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 Um pinot noir austríaco bateu outros 33 concorrentes e faturou uma prova às cegas realizada em Cingapura de vinhos feitos com a casta, no mês passado, com júri formado por 16 especialistas, entre os quais, a Master of Wine Lisa Perrotti-Brown, que trabalha com Robert Parker. O feito, por si só, já seria motivo para prestar atenção no rótulo vencedor, o Wieninger's Pinot Noir Grand Select 2004. Mas não é tudo. Entre os participantes da prova, estavam pinots da Borgonha, do Oregon e da Nova Zelândia, regiões tidas e havidas como as melhores do mundo para o cultivo da uva. Mais: havia rótulos da Domaine de La Romanée-Conti entre as bebidas degustadas. Um Vosne-Romanée 1er Cru 2006, que terminou em 8º lugar; e um Echezeaux Grand Cru 2001, 18º colocado.
Mas, em que pese toda a surpresa pelo fato de um vinho austríaco ter conseguido bater concorrentes tão prestigiados, a grande novidade da prova foi o fato de que, entre os 20 primeiros colocados, nada menos que 12 rótulos vinham da Áustria. Uma prova irrefutável de que, por mais que a pinot noir não tenha resolvido subitamente mudar de casa, é preciso incluir a Áustria no time dos países que produzem pinots de qualidade.
Na verdade, a viticultura na Áustria é até bem antiga. Escavações perto da fronteira da Hungria encontraram o que seriam restos de uma videira datada do ano 700 a.C. É que apenas nas duas últimas décadas o vinho austríaco mudou de cara. Jovens enólogos formados em outros países, investimento maciço e um rígido controle de qualidade das agências reguladoras geraram produtos bem melhores. A produção ainda é pequena. Menos de 1% do vinho que se faz no mundo vem de lá. Mas desde 2000 as exportações só fazem crescer. E vinícolas locais acumulam prêmios em diversas feiras mundo afora.
São quatro grandes áreas de cultivo na Áustria, que englobam 16 regiões produtoras, sete delas com status de denominação de origem (DAC). Burgenland, Niederösterreich, Steiermark e Viena. Em Burgenland ficam as regiões de Neusiedlersee, e as DACs de Leithaberg/Neusiedlersee-Hügelland, Mittelburgenland e Eisenberg/Südburgenland. Em Niederösterreich, maior área vitivinícola da Áustria, ficam Carnuntum, Thermenregion, Wachau e Wagram, e as DACs Kremstal, Kamptal, Traisental e Weinviertel. Em Steiermark ficam Südoststeiermark, Südsteiermark e Weststeiermark.
Trinta e duas variedades de uvas são permitidas para a produção de vinhos de qualidade na Áustria. A mais comum é a grüner veltliner, que dá brancos frutados, com um toque picante, frescos e bons para serem bebidos jovens. Entre as tintas, a mais abundante é a blauer zweigelt, cruzamento de duas cepas locais, a st-laurent e a blaufränkisch, que resulta em vinhos leves, frutados demais e sem personalidade. Já os "pais" da blauer geram bebidas mais atraentes. A st-laurent é uma uva temperamental. Anda em baixa na Áustria pela dificuldade que é cultivá-la. Mas em boas safras e na mão de produtores competentes, resulta em vinhos ótimos, nobres, complexos, com aromas de cereja e amora. A blaufränkisch dá vinhos longevos. Se bebidos muito jovens, podem estar desequilibrados, adstringentes demais. Com o tempo, o vinho afina e revela facetas bem interessantes.
Além da pinot noir, outras uvas internacionais como a riesling, a chardonnay, a cabernet-sauvignon, a merlot e a cabernet franc também são cultivadas no país. São usadas tanto em univarietais como misturadas a outras castas para dar equilíbrio a determinados vinhos.
Na Áustria, assim como na Alemanha, no Canadá e na Suíça, também é produzido o eiswein, literalmente, "vinho de gelo", feito com uvas congeladas colhidas durante o inverno. O congelamento provoca a eliminação do líquido e uma incrível concentração de açúcar nas uvas. O resultado é um excepcional vinho doce, mas de preço bem salgado.
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Resultado da prova às cegas |
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