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 Marcelo Retamal foi eleito, em 2004, pelo Guia de Vinhos do Chile, o melhor enólogo do país. Prêmio mais do que justo para este profissional que há anos ganha o pão de cada dia fazendo os vinhos da De Martino, uma das mais importantes vinícolas chilenas. Mas Marcelo não é daquele tipo que se aquieta e senta em cima do reconhecimento que consegue. Falante, agitado, inquieto, o enólogo quer é mais.
Franco como poucas vezes se vê em qualquer atividade, Marcelo é capaz de dizer que não gosta dos vinhos que faz. "São muito concentrados, potentes, modernos. São bons, muito bem feitos, os críticos gostam, o mercado compra, meu patrão fica feliz, mas não fazem a minha cabeça. Prefiro vinhos mais elegantes e é atrás disso que eu vou", disse o enólogo em recente visita ao Rio, quando veio apresentar os vinhos da De Martino.
E para ir atrás do estilo que gosta, Marcelo teve que dobrar a aposta e pagar pra ver. Afinal de contas, convencer o dono da vinícola a mudar o que está dando certo não poderia ser tarefa das mais fáceis. "Cheguei para o meu patrão e disse que se ele não me deixasse fazer as mudanças que eu desejava, eu sairia da vinícola", conta o enólogo. "Não foi simples, tive que convencer a ele que eu estava certo e Robert Parker, errado", explica.
E as mudanças não são poucas. Nada mais de barricas novas no vinho, colheitas mais precoces, menos extração, menos concentração, uso apenas de leveduras naturais da uva, agricultura orgânica. Tudo em nome da tipicidade e da elegância. Marcelo quer fazer vinhos que reflitam o terroir de onde nascem. Quer fugir da estandardização da bebida. "Muitas vezes, se o enólogo quer um aroma de pêra no sauvignon blanc, ele vai lá e pega uma levedura que empreste tal sabor ao vinho. Eu não gosto dessas coisas. Quero que meus vinhos sejam únicos, pois representam uma única terra, em um clima específico, um solo diferente e um pensamento próprio: o meu", resume.
Segundo Marcelo, a partir de 2011 já se poderá notar a diferença nos vinhos da De Martino. Até lá, ainda há muito o que provar. Neste evento no Rio, realizado no Porcão de Ipanema, o enólogo mostrou oito rótulos. Abaixo, as notas de degustação dos vinhos provados.
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Vinhos degustados |
 De Martino Sauvignon Blanc Parcela #5 2009
Vale de Casablanca, Chile
Fermentado em inox e mantido com as borras até o engarrafamento, eis um bom sauvignon blanc feito pela De Martino. No nariz, maracujá, frutas cítricas. Na boca, é leve, fresco, com bom equilíbrio, cítrico na boca e com um final curto.
Nota: 8
Preço médio: R$ 84
Importador: Decanter
De Martino Chardonnay Quebrada Seca 2009
Vale do Limarí, Chile
Chardonnay fermentado em barrica, intenso no nariz, com notas de frutas tropicais, torta de maçã, baunilha; de médio corpo, com boa acidez, volume, final longo e frutado em que sobra um pouco de álcool.
Nota: 8
Preço médio: R$ 84
Importador: Decanter
De Martino Carmenère Reserva Legado 2008
Vale do Maipo, Chile
Discreto no nariz, com notas de fruta madura e pimenta. Na boca, tem médio corpo, taninos presentes, acidez correta, falta volume, tem um final médio, com sobra de álcool e ligeiro amargor.
Nota: 7
Preço médio; R$ 63
Importador: Decanter
De Martino Syrah Reserva Legado 2009
Vale do Choapa, Chile
Bom de nariz, com notas de frutas negras maduras, especiarias, um toque de couro e evolução para café. Na boca, tem bom corpo, acidez bem marcada, taninos presentes, médio volume e final apimentado.
Nota: 8
Preço médio: R$ 63
Importador: Decanter
De Martino Syrah Single Vineyard Alto Los Toros 2008
Vale de Elqui, Chile
Syrah de vinhedo único, intenso no nariz, mas com a madeira sobressaindo e escondendo a fruta. Na boca, os taninos ainda estão um tanto rústicos, tem acidez bem marcada, bom corpo, médio volume e final não muito longo e apimentado.
Nota: 8
Preço médio: R$ 92,30
Importador: Decanter
De Martino Cabernet Sauvignon Single Vineyards Las Águilas 2008
Vale do Maipo, Chile
Cabernet de vinhedo único, com 16 meses de estágio em barricas. Rico e intenso no nariz, com notas de cassis, figo, especiarias, canela. Na boca, tem bom corpo, volume, taninos macios, boa estrutura, acidez correta e final longo e relativamente doce. Um cabernet de estilo moderno, bem ao gosto do mercado (e dos críticos) norte-americano. Novo Mundo até a medula. Nem por isso, menos bom.
Nota: 8
Preço médio: R$ 84
Importador: Decanter
De Martino Old Bush Single Vineyard Las Cruces 2006
Vale do Cachapoal, Chile
Corte malbec com carmenère e mais algumas uvas não identificadas, este é um dos melhores rótulos produzidos pela De Martino. Rico no nariz, com notas de violetas, cerejas, especiarias, grafite, cogumelos e evolução para chocolate. Na boca, tem bom corpo, profundidade, volume, bastante concentração escorada por uma boa acidez e taninos firmes. O final é longo e saboroso. Grande vinho, ainda merece mais um par de anos na garrafa.
Nota: 9
Preço médio: R$ 92,30
Importador: Decanter
De Martino Familia 2005
Vale do Maipo, Chile
De uma vinha quase quarentona saem as uvas para este tinto, corte de cabernet-sauvignon (91%) com malbec (4,5%) e carmenère (4,5%), com estágio de 24 meses em barricas novas de carvalho francês. Intenso no nariz, com frutas negras bem maduras, creme de cassis, notas terrosas, com evolução para azeitonas e um toque de fumo. Na boca, é encorpado, quase mastigável, tem volume, taninos quase doces, e um final longo e quente. Carece um pouco de frescor.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 239,70
Importador: Decanter |
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