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  "O nível de álcool da merlot está tão alto que corremos o sério risco de perdermos o estilo característico de Bordeaux". A frase é dono do château Leoville Poyferre, Didier Cuvelier. "Uma das vantagens de plantar a merlot aqui no Médoc era justamente o fato de que a uva tinha um amadurecimento melhor do que a do cabernet-sauvignon", explicou o francês. Mas nas safras 2009 e 2010 foi comum casos de merlots ultrapassando os 15% de volume alcoólico, uma situação que Cuvelier classificou como "perturbadora".

Outra importante voz que fez coro às preocupações de Cuvelier foi a do consultor Denis Dubourdieu. Ele notou uma tendência nas propriedades da Margem Direita de ambicionarem uma maior concentração de açúcares nas uvas, e para tanto, apelarem para técnicas como o desfolhamento, o que gera uvas menores e mais concentradas. E, consequentemente, mais alcoólicas.

"Em alguns casos, produtores estão colhendo uvas tardiamente, às vezes mais tarde até do que em Sauternes", afirmou Dubourdieu. "Há uma espécie de corrida em busca da concentração. Acredito eu que tal fato vise agradar o paladar de certos críticos mais influentes", disse. "Sou consultor há 30 anos. Passei 20 anos convencendo os produtores a deixarem as uvas amadurecerem mais nas vinhas. Mas os últimos 10 anos, tenho tentado convencê-los a não colherem as uvas tão tarde", ironizou.

Dubourdieu salientou ainda que "a sequência de boas safras desde 2000 tem feito com que os produtores já não precisem mais apelar para a chaptalização, o que é uma coisa boa". A chaptalização é o processo pelo qual o produtor adiciona açúcar ao mosto para atingir o nível alcoólico desejado.

Uma das maiores autoridades do mundo em merlot, Jean Claude Berrouet, ex-enólogo do Château Petrus, em Pomerol, declarou que "em 40 anos de carreira, vejo o grau alcoólico da merlot subir entre 2% e 2,5%".

Como solução para o problema, Berrouet aposta que o uso de leveduras que produzam menos álcool pode ser uma solução. E vai contra uma tendência de usar clones que tenham uma maturação mais lenta. "Alguns desses clones podem limitar o potencial de determinada variedade na vinha", declarou. Seja por conta do aquecimento global, ou motivado pelo simples desejo de conseguirem pontuações mais altas, o fato é que o grau alcoólico da uva sobe a cada safra. E com a mudança, vai gradualmente caindo por terra o estilo que fez de Bordeaux uma espécie de Meca para os apreciadores de vinho.

Terá o mercado maturidade suficiente para perceber a mudança ou os bebedores de rótulos (milionários disfarçados de amantes do vinho que compram o que o que é mais caro ou aquilo que os críticos bem pontuam apenas para arrotar um suposto conhecimento mas, na verdade, pouco se lixam ou conseguem entender o que está dentro da garrafa) seguirão consumindo o que Bordeaux vender? Quem viver, verá.
 
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