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Quando encontrei a Roberta Sudbrack pela primeira vez, ela estava dando uma aula de culinária, no Celidônio, em Botafogo e trabalhava no Palácio da Alvorada. Nessa época, eu não tinha a menor ideia de que uma dia fosse escrever sobre gastronomia. Depois, nossos encontros seguintes foram todos com ela do lado de lá, na cozinha, e eu do lado de cá, no salão. Todas as vezes que fui a seu restaurante, sempre tirava fotos dos pratos, me encantava com os sabores, mas não conseguia escrever o texto. Acho que não estava preparada. Nunca conseguimos conversar. Da última vez que fui lá, por conta do Guia da Danusia Barbara, ainda no carro, a caminho do restaurante, enquanto no rádio tocava o mestre Luiz Gonzaga, eu pensava se dessa vez conseguiríamos conversar.
Logo que nos sentamos, percebemos que no restaurante também tocava Luiz Gonzaga. Seria um sinal? Uma conexão entre nós? Até porque a impressão que tenho, quando entro no restaurante dela, mesmo sem a conhecer direito, é de que estou entrando em sua casa. Uma casa onde tudo fica mais calmo e quase perco a noção do tempo.
E o serviço começa. Uma Burrata pequenina, com um fatia de tomate, parecendo um filé. Muitas ervinhas: tinha tomilho, aneto e algumas florezinhas. Parecia um desenho. Na boca, os sabores iam se misturando, cada hora sentia o gosto de uma erva diferente. Ainda tinha um crocante para completar as texturas.
Depois de um prato tão colorido, chegou o outro; prato branco, com uma espuma branca e uma gema no meio, enfeitado com um folhinha. O nome: Farofa de ovo, com banana, pós moderna. Na primeira colherada, logo senti a farofa, que apesar de estar envolta em ingredientes úmidos, estava super crocante. Quando a gema estourava, misturava-se com a banana e a farofa e fazia qualquer um levitar.
Em seguida veio a Chicória frise, com pedacinhos de abóbora assada, as sementes crocantes da própria abóbora e parmesão. Mesmo quem diz não gostar de chicória, depois de provar essa, quero ver torcer o nariz. Dava para sentir uma acidez que junto com o doce da abóbora ficava na medida certa.
O quarto prato foram Raviólis de todos os cogumelos. Do momento em que o prato chega à mesa, até eu poder prová-lo, leva um certo tempo. Tem a foto e as anotações do que foi dito do prato. Enquanto isso vou sentindo aquele cheiro e tentando imaginar os gostos. Nesse prato senti o aroma da castanhas, que estava me enlouquecendo. Na boca uma delicadeza só.
Chegou a hora e a vez dele, o Porquinho. E quem lê minhas colunas sabe como eu gosto de um porquinho! Dessa vez era só a barriga dele, minha parte favorita. Quando olhei de cima, parecia um tiramisu. Mas era a barriga. Do caldo, eu poderia tomar uma panela inteira, sozinha. Todas as ervinhas do primeiro prato estavam de volta, enfeitando ainda mais o contexto. Era pra comer de colher mesmo, de tão macio e gostoso.
Para limpar a boca, antes da sobremesa, Sorbet da goiaba do vizinho. A mesa vizinha à nossa escutou e não entendeu nada e perguntou que história era aquela. No fim das contas, pediu a mesma sobremesa que a gente. Estava tão bom que mesmo eu, que não sou muito fã de goiaba, comi tudo.
Aí vieram as sobremesas, em dose dupla. Uma para mim, outra para Danusia. A minha foi uma Torta quente de chocolate. A massa era bem fininha, quase uma maldade quebrá-la. A dela foi uma das minhas preferidas, Doce de leite com um canudinho crocante.
Na hora da saída, a Roberta veio se despedir. Agradecemos muito o almoço. Falei pra ela da coincidência musical e foi só. De novo, não conseguimos conversar muito. Mas nem precisou. Têm pessoas que sequer precisam falar para que se entenda o que elas querem dizer. Acho que a Roberta é assim. Ela fala através da sua comida e fim de papo.
Roberta Sudbrack
Rua Lineu de Paula Machado, 916
Jardim Botânico
Rio de Janeiro - RJ
(21) 3874-0139
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