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Você iria a um restaurante que não tem cardápio e onde você só sabe o que vai comer na hora em que o prato chega na mesa? O 100 Maneiras, do chef iugoslavo Ljubomir Stanisic, é assim. Lá, tudo o que o cliente pode escolher é o vinho que vai beber e se a água será com ou sem gás. Apesar de diferente, não é preciso ter medo. A preocupação com o cliente é constante. Logo que nos sentamos, a garçonete nos perguntou se tínhamos alguma restrição alimentar.

O 100 Maneiras fica no Bairro Alto, uma zona cheia de restaurantes e bares de Lisboa. Passeando pela região você se depara, a todo momento, com os varais de roupas penduradas. Não foi à toa que o primeiro prato se chamava Estendal de bacalhau desidratado. Tinha um gosto defumado e era muito crocante, lembrando baconzitos só que verdadeiramente melhor. Uma bela homenagem à marca registrada do Bairro Alto.

Seguimos com uma Sopa de melão e bombom de foie grãs. A garçonete disse para bebermos a sopa e depois comer a colherzinha de foie gras que tinha um pouquinho de chocolate, combinação que já havia provado em outro restaurante, no início de viagem.

Logo em seguida veio a Vieira marinada com azeite de avelã, purê de aipo e vinagrete de trufas. A viera era servida em forma de carpaccio. Muito delicado. Depois, comemos um Tartar de salmão com creme de flor de sabugueiro, pesto de gergelim e piso de ananás.

Lá as coisa acontecem com uma certa cadência, num ritmo preciso. As quantidades são na medida exata. Nem mais nem menos.

Mesmo assim, àquela altura estava esperando por alguma coisa quentinha. Apesar de não ter dito isso em voz alta, meu desejo foi realizado. Nos trouxeram Aletria de tinta de choco com lulinhas. Me fartei. Mesmo com uma porção pequena, ou melhor, uma porção no tamanho certo.

O prato seguinte foi a Corvina salteada com batata migada e azeite de manjericão. Adorei a batata.

A garçonete chegou à nossa mesa para anunciar o próximo prato e disse: "- Este é o limpa-palato: Sorvete de menta com lima e champagne."

Veio uma surpresa inspirada no Brasil: Picanha com feijão preto, bolinho de arroz e couve mineira crocante. Deu até pra sentir saudades de casa.

Quem disse que o chef iria deixar passar uma refeição sem o famoso Queijo da Serra da Estrela? Pois é, veio, só que no 100 Maneiras não poderia ser simplesmente um porção de queijo. Veio gelado e com marmelada e espuma de banana. Nossa garçonete disse para comermos de baixo para cima. Fez todo sentido.

Para fechar o jantar, Falso cheesecake de pêssego. Que delícia!

Ljubomir tinha um outro restaurante em Cascais. Com a crise, fechou aquele, que era bem mais caro, e abriu esse, cujo menu-degustação, custa 28 euros. Como são poucos lugares, é preciso fazer reserva.

O restaurante diminuiu o preço mas não mexeu na qualidade dos produtos e nem no treinamento da equipe. Tudo é muito preciso. A ordem dos pratos, o tempo entre os serviços, a quantidade das porções, a segurança de quem está servindo, que dá as explicações necessárias para o melhor entendimento e forma de comer os pratos, para que o cliente possa sentir exatamente o que o chef está propondo em termos de sabores e texturas. É como se o chef tivesse prestado atenção às centenas de detalhes que fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso de um jantar. Afinal de contas, o cliente sequer sabe o que vai comer. E é bom que nem precise escolher.

No fim das contas, até mais do que a comida (muito boa, por sinal), o que mais me encantou no 100 Maneiras é o conceito. Talvez nem todo mundo entenda, mas, para mim, funcionou com precisão. Depois de comer 10 pratos, dormi o sonho dos anjos. Nada pesou. Só não sei se no Rio de Janeiro um restaurante com uma proposta ousada assim teria êxito. Infelizmente.

100 Maneiras
Rua do Teixeira, 35
Tel: 210990475
Lisboa
www.restaurante100maneiras.com
 
Comentários
Eduardo Artur Neves Moreira
Economista e enófilo
Rio de Janeiro
RJ
29/11/2010 Portugal é assim. Principalmente no que diz respeito à gastronomia, estamos sempre sendo surpreendidos favoravelmente.

Acabo de chegar de mais uma viagem a Portugal (cheguei há 15 dias) e a cada viagem sou sempre agraciado com um novo sabor, um novo prato, um novo vinho. Não há como fazer uma dieta de emagrecimento numa digressão a Portugal, pois a mesma tende a ser mal sucedida. As comidas são deliciosas e os vinhos são fantásticos.
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