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Demorei muito para ter coragem de ir ao Oro. Ouvia tanto que o chef Felipe Bronze estava fazendo isso, aquilo. Acho que fiquei com medo. Até porque não sou muito fã dessa modernidade toda. Tomei coragem, marquei com um grupo de amigos e fomos. A primeira coisa que gostei, foi entrar no restaurante pelo lado oposto aonde era a entrada do último restaurante que abriu ali, o XX. Aliás tudo é o oposto do antecessor, que fechou com menos com menos de um ano de funcionamento e era a tradução da irregularidade.

Do salão, dá pra ver o que acontece na cozinha, só que eles não conseguem ver os clientes. Nada lá é convencional. Para quem vê de fora, a luz da cozinha é fúcsia, e dá um clima de laboratório e ficção científica. Mas acredito que lá dentro, a luz seja branca mesmo, tradicional, ou seria complicado cozinhar.

Logo chegou o maître Raul de Lamare que nos apresentou o cardápio. Como não sabíamos exatamente o que escolher, decidimos colocar o nosso jantar nas mãos do chef.

Chegou uma porção de coisas de uma vez só. Cada uma com uma apresentação diferente. O que provei primeiro foi o tempura de ovo de codorna com gema mole (R$19). O ovo por si só já é bom e quando vira tempura, fica impossível comer um só. Depois passei para os profiteroles de queijos do Brasil, licuri caramelizado (R$17). Licuri é o fruto de uma palmeira típica do sertão nordestino. Funciona assim: o cliente pega o profiteroli e passa no licuri, como se estivesse passando em um creme. É gostoso, mas funciona ainda melhor pela combinação doce-salgado e pela mistura de texturas.

Presente em quase todos os cardápios da cidade, lá está, firme e forte, o tartare de salmão. Mas como não estamos em um restaurante comum, esse tartare é defumado a frio, servido num cone bem fininho de manga e ovas de tangerina (R$19). Encantador. Mais uma vez, um show de combinação e texturas e sabores.

Quando achei que as entradas haviam terminado chegaram os rolinhos de moqueca com espuma de coco. Lembra uma grissini, mas quando você morde percebe que é um harumaki bem fininho, onde a moqueca fica ali dentro. Já a espuma de coco, não me agradou tanto. Este prato vai sem preço porque ainda não está oficialmente no cardápio.

Avançamos para os principais. O meu prato foi o açaí salgado com bananas confit, farofa gelada de foie gras e crocante de tapioca (R$25). Sempre tive vontade de provar o açaí salgado e gostei. Achei ótimo o chef ter mantido a banana, pois afinal foi assim que aprendi a comer o açaí. Minha amiga de frente ficou com a caprese, que no Oro, é fria e quente, com burrata, tomates, pesto de manjericão roxo e baru. Uma modernidade só. O meu segundo prato foi o lagostim com creme de pistaches e limão siciliano, com alcachofras fritas (R$ 39). Interessante, gostei, mas não aguentei todo, achei um pouco enjoativo. Provei ainda o tartare de mignon com gema de coalho, fumaça de churrasco e batatinhas fritas, (R$55). Um tartare diferente, mas sem perder a essência.

O jantar prosseguiu com o atum com espuma de edamame (soja verde) e abacate com wasabi, caramelos de shoyu, rapadura e gergelim (R$55). Este prato teve o poder de me reconciliar com o peixe. Andei um tempo cansada de atum, todos eles sempre com crosta de sei lá o quê, servidos cozidos por dentro. Agora, quando quiser comer atum, sei aonde ir.

Por mim poderíamos ter parado por aí, pois estava feliz e satisfeita com o atum. Mas o chef queria mostrar tudo que ele tinha para oferecer. Então vieram o porquinho de leite à baixa temperatura, com mousseline de baroa defumada e pérolas de maçã caramelada (R$45), e a costela de boi "36 horas", aligot do sertão e espuma de leite de castanhas (R$59). Obviamente não abri mão do porquinho, que estava como eu gosto. Macio por dentro, crocante por fora. Experimentei a costela também, desmanchava antes mesmo de chegar à boca. Mas me encantei mesmo foi com a espuma de leite de castanhas. Que gostosura!

Na hora sobremesa, chegaram dois pratos o tudo chocolate e o todo caramelo (R$36, cada). O caramelo vem com churros! E eu não resisto a um churro! Portanto, mesmo sendo fã de chocolate, caí de boca mesmo foi no caramelo.

Confesso que fui cheia de preocupação com o estilo do restaurante. Sempre tive resistência à culinária molecular. Para mim, o show é o sabor das coisas, o gosto e não a fumaça misteriosa do nitrogênio que o chef usa com habilidade para deleite dos clientes no salão. Para mim, a banana tem que ter gosto de banana, a manga tem que ter gosto de manga e o porco, gosto de porco. E isso o Felipe Bronze conseguiu com maestria. Pirotecnia à parte, os pratos têm sabor, gosto. E isso é o que realmente importa numa comida.

Não conhecia o chef Felipe Bronze pessoalmente. Apesar de estar fazendo uma culinária moderna, procura usar produtos brasileiros e brincar com pratos que já são nossos velhos conhecidos e isso ajuda a dar confiança ao comensal. É preciso muita coragem e ousadia para abrir um restaurante como esse, principalmente no Rio. E isso ele tem de sobra. Que bom!

É louvável o trabalho da sommelière Cecília Aldaz. Com tanta combinação de texturas e sabores, ela precisa requebrar para harmonizar tudo. Mas a danada não só consegue, como faz o trabalho com muita elegância.

Degustação de 5 pratos - R$ 155 - Harmonização R$ 95
Degustação de 7 pratos - R$ 205 - Harmonização R$ 120
Degustação de 9 pratos - R$ 250 - Harmonização R$ 160

Oro
Rua Frei Leandro, 20
Jardim Botânico
tel.: (21) 2266-7591
 
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