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 Para conseguir matar a minha vontade de comer os crepes do Le Blé Noir, tive que ser tão persistente quanto os marinheiros bretões que viajaram para América do Sul em 1698 para colonizar as Malvinas. Casa sempre lotada! Filas e mais filas! Mas quando consegui ir lá, fiquei satisfeita. Já os marinheiros bretões... tenho lá minhas dúvidas se as Malvinas valeram tanto a pena assim. Mas o segredo da façanha de conseguir mesa no Le Blé Noir é simples: basta chegar cedo. Bem cedo, tipo antes das nove. Do contrário, há que esperar. Mas, como dizem por aí, quem espera sempre alcança. Eu, que odeio filas, preferi chegar cedo mesmo.
Ainda me lembro de quando viajei para a Bretanha. Nicolle, minha filha, ainda era pequena. Devia ter uns cinco anos. Passamos uns quinze dias por lá. Comíamos crepe todos os dias. Ela bebia suco de maçã. Eu e minha mãe, cidra. Era tanto crepe que, no final, ela já não agüentava mais e perguntava quando iríamos voltar a comer comida de verdade. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, o crepe feito na Bretanha, com trigo sarraceno, é muito nutritivo. O cereal é chamado de "rei da proteína vegetal". E, além de rico em proteínas, é facilmente assimilado pelo organismo. Portanto, quando estiver se sentindo fraquinho, já dei a dica sobre o que comer.
Nicolle ainda estava um pouco ressabiada em comer crepe. Mas como éramos quatro, ela foi voto vencido. Conversa vai, conversa vem, ela escolheu montar seu próprio crepe. Brie e presunto. Também preferi escolher o que queria no meu. Fui de queijo de cabra, tomate seco e folhinhas de manjericão. O Alexandre quis um dos já montados, com pato defumado. Parecia muito bom, mas sobrou no prato. O Álvaro, amigo nosso apaixonado pela França, também optou por um já montado, em que se destacavam suculentas maças carameladas e flambadas com calvados. Peço desculpas, pois me concentrei tanto no meu pedido que me esqueci de anotar o nome das escolhas do Alexandre e do Álvaro! Mas foram todos acompanhados por uma deliciosa cidra, como não poderia deixar de ser.
Na hora da sobremesa, mais crepe! Sempre peço o de chocolate com banana. Um clássico! O problema é ter que dividir, como nesse caso, com a mesa toda! Na hora de pedir a sobremesa, ninguém quer. Dizem que estão satisfeitos. Isso até o meu crepe chegar! O cheiro já é de enlouquecer. O chocolate fica derretido, perto da banana, com aquela massa fininha e crocante. Hummmmm.... Aí não tem mais jeito, todos querem um bocado. Ou seja, tivemos que pedir mais garfos ao garçom e dividir o prato.
Saímos de lá felizes. Eu ainda mais. Até porque a Nicolle finalmente voltou a gostar de crepe. Foram seis - duros - anos de abstinência. No final, ela até me agradeceu por tê-la levado a esse pedaço da Bretanha no Rio. Mas, na verdade, quem tem que agradecer sou eu. Agora vou poder comer crepe quando bem entender. Se conseguir chegar lá cedo, é claro!
Le Blé Noir Rua Xavier da Silveira, 19 A Copacabana (21)2267-6969 $$ (entre de R$ 50 e R$ 100 por pessoa, entrada, prato principal para dois e sobremesa) |
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