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Colunistas
 
Terry Peabody, norte-americano radicado na Austrália, empresário de sucesso, executivo do ramo de transportes, vivia ouvindo da filha e da esposa que deveria dedicar-se a outra atividade: produzir vinhos. Meio que para livrar-se da insistência feroz das mulheres da casa, Terry disse sim e prometeu amadurecer a ideia. Aprendeu ali que não se faz uma promessa a uma mulher impunemente. As cobranças vieram, com força total, e o empresário rendeu-se à vontade das duas. Ainda sem nome, casa e enólogo, começava a nascer o que viria a se tornar, depois de dez anos de uma incessante busca, uma das grandes vinícolas da Nova Zelândia: a Craggy Range.

Em Londres, em 1996, o viticultor Steve Smith, na primeira tentativa que fez, entrava para o seleto grupo de Masters of Wine (MW). Um ano depois, Smith conheceu Terry, que então, rodava o mundo em busca do terroir ideal para fincar as raízes do sonho que carregava. A procura começou, como não poderia deixar de ser para um apaixonado por vinhos, pela França. Outros sítios, como o vale do Napa, nos Estados Unidos, e Margaret River, na Austrália, foram tentados. Mas um ou outro motivo impediu o negócio de ser fechado. Até que ambos chegaram à Nova Zelândia.

Lá, os dois fundaram as bases da vinícola. A filosofia era simples: vinhos de vinhedos únicos, busca pela expressão do terroir e a qualidade acima de tudo. A inspiração era clara: a França e os grandes vinhos que o país produz. Mas, claro, com uma pitada de Nova Zelândia. Para isso, foram plantados clones e usadas técnicas francesas, tanto na viticultura quando na enologia. E o resultado veio.

Uma análise nos vinhos da Craggy Range mostra bem o tamanho da influência da França nos rótulos da casa, especialmente nos da linha Prestige Collection. Há desde o estilo bordalês, das margens esquerda e direita, nos vinhos The Quarry e Sophia, respectivamente. A Borgonha está representada com dois vinhos: um chardonnay cuja inspiração é claramente Mersault, o Les Beaux Cailloux, e um pinot noir que poderia muito bem ter saído de Chambertin, tamanha a semelhança: o Aroha. Mas o grande vinho da casa mesmo é puro Rhône, mais precisamente, Hermitage: o Le Sol - um syrah espetacular, luminoso, de qualidade rara.
 
Vinhos degustados

Craggy Range Glasnevin Gravels Riesling 2008
Waipara, Nova Zelândia
A tentativa neste vinho foi de produzir um branco ao melhor estilo dos rieslings alemães. E o resultado é bem satisfatório. Rico no nariz, com notas muito marcadas de lima e de flor de laranjeira. Na boca, o alto açúcar residual (42g/L) é contrabalançado por uma acidez vibrante, resultando em um branco que combina bem untuosidade com frescor. Termina bem na boca. Funciona bem como aperitivo ou para acompanhar pratos condimentados da cozinha tailandesa. Também cabe com sushi.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 115
Importador: Decanter

Craggy Range Te Muna Road Sauvignon Blanc 2009
Martinborough, Nova Zelândia
De todos os vinhos degustados no almoço com a cúpula da Cragg Range, este sauvignon blanc é o menos impactante da linha. O que não quer dizer que seja um vinho de segunda linha, muito longe disso. No nariz, tem um perfil mais frutado, até com notas de frutas tropicais, e um toque de frutas cítricas. Na boca, é fresco, com boa presença na boca e um final cítrico. Peca por ser ligeiramente quente.
Nota: 8
Preço médio: R$ 115
Importador: Decanter

Craggy Range Kidnappers Chardonnay 2008
Hawke's Bay, Nova Zelândia
A direção que norteia este vinho é a Borgonha, mais especificamente, a região de Chablis. É este o estilo que se pretende aqui. Em parte, o objetivo é conseguido. Estão aqui o frescor e a leveza dos vinhos daquela região. Mas falta um pouco da mineralidade característica de Chablis, aqui ausente. No entanto, é um belo chardonnay, que foge da opulência e do peso da madeira, sacrificando um maior volume em prol de uma melhor expressão da fruta.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 115
Importador: Decanter

Craggy Range Les Beaux Cailloux 2009
Hawke's Bay, Nova Zelândia
Se no Kidnappers a inspiração é Chablis, neste chardonnay, a Craggy Range elegeu Mersault como norte. Mas, diferente do outro caso, aqui cabe a comparação. No nariz, é rico e fino, com destaque para os aromas florais, com um leve toque cítrico e notas minerais. É delicado na boca, com bastante volume, uma acidez impecável e uma elegância borgonhesa. Ainda não está disponível no Brasil.
Nota: 9
N/D no Brasil

Craggy Range Te Muna Road Pinot Noir 2008
Martinborough, Nova Zelândia
Pinot leve, de clara inspiração borgonhesa, com os aromas clássicos de frutas vermelhas frescas. Na boca, tem médio corpo, taninos finos, é delicado, fresco, volumoso e com um final longo e frutado. Belo vinho.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 175
Importador: Decanter

Craggy Range Aroha Pinot Noir 2008
Martinborough, Nova Zelândia
Mesmo os mais ferrenhos radicais que não enxergam vida para a pinot noir fora da Borgonha baterão palmas e prestarão continência para este vinho. Às cegas, é fácil dizer que trata-se de um chambertin. Impressiona pela elegância, pela estrutura, pela qualidade. Rico e fino no nariz, com notas de frutas frescas, um toque floral, especiarias e evolução para terra, pimenta, alcaçuz e café. Na boca, tem bom corpo, uma acidez gostosa, taninos muito finos, volume e um final longo. A Decanter traz outros vinhos da Craggy Range, mas este, infelizmente, ainda não está disponível no Brasil
Nota: 9
N/D no Brasil

Craggy Range Gimblett Gravels Te Kahu 2007
Hawke's Bay, Nova Zelândia
Corte de merlot, cabernet franc, cabernet-sauvignon e malbec, reforçado por 1% de petit verdot, este é mais um bom vinho desta interessante vinícola neozelandesa. Nariz intenso, com notas de amora, mirtilo, ameixa preta, com evolução para anis, alcaçuz, café e chocolate. Na boca, tem bom volume, médio corpo, taninos macios, acidez perfeita, e um final longo e intenso, que lembra frutas negras.
Nota: 9
Preço médio: R$ 135
Importador: Decanter

Craggy Range Sophia Gimblett Gravels 2006
Hawke's Bay, Nova Zelândia
Corte de merlot, cabernet franc e cabernet-sauvignon, de clara inspiração bordalesa, mais precisamente nos vinhos de Pomerol. Muito rico no nariz, com fruta e madeira muito bem integradas, aromas de frutas maduras, com evolução para especiarias, couro, café, chocolate. Na boca, tem bom corpo, taninos finos, volumoso, harmônico, e longo que só ele.
Nota: 9
Preço médio: R$ 198
Importador: Decanter

Craggy Range Syrah Block 14 Gimblett Gravels 2007
Hawke's Bay, Nova Zelândia
Mais um vinho de inspiração francesa da Craggy Range. Aqui, é o norte do Rhône que dita os rumos. E este syrah honra bem a região que o inspirou. Rico e intenso no nariz, com notas de frutas negras maduras, especiarias e evolução para alcaçuz e licor de amora. Na boca, é encorpado, com taninos maduros, bom equilíbrio e um final longo e cheio de fruta madura.
Nota: 9
Preço médio: R$ 175
Importador; Decanter

Craggy Range Le Sol 2007
Hawke's Bay, Nova Zelândia
A Nova Zelândia é mais conhecida pelos excelentes sauvignon blancs e pinots que produz. Mas este syrah, feito com nítida inspiração francesa, é quase um hermitage e rivaliza com os melhores do tipo produzidos na vizinha Austrália e no mundo. Nariz de riqueza ímpar, com notas de fruta madura, tomilho, anis, terra queimada e couro. Na boca, é espetacular. Intenso, suculento, macio, persistente, deixa a boca com um gostinho de torta de amoras. Combina com carnes de caça.
Nota: 9,5
Preço médio: R$ 340
Importador: Decanter
Comentários
Valdiney Ferreira
L'Orangerie
Rio de Janeiro
RJ
15/07/2011 Meu caro Lalas,

Como faço quase todas as 6as feiras, dedico meu horário do almoço para dar uma espiada no EnoEventos e Wine Report. Evito mais calorias e consigo boas informações. Das badalações nos relatos do Oscar. Do que tem de novidade nas garrafas, nas suas degustações relatadas. Hoje foi particularmente muito bom.

Estou escrevendo um material para o novo site da loja que entra no ar ainda este mês sobre alternativas semelhantes para alguns vinhos padrões, tipo Borgonha branco com carvalho e Chardonnays da África do Sul; Chablis tradicional e Chardonnay sem carvalho da Australia ou da Nova Zelandia, etc...

E aí me deparei com este artigo sobre os vinhos da Craggy Range testados, provados, comparados! Mamão com açúcar ou melhor Sauternes com Roquefort! O blend de inspiração bordalesa, o Chardonnay com jeitão de Mersault e para encerrar um Syrah com a melhor cara do Rhône, um Hermitage... Não dá prá dispensar tamanha e tão boa moleza! Vou pegar uma cola e usar as dicas. Se tiver pedágio depois eu pago com alguma boa garrafa.

Bom final de semana.
Abcs, Valdiney
Alexandre Lalas
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
17/07/2011 Valdiney, meu camarada, companheiro de batalha nas hordes flamengas... Use sem moderação, sempre que quiser e precisar, os textos do vosso humilde amigo.
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]