"LF""LF""LF""LF""LF"


Matérias relacionadas
Colunistas
 
Desde que o simpático Miles, no filme Sideways, detonou a merlot e defendeu arduamente a pinot noir, que a uva ganhou pontos no imaginário coletivo do consumidor de vinho. Na época do filme, principalmente nos Estados Unidos, o consumidor enlouqueceu. Caixas e mais caixas de tintos feitos com a pinot noir eram vendidas como água, enquanto os merlots, pobrezinhos, agonizavam, esquecidos e empoeirados, em prateleiras de lojas e estoques de produtores.

Alguns anos já se passaram do filme, mas, se não é o sucesso avassalador da época, a pinot não foi parar no limbo das celebridades instantâneas. Vinhos feitos a partir da casta continuam indo bem em restaurantes e lojas especializadas. Ainda bem. Em um mundo repleto de robustos malbecs, cabernets, syrahs e afins, a delicadeza da uva é sempre muito bem-vinda.

E a diversidade de lugares, climas e terroirs em que a pinot é produzida atualmente, tem gerado boas e produtivas discussões sobre a tipicidade da uva. Que o pinot noir clássico é o da Borgonha, ninguém discute. Os bons são elegantes, ricos, intensos e imensos. Os melhores são clássicos inesquecíveis e incomparáveis. Por isso, nos outros cantos do mundo, todos os produtores que arriscam produzir vinhos feitos com a uva buscam uma identidade borgonhesa no vinho. O problema é: existe uma identidade borgonhesa? Qual é, exatamente, o gosto de um pinot da Borgonha?

A chave das duas respostas está na diversidade da região francesa. Um metro quadrado de terra ali não é igual ao outro. Muito mais do que um pinot noir, é um vinho da Borgonha. E não necessariamente ser um vinho da Borgonha é garantia de qualidade. A festejada região, assim como produz clássicos incontestes, faz muita porcaria. E, pior, custam caro.

Portanto, há vida para a pinot noir fora da Borgonha. Recentemente, em uma prova às cegas em Cingapura, que contou com a presença de reputados especialistas do mundo inteiro, um pinot noir austríaco desbancou 33 concorrentes de diferentes países, incluindo rótulos da festejada Domaine de La Romanée-Conti, e ficou com o primeiro lugar. E países como Nova Zelândia, Argentina, Chile, Estados Unidos e Alemanha, além da Áustria, têm apresentado cada vez mais vinhos de qualidade feitos com a pinot noir. Se o DNA é borgonhês, há controvérsias. Mas, certamente, são grandes pinots.
 
Vinhos degustados
Existem pinots em praticamente todos os países produtores de vinho no planeta. O que não quer dizer que todos os lugares do planeta tenham condições de produzirem um bom pinot. A Borgonha é a pátria-mãe da uva. E, não por acaso, é de lá mesmo que saem os melhores pinots do mundo. Mas algumas regiões vinícolas conseguem produzir grandes vinhos também com a pinot noir. Abaixo, uma lista de seis vinhos, sendo três franceses, um argentino, um norte-americano e um neozelandês, todos de ótimo nível, capazes de enriquecer qualquer adega.

Luca Pinot Noir 2008
Mendoza, Argentina
Na Argentina, os pinots mais famosos vêm da Patagônia. Este é de Mendoza mesmo. E melhor do que a maioria dos feitos ao sul do país. Rico no nariz, com notas de cereja, morangos, couro e especiarias. Na boca, boa estrutura, volume, médio corpo, taninos redondos, acidez correta e final longo e frutado.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 87
Onde: Vinci (2236-5390)

Framingham Pinot Noir 2008
Marlborough, Nova Zelândia
Dentre todas as regiões fora da Borgonha que produzem pinot noir, a Nova Zelândia talvez seja a que mais se aproxime da elegância que os vinhos franceses conseguem ter. Este é um bom exemplo. Nariz limpo e intenso, com notas de cereja, framboesa, pimenta do reino e alcaçuz. Na boca, médio corpo, frescor, bom volume e um final médio e frutado.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 129
Onde: Zahil (3860-1701)

Paul Hobbs Pinot Noir Russian River 2006
Califórnia, Estados Unidos
Paul Hobbs é um craque. Especialista em vinhos grandes, ricos, cheios. Neste pinot, além do volume e da estrutura que costuma conferir aos vinhos que faz, Hobbs entregou uma elegância um tanto incomum, que foge um pouco ao estilo que o consagrou. Mas que tornou o pinot, que já era um grande vinho, em um espetáculo. Nariz rico e intenso, com notas florais, de cereja e evolução para alcaçuz e cogumelo. Na boca, combina potência e fineza de forma bem feliz. Gol de placa.
Nota: 9,5
Preço médio: R$ 235
Onde: Mistral (3534-0044)

Louis Latour Aloxe-Corton 1er. Cru "Les Chaillots" 2005
Borgonha, França
Grande vinho de um ótimo produtor, pinot noir em melhor forma. Rico e intenso aromaticamente, com notas de cereja, amora, framboesa e mirtilo. Na boca, é um veludo. Acidez impecável, muita estrutura, elegância, fineza e persistência.
Nota: 9
Preço médio: R$ 345
Onde: Inovini (11) 3623-2280

Château de La Tour Clos Vougeot Grand Cru 2004
Borgonha, França
Clos de Vougeot é um típico exemplo de como escolher o produtor é importante quando se fala da Borgonha. São cerca de 80 donos de vinhedos nos pouco mais do que 50 hectares de terreno. A qualidade do que é engarrafado como Clos de Vougeot Grand Cru varia e muito. François Labet é o sujeito que possui o maior número de vinhas ali. E um dos produtores em que se pode confiar. Este 2004 está uma beleza. Aroma intenso de aspargo verde, com um toque de especiarias. Na boca, harmonia é a palavra. Fresco, elegante, com um volume impressionante. Se a opção for beber logo, decante por, pelo menos, uma hora. Ou então deixe na adega, guardadinho, por mais uns cinco anos. Ou mais.
Nota: 9,5
Preço médio: R$ 735,35
Onde: Decanter (2286-8831)

Domaine Trapet Latricières-Chambertin Grand Cru 2007
Borgonha, França
Vinícola familiar, de viticultura biodinâmica e produção artesanal, a Domaine Trapet é uma das jóias da Borgonha. Este Latricières, em especial, é quase uma dádiva. A etimologia já é um mistério. Para alguns, poetas provavelmente, a origem é alemã e significa 'pequenas maravilhas'. Outros, mais realistas, enxergam na crueza do solo a verdadeira raiz do nome. 'La Tricières' signfica 'terra pobre'. Independente da origem do nome, o vinho está mais para pequena maravilha. Nariz rico e fino, com notas de cereja, framboesa, morango e evolução para pimenta branca, alcaçuz e um toque de couro. Na boca, elegância é a chave. E ainda tem mais estrutura e corpo do que o primo Chapelle-Chambertin, volume e textura que impressionam, taninos macios e um final interminável. Um vinho de excelência, uma experiência rara.
Nota: 10
Preço médio: R$ 880
Onde: Grand Cru (2511-7045)
Comentários
Marcelo Copello
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
21/03/2011 Caro Lalas, parabéns pela 100ª coluna!

Abraços,
Marcelo Copello.
Haroldo Miller Jr
Rio de Janeiro
RJ
23/03/2011 Parabens pela 100ª coluna.

Como você lembrou do filme Sideways, gostaria de comentar a incoerência do personagem, pois ele tinha guardado para uma ocasião excepcional um Cheval Blanc, onde a uva Merlot tem uma presença fundamental.
Jorge Barbosa
Enófilo
Niterói
RJ
24/03/2011 Alexandre.

Um vinho cujo aroma principal é de aspargos verdes tem nota maior que os demais com cereja, mirtilo, mirtilo e alcaçus?
Alexandre Lalas
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
25/03/2011 Marcelo e Haroldo,

Muito obrigado. Eu nem sabia que era a centésima coluna aqui no EnoEventos!!!

Jorge,

O aroma de aspargos verdes no caso daquele vinho não é defeito. E o La Tour 04 está um espetáculo, melhor até do que o 03 do mesmo produtor e que tem apenas os aromas mais convencionais da casta. Daí a nota tão alta. Se você tiver a oportunidade de provar o vinho depois, por favor me diga o que achou.

Abraços
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]