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A proposta de mudança na legislação em Montalcino que permitiria a adição de até 15% de outras uvas que não a sangiovese na produção do Rosso local foi rejeitada pela maioria dos produtores da região. Após longo debate, a ideia da direção do Consorzio del Vino Brunello di Montalcino não passou no crivo dos votantes, que por larga maioria (69% dos votos) foram contrários à flexibilização da legislação. Com o resultados, a identidade do Rosso di Montalcino foi preservada e o vinho continua a ser produzido apenas com a sangiovese.
A vitória esmagadora deixou a maioria dos produtores exultantes. "Apenas com 100% de sangiovese nós podemos manter intacta a força do nosso terroir e buscarmos a diferença em relação a outras regiões", defendeu Andrea Costanti, da Conti Costanti, um dos que votou contra a medida. Francesco Marone Cinzano, da Col d'Orcia, disse que "o resultado mostrou claramente que nós queremos manter o pedigree dos nossos vinhos".
Para Jacopo Biondi Santi a mudança salvou a vida da região. "Graças a Deus meus colegas tomaram a decisão certa. Não apenas em termos qualitativos, mas também por razões comerciais, esta mudança seria um desastre. Se mexêssemos na lei, vários produtores iriam poder registrar os seus vinhos como um rosso e isso causaria uma inundação de vinhos sem tipicidade no mercado", explicou Jacopo.
O debate sobre a mudança de legislação ganhou força em 2007, quando uma bomba estourou sobre Montalcino. Na ocasião, um promotor de Siena acusou diversas vinícolas de usarem uvas não autorizadas na produção dos brunellos e dos rossos e apreendeu quase 800 mil caixas de vinho. Nomes importantes como Banfi, Argiano, Castelgiocondo e Pian delle Vigne estavam entre os implicados naquilo que o promotor chamou de "fraude". Embora nenhum dos produtores tenha admitido a culpa, vários preferiram classificar os vinhos como IGT e não mais como brunellos. Seis membros do Consorzio foram processados pela corte.
Na verdade, embora a legislação não permita a adição de outras uvas desde 1968, não são poucos os casos de produtores que adicionam uma pequena - mas significativa - parcela de merlot ou cabernet-sauvignon aos bunellos e rossos que produzem.
Desde a eclosão do escândalo, os membros do Consorzio discutiam possíveis mudanças na legislação. Os defensores da ideia argumentavam que em Chianti, os produtores podem usar até 15% de uvas de outras variedades. Outra questão era comercial. Segundo alguns, uma flexibilização das regras permitiria "amaciar" o rosso di montalcino e favorecer a conquista de novos mercados. Favorável à mudança, o presidente do Consorzio, Ezio Rivella digeriu bem a derrota e disse estar pronto para "batalhar por melhores dias para o rosso, agora que sabemos que rumo devemos tomar".
O debate sobre a questão das uvas sombreia outros sérios problemas pelos quais passa a região. O sucesso arrebatador dos brunellos nos anos 1980 é apenas uma vaga lembrança. Hoje em dia, as vendas estão longe de acompanhar o aumento na produção na área. E a qualidade, antes garantida, anda cada vez mais discutida. O vilão está na ponta da língua dos produtores mais tradicionais de Montalcino: o crescimento desordenado.
"Há dez anos, bastava a marca 'Brunello di Montalcino' no rótulo para que o vinho vendesse bem. Agora, o nome da vinícola é que alavanca as vendas", afirma Guido Orzalesi, gerente geral da Altesino, uma das mais tradicionais casas da região. Impossível não concordar. Se em 1980 haviam apenas 53 vinícolas em Montalcino, hoje este número ultrapassa 200. O número de vinhas cresce em igual proporção. Em meio século passou de 150 acres para 5 mil. "Há muitas vinhas plantadas em lugares que não são bons para a sangiovese", explica Orzalesi.
Eis aí, muito provavelmente, a mãe de todos os problemas na região.
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