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Foi um jantar daqueles. No convite enviado pela Casa Flora, dizia: Degustação de Jerez da Bodega Rey Fernando de Castilla seguida de jantar. O lugar, Le Pré Catelan. Estava tão ansiosa que Alexandre e eu chegamos 10 minutos antes da hora marcada, coisa rara. Mal entramos no restaurante, demos de cara com uma pata de jamon ibérico estacionada em uma mesa, com vários outros embutidos em volta. Estava faminta e até foi bom, porque é impossível parar de comer aquelas gostosuras. Para acompanhar, Jerez Fino. Que caiu muitíssimo bem.
A degustação foi conduzida por Jesús Peláez, que é o diretor da bodega. Uma figura muito espirituosa, que explicou, ou pelo menos tentou fazer com que entendêssemos, um pouco mais do Jerez.
Nos sentamos na parte reservada do restaurante, uma sala toda vermelha, que contribuiu dando mais exclusividade ao evento. Entre os convidados, vários chefs. Coisa muito rara conseguir juntar tantos deles em uma só mesa e no mesmo dia. Estavam lá: Flávia Quaresma; Frédéric de Maeyer; Frédéric Monnier; Jean-Yves Poirey; Pierre Landry e Renato Freire. Isso sem contar o próprio Roland Villard, além de Dominique Guerin, que juntos estavam preparando nosso banquete, mas que de vez em quando passavam para nos prestigiar no salão, dar uma escapadela da cozinha e aproveitar para ver se estava tudo dentro dos conformes.
Começamos o jantar com um Crocante de salada de cavaquinha com legumes temperados, azeite de trufas e redução de vinagre balsâmico. Servido com Jerez Fino Classic. Harmonização perfeita. O prato parecia uma torre. Na base, os legumes, tomates, pepinos, todos cortados bem pequenos. No segundo andar a cavaquinha. E no topo umas folhas para dar mais leveza ao prato. Mais uma vez não notei o azeite de trufas, sinal que foi bem empregado. A redução de balsâmico deu um toque doce ao prato.
O prato principal, para harmonizar com Jerez Oloroso Antique foi Carré de cordeiro assado e lombo em crosta de azeitona, raviólis de queijo de cabra e chutney de frutas secas. Houve quem discordasse da harmonização. Este vinho para mim é o mais difícil dos Jerez. Sinto um amargo logo que coloco na boca e depois vai mudando. Harmonizá-lo, então, difícil até em pensamento. Confesso que gostei da aposta do Roland, principalmente a parte do lombo com crosta de azeitona. Tacada de mestre. Ou melhor, de chef. O chutney combinou com o segundo momento do vinho, quando já passou o amargor. Vou poupá-los dos elogios à maciez do cordeiro, porque não se espera outra coisa. Agora os raviólis estavam de morrer. O queijo de cabra com o chutney era um caso à parte.
Na hora da sobremesa: Torta de chocolate com avelã, mil folhas de baunilha e sorvete de pistache. Servida com dois vinhos: Jerez Cream Classique e Jerez Pedro Ximénes Classique. Tinha prá todos os gostos. Para os fãs da avelã, como eu, não sobrou nem uma migalhinha. Tinha também o imbatível mil folhas. Os que não queriam abusar, se lambuzaram com o sorvete. E ainda para os que não gostam de sobremesa puderam se contentar com os vinhos. Mais democrático que isso, impossível.
Foi uma noite como poucas. Além de conseguir, com louvor, preparar um jantar inteiro harmonizado com os vinhos de jerez, ainda teve o mérito de juntar na mesma mesa a nata da gastronomia francesa no Rio de Janeiro. Coisas que só quem tem muito talento, carisma e simpatia é capaz de fazer.
Le Pré Catelan
Avenida Atlântica, 4240 - Copacabana
Tel. (21)2525-1160
www.leprecatelan.com.br
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