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Quando lançou o livro Guia Flammarion dos Vinhos do Mundo, em 1999, o francês François Collombet citou o fato de, apesar de naquela época a Argentina ocupar o quarto lugar no ranking mundial da produção de vinhos, praticamente tudo o que se fazia era consumido no mercado interno. François destacou ainda que preocupação com qualidade era algo raro na Argentina e que 70% da produção era de vinhos baratos. Era uma época em que a criolla grande, plantada pelos jesuítas em 1556, era a casta mais comum no país.

Uma década depois, este panorama mudou completamente. Hoje, o vinho argentino é respeitado no mundo inteiro. As exportações estão em crescente expansão e cada vez mais os mercados se abrem para produtores da Argentina. Em 2010, pela primeira vez na história, as vendas de vinhos argentinos bateram os chilenos nos Estados Unidos. No Canadá e no Brasil, a Argentina já bate nos calcanhares do Chile. Muitas razões explicam esta reviravolta. O enfraquecimento do mercado interno obrigou os produtores a disputarem o mercado fora da Argentina. Investimentos na vinha, em tecnologia e em pessoal foram feitos. Aumento da preocupação com a qualidade da uva em vez da quantidade. Tudo isso aconteceu. Mas a grande locomotiva desta virada argentina atende pelo nome de malbec.

Esta uva francesa, nascida em Bordeaux e criada em Cahors, no sudoeste francês, chegou à Argentina como quem não quer nada, no século XIX, trazida por imigrantes europeus que vinham tentar a sorte no eldorado ao sul das Américas. E durante muito tempo ocupou um lugar de pouco destaque no painel do vinho argentino, embora fosse muito plantada graças à boa adaptação que teve às condições climáticas do país.

Foi com a necessidade de melhorar a qualidade do que era plantado e produzido, em meados dos anos 1990, que a malbec começou a chamar a atenção. Vinhos feitos com a uva começaram a receber críticas favoráveis no exterior. Por isso, mais produtores decidiram investir na uva. E lá se foi a malbec ganhando o mundo e carregando a reboque toda a indústria do vinho argentino.

Hoje a malbec é a uva tinta mais plantada da Argentina, com 26 mil hectares. Mais de um quarto dos vinhedos argentinos são de malbec. O motivo de tanto poder de sedução é simples: a malbec é uma uva adorável. Quando bem cuidada e habilmente vinificada, gera vinhos de cor roxo escuro, com aromas ricos e quase luxuriantes de violeta e ameixa madura, com taninos macios e quase doces. Embora a malbec se dê bem quando estagiada em madeira, é uma pena que alguns produtores ainda exagerem na dose e mascarem um pouco os fascinantes aromas primários da fruta.

Mas nem tudo é malbec no mundo do vinho argentino. Entre as uvas brancas, a torrontés surge como a principal candidata a ocupar um lugar no trono ao lado da malbec. Muito plantada no país, gera vinhos com intensos aromas de lichia, madressilva, rosas e frutas tropicais. Relegada a segundo plano depois da esfuziante ascensão da malbec, a bonarda é outra uva que merece atenção. Quando bem trabalhada, gera tintos leves, frutados, macios e saborosos, bons para serem tomados jovens. E castas tradicionais como pinot noir (principalmente na Patagônia), cabernet-sauvignon, syrah, petit verdot, merlot, chardonnay, riesling e viognier também se deram bem por lá. E, aos poucos, vão conseguindo espaço no mercado exterior. Beneficiados pela força desta potente locomotiva chamada malbec.

Nota do editor: Esse texto de Alexandre Lalas foi escrito para o prefácio do livro Bistrôs de Buenos Aires, de Alex Herzog
 
Comentários
Niels Bosner
Importador
Porto Alegre
RS
10/12/2010 Alexandre, excelente matéria sobre os vinhos argentinos. Estaremos te enviando amostras da linha SERRERA Torrontes, Bonarda; RUCA MALEN Petit Verdot, Syrah, Malbec e Chardonnay.

Forte abraço,
Niels
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]