Dica de amigo é coisa para ser levada a sério. Ainda mais vinda do Mu Carvalho, músico consagrado e gastrônomo viajado nas horas vagas. Quando ele soube que eu e Alexandre iríamos para Paris, não hesitou e disse que tínhamos que experimentar "o melhor cheeseburger do mundo". Ouvindo isso, a vontade de provar cresceu ainda mais.
Aproveitei que Alexandre e eu havíamos marcado com um amigo nova-iorquino (portanto, especialista em sanduíches) de nos encontrarmos em Paris, e sugeri que fôssemos até o recomendado restaurante, o Le Castiglione. Quando chegamos, li o cardápio todo. Não encontrei o tal cheeseburger. Cheguei até a sentir certo alívio. Afinal, desde o princípio tinha achado essa história de comer cheeseburger em Paris meio sem pé nem cabeça. Onde já se viu, tanta coisa gostosa para comer e nós pedindo um pão com carne e queijo. Já havia até escolhido as vieiras. Nem deu tempo de pedir. Antes que a garçonete pudesse anotar os pedidos, o Alexandre vira-se e diz:
- Achei, tá aqui! Le Casti Burger.
Não teve jeito, fomos todos no bendito sanduíche. Na mesma hora, me lembrei de um momento muito bom do filme Pulp Fiction: um diálogo entre Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson). Enquanto Jules dirige, Vincent conta sobre sua experiência na Europa, onde as coisas são um pouco diferentes. Pergunta se ele sabe como se chama um sanduíche do McDonald's, chamado quarteirão com queijo, na França. Samuel responde quarteirão com queijo. John responde que não e sim Royale com queijo. E Big Mac é Le Big Mac. Foi assim que me senti quando ouvi Le casti burger.
E, de fato, as coisas são realmente diferentes na Europa. Ou melhor, um cheeseburger não é somente um pão com queijo e carne. É o caso do Le Casti Burger, que fica na memória por muito tempo. Logo quando chegou, achei monstruoso. Parecia muito cheio de molho. Não sabia nem se conseguiria comer o sanduíche com garfo e faca. E além do molho, ainda coloquei mostarda. Ficou divino. Comi tudo. Sem deixar nem um pinguinho de molho. As batatas que acompanham são mais grossas e bastante crocantes. Saí de lá muito satisfeita, feliz. Principalmente por ter deixado de ser, pelo menos naquele momento, preconceituosa sobre o que devemos comer e onde. Mu estava certo. O Le Casti Burger é fabuloso.
Fiquei ainda lembrando daquele cheeseburger por alguns dias. E eu, que cheguei a pensar em nem pedir o tal sanduíche, ainda convenci o Alexandre a bisar o restaurante! Fiquei feliz feito uma criança quando consegue o que quer. E o segundo Le Casti Burger estava tão bom quanto o primeiro. Já estou pensando na próxima vez que eu for a Paris...
Le Castiglione 235 Rue Saint-Honoré 75001 Paris Tel. 01 42 60 68 22
Comentários
Nelson Lemos Jornalista Rio de Janeiro RJ
30/04/2010
Luciana,
Faltou informar o preço do sanduíche. E também outras informações sobre o restaurante, os vinhos lá servidos, ambiente, etc. Afinal, é curioso existir um restaurante desse tipo em Paris e se os franceses também o frequentam.
Pedro Landim Jornalista Rio de Janeiro RJ
30/04/2010
A outra questão que o diálogo de Pulp Fiction coloca: na Holanda, batatas fritas vão com maionese no lugar do inevitável ketchup americano.
Minha curiosidade nesse cheeseburger do Zidane é o molho. Parece um estilo rosé... Não me diga que lembra o molho do Le Big Mac...
Alexandre Lalas Colunista Rio de Janeiro RJ
01/05/2010
Nelson, o Le Casti Burger custa 22 euros. A carta de vinhos é modesta, mas funcional. Nós abrimos os trabalhos com uma taça de champanhe e depois pedimos um Rully (não lembro o nome do produtor). Embora esteja em uma área repleta de turistas, muitos parisienses comem ali.
E Pedrinho, pode ficar tranquilo. O molho não lembra em nada o do Le Big Mac...
Abs, Lalas
Rafael Mauaccad Enófilo São Paulo SP
02/05/2010
Luciana,
Acompanho semanalmente suas matérias, desde a primeira delas sobre o Fasano Rio. No início, tive a errônea expectativa de encontrar em seus textos descrições de aspectos objetivos, julgamentos de mérito, avaliacões e valorações dos analisados, como crítica de gastronomia.
Com o passar do tempo, identifiquei seu modo de captar os flagrantes, os acontecimentos, sua visão do mundo, sempre narradas na primeira pessoa, dialogando de forma simples e espontânea, situando-se entre o jornalismo e a literatura. Reconheci então a excelente cronista jornalística que é você.
Continue nos presenteando com a beleza de seus textos.
Abracos,(sem ciúmes Lalas !!) Rafael
Nicolle Plaas Voss Estudante Rio de Janeiro RJ
05/05/2010
Mami,
Gostei muito dessa coluna. As batatas na foto me deixaram babandoooooo de fomee e você nem imagina como eu to sonhando pelo sanduicheee. haha