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Oficialmente, a região de Beaujolais é um distrito ao sul da Borgonha. Repleta de colinas e pequenas vilas que mais parecem cenários de filmes bucólicos, o lugar é de rara beleza. Outrora festejada por seus vinhos leves e fáceis de beber, feitos com a uva gamay, a região tem sido posta de lado pelos consumidores nos últimos tempos. Talvez em virtude da febre do vinho encorpado, cheio de fruta compotada e madeira, a exportação dos vinhos de Beaujolais cai ano a ano. Infelizmente. Um bom gamay é vivo, fresco, leve e combina muitíssimo bem com o nosso clima quente.

Na região, há várias AOCs, (denominação de origem controlada). A mais básica é a Beaujolais. São vinhos bem baratos, mas nem sempre confiáveis. Melhores são os Beaujolais Villages. Os feitos por produtores de qualidade são leves e bons de beber quando jovens. Domaine de La Chapelle de Vâtre, Domaine du Granit Bleu, Cave de Saint-Julien e Dominique Terrier são alguns dos principais. Mas os melhores vinhos da região são feitos nos dez crus de beaujolais: Brouilly, Côte-de-Brouilly, Chénas, Chiroubles, Fleurie, Juliénas, Morgon, Moulin-à-Vent, Régnié e Saint-Amour.

Mais ao sul, Brouilly e Côte-de-Brouilly fazem vinhos leves e bem frutados, daqueles que a gente bebe sem compromisso e com muito prazer. Reconhecida como AOC apenas em 1988, Régnié é o mais novo dos crus de beaujolais. Os bons têm aromas de framboesa e groselha, bom frescor e são melhores quando jovens. Os vinhos de Morgon são os mais estruturados e dos que melhor envelhecem entre os dez crus. Mas o maior corpo não prejudica em nada o frescor dos bons vinhos dessa região. Chiroubles, ao contrário, faz vinhos bem leves e agradáveis que já saem da vinícola no ponto ideal de consumo. Fuja, portanto, de um chiroubles com mais de dois anos de garrafa.

Nos vinhos de Fleurie, a marca é a elegância. Talvez por esta razão, os vinhos dali estão entre os mais caros de Beaujolais. Moulin-à-Vent rivaliza com Morgon em termos de estrutura e potencial para envelhecimento. Para muita gente, é de lá que saem os melhores beaujolais. E embora os vinhos sejam de fato muito bons, o caráter alegre e leve que se espera encontrar em um vinho da região muitas vezes é deixado de lado por produtores que, na busca de um vinho mais sério, deixam a bebida envelhecer em carvalho por mais tempo.

Das menores denominações da região, Chénas faz vinhos bem interessantes, com aromas florais (rosas, violetas), boa acidez e mais corpo que a média dos outros crus. Com vinhos mais tânicos e com maior acidez, Julienás faz vinhos ricos em cor mas que pedem um pouco de tempo em garrafa para um maior equilíbrio. Mais ao norte das áreas demarcadas, Saint-Amour gera vinhos bem leves e frescos, sem potencial de guarda.

No Brasil, infelizmente, as importadoras pouco têm investido em vinhos desta região. Uma pena, já que são vinhos perfeitos para o calor tropical. E que harmonizam divinamente bem com muitos de nossos pratos.
 
Comentários
Monica Elisabeth Kich
Enófila e tradutora
Viçosa
MG
10/10/2010 Alexandre,

Parabéns por essa maravilhosa aula de geografia enológica. Certamente todos sonhamos em poder conferir “in loco” cada uma das suas interessantes e procedentes informações. Creio que todo enófilo, quanto mais se aprofunda nessa busca por sabores e sensações do tamanho do mundo, percebe que deve manter a mente e o paladar abertos a novidades, opiniões e novos vinhos que poderão nos brindar com inesperados prazeres.

O nosso clima tropical realmente pede vinhos mais refrescantes e sugestões como a do seu artigo são muito bem vindas!
Miriam Keller
Secretária
São Paulo
SP
10/10/2010 Bom dia! Texto muito bom!

Vc poderia ilustrar a gente sobre o Beaujolais Nouveau, que sempre chega com rompantes de grande vinho, de "não dá para perder"? Li algumas esparsas notas sobre esse vinho, mas queria algo mais didático e profundo sobre o tema. Muito obrigada.
Roberto Cheferrino
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
10/10/2010 Um Beaujolais vivo, fresco e leve é uma grande bandeira pros cariocas. Ótimo e oportuno enofoco, Lalas.
Eugênio Oliveira
Enófilo
Brasília
DF
10/10/2010 Caro Lalas, sirva um Beaujolais Cru, às cegas, para qualquer tomador de vinho e ele achará um ótimo vinho. Agora diga que é Beaujolais que a maioria vai torcer o nariz.

Sou fã incondicional do Morgon do Marcel Lapierre e do Morgon da Maison Coquard.

Um abraço.
Ricardo Hayden
Médico
Santos
SP
10/10/2010 Alexandre, como sempre obrigado pela aula e mais uma vez parabéns pelo site. Abraços.
François Sportiello
Importador de vinhos Nova Fazendinha
Rio de Janeiro
RJ
11/10/2010 Alexandre, parabéns pela matéria.

Não pude resistir a acrescentar este comentário: a safra 2009 em Beaujolais foi antológica, até mais do que em Bordeaux.

Wine Advocate #190 de 31/8/2010

"The 2009 Beaujolais are gloriously generous and genuinely complex, as fine as any wines from this region in recent memory."

ou

"Os Beaujolais 2009 são excepcionalmente generosos e verdadeiramente complexos, a melhor safra dos últimos tempos nesta região."

Do simples Beaujolais, até o mais prestigioso dos Moulin à Vent, os vinhos são excepcionais e ganharam uma dimensão especial combinando riqueza e complexidade num envelope sedoso, macio e aveludado. Os preços são irrisórios quando comparados aos Bourgogne e Bordeaux da mesma safra.

Não percam!

Abraço, François
Alexandre Lalas
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
11/10/2010 Infelizmente, essa matéria coincidiu com o falecimento de um dos grandes nomes de Beaujolais, Marcel Lapierre.

Fica, portanto, como homenagem a este grande sujeito, a quem tive o prazer e a honra de conhecer e visitar, e um dos gênios do vinho francês.
Rodrigo Gomes
Vendedor Expand Leblon
Rio de Janeiro
RJ
12/10/2010 Realmente é uma pena enorme as importadoras pouco investirem neste vinhos tão agradavel ao nosso clima.
Marcelo Carneiro
Advogado e escritor
Resende
RJ
20/10/2010 Fala, Alexandre

O Beaujolais foi uma das minhas primeiras paixões. No meu primeiro romance de 1988, o protagonista é um grande fã dessa delicadeza líquida.

No caso dos Beaujolais de AOC's mais elaboradas, qual a melhor época para adquiri-los aqui no Brasil?
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