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 O enólogo francês Michel Rolland justifica como poucos a alcunha de flying winemaker. Atualmente, ele dá consultoria para um sem número de vinícolas em 14 países. Já foram 20.
No Brasil, desde 2002 presta serviços à Miolo. E nestes nove anos viu muita coisa mudar - e para melhor - na viticultura brasileira. Se na época, os bons vinhos eram raros, hoje já há bastante rótulos dos quais o Brasil pode ser orgulhar. Mas Rolland adverte que o caminho é longo e ainda é muito cedo para encontrar uma identidade definida no vinho nacional.
Em São Paulo, para apresentar as novas safras dos vinhos da Miolo, Michel Rolland falou com este colunista sobre como têm sido estes nove anos com a Miolo, vinho nacional e até a respeito dos preços de 2010 dos vinhos de Bordeaux.
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Alexandre Lalas |
Michel Rolland |
De 2002, quando o senhor começou a trabalhar com a Miolo, até hoje, o que já mudou e o que ainda é preciso fazer na vitivinicultura da empresa? |
Em nove anos de parceria, já deu pra mudar muita coisa, modernizamos as as vinhas e mesmo a adega. Quando eu cheguei, quase todas as vinhas eram em latada. Mas ainda há muito mais a fazer. O Brasil não é um país com história na produção do vinho.
Na França, nunca precisei perguntar para o meu avô o que deveríamos plantar nas nossas vinhas em Pomerol. Por séculos já sabíamos que a merlot era a casta que melhor se adaptava ao nosso terroir. Aqui não. Temos que estar sempre investigando, testando. Assim conseguimos definir melhor o que funciona onde.
Por exemplo, já sabemos que a merlot vai bem no Vale dos Vinhedos, enquanto as castas portuguesas e a cabernet-sauvignon conseguem um bom rendimento na Campanha. Estamos trabalhando uma vinha velha de tannat e também pesquisando as possibilidades da cabernet franc na Serra Gaúcha.
E é assim, aos poucos, que vamos conseguindo aperfeiçoar as coisas e fazer vinhos melhores. E sempre lembrando que a cada ano temos ainda mais trabalho e coisas novas a fazer.
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Quando esteve aqui em 2007, o senhor disse que o Brasil era como um piloto promissor em início de carreira, que, apesar do potencial que apresentava, ainda era cedo para dizer se poderia chegar à Fórmula 1. Hoje já é possível afirmar que podemos sentar no cockpit de uma Ferrari? |
(risos) Acho que ainda não dá pra dizer que já podemos pilotar uma Ferrari. Mas já estamos nove anos à frente de onde estávamos. Agora, não adianta falar sobre um ou outro bom vinho feito no Brasil. O país vai entrar definitivamente para o clube dos grandes produtores quando tiver uma quantidade consistente, por anos a fio, de bons vinhos.
O Brasil faz progressos a olhos vistos, mas como falei para você em 2007, ainda é cedo para saber até onde os vinhos brasileiros podem chegar. Acho cedo até pra afirmar que já exista uma identidade brasileira nos vinhos e tampouco para apostar que o país será capaz de produzir excelentes rótulos. Temos que esperar muito ainda para fazer uma afirmação destas.
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E sobre o Nordeste, o que já é possível esperar dos vinhos feitos no Vale de São Francisco? |
Acho muito difícil que a gente consiga fazer grandes vinhos ali no Nordeste. Mas já temos condições de produzir bons rótulos, e a preços justos, na região. É um lugar interessante e com um bom futuro pela frente. |
A safra 2011 foi festejada como a melhor dos últimos anos no Brasil. O senhor compartilha desta opinião? |
A safra 2011 foi, provavelmente, a melhor que vi aqui no Brasil desde que comecei a trabalhar com a Miolo. Tivemos um bom ano também em 2005, mas posso garantir que este foi ainda melhor. Especialmente na Campanha. Acho que teremos belos vinhos. |
Mudando um pouco de assunto, o que o senhor está achando da campanha 2010 em Bordeaux? Os preços estão justos? |
Quando se fala destes preços estratosféricos de Bordeaux, estamos nos referindo a 20, 30 châteaux mais badalados. A grande massa de produtores da região não colhe os mesmos frutos desta grande especulação e até sofre para conseguir vender os seus vinhos. Mas, realmente, os preços dos grandes châteaux neste ano estão mesmo muito caros. |
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