deve beber é conhaque".

Saudações rubronegras e muitas alegrias com o Wine Report.
Yann Lesaffre
Mr. Lam
Rio de Janeiro
RJ
30/08/2010 Fala Lalas.....

Vamos olhar para frente, pode ser a última do JB mas com o excelente trabalho do seu site não perderemos suas tão bem escritas colunas.

Abs
Robert Phillips
Representante comercial
Rio de Janeiro
RJ
30/08/2010 Grande Lalas,

Quantas colunas excelentes. Aprendi muito e tive o prazer de ver um vinho que eu represento, da KMM, ELIGO RESERVE, ser o primeiro nota DEZ da sua coluna.

Sucesso no novo empreendimento.
Rosângela e Jorge Romanos
Representantes comerciais
Rio de Janeiro
RJ
30/08/2010 Lalas

Saber viver também significa saber dizer adeus a pessoas e coisas que, em muitos momento, achamos fundamentais para esse viver. Mas é nessas situaçoes que descobrimos outras formas de recomeço e, como gatos, encontramos fôlego para outras vidas.

Temos certeza que esse novo caminho lhe trará muita realização pessoal e profissional. O mundo do vinho precisa muito de seus enocomentários e da facilidade com que você os expõe.

Abraços
Rosãngela e Jorge Romanos
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
30/08/2010 Lalas,

BOLA PRA FRENTE!! A vida é um prêmio e deve ser sempre celebrada.

Passada a ressaca, volte a perguntar a todos qual o próximo clássico a ser degustado. O meu não é clássico, mas é excepcional e já te informo: Viu Manent Viu 1 safra 2003 garrafa n° 1311, que degustarei no feriado de 7 de setembro, para celebrar a sua independência!!

Forte abraço,
Rafael
Fernando Miranda
ABS-RJ
Rio de Janeiro
RJ
31/08/2010 Lalas

Abre-se um novo site seu, que leremos com assiduidade. Quanto ao dono do JB, é como o Didú comentou, um abutre que destroi um jornal centenário, que foi um dos baluartes de combate à finada ditadura militar, e à favor da democracia.

Abrçs
Fernando Miranda
Ana Marta da Silva
Aposentada
Rio de Janeiro
RJ
01/09/2010 Quero aqui deixar minha tristeza ao ver o FIM de um Jornal que marcou a trajetória deste País e do nosso amado Rio de Janeiro. Sempre fui uma assinante e fã do JB, hoje acabo de ver seu sepultamento, deixando Jornalistas, Fotográfos e todos que sempre lutaram e elevaram o nome do JB e a nós leitores assíduos que víamos a cada dia ele se definhando, mas sempre com a esperança que ele se recuperaria para alegria desta imensa legião de "ORFÃOS DO JB".

Não deu, chegou ao fim e então quero Agradecer aqui ao Alexandre Lalas e sua maravilhosa coluna "Vinhos e outras cachaças", vou continuar a ler virtualmente sua Coluna, e parabéns por todas as informações sempre muito interessantes e bem humoradas.

Ana Marta
Eder Heck
Sommelier Mr. Lam
Rio de Janeiro
RJ
02/09/2010 Caro amigo,

Como já te falei pessoalmente, sentirei falta da leitura em papel que nos acompanhava aos finais de semana, mas isto não significa que não podemos te acompanhar na net.

Quero dividir muitas taças de vinho com vc e a Lú. Sucesso no novo projeto.

Abs.
Alexandre Lalas
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
06/09/2010 Muito obrigado a todos pelo carinho. O fim do JB, na versão impressa, está longe de significar qualquer tipo de pausa em nosso trabalho. O vinho ainda precisa de vozes. E nós estamos aqui para fazer o possível para que cada vez mais pessoas se apaixonem pela bebida assim como nós somos.

Saúde a todos e um grande abraço
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]