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 A esquina entre Paul Redfern e Prudente de Moraes, em Ipanema, é uma espécie de cemitério de restaurantes. O abre-fecha de casas ali fica, provavelmente, acima de todas as médias mundiais. Para os mais supersticiosos, a fama de triângulo das bermudas da gastronomia que o lugar ostenta é fruto de alguma cabeça de burro enterrada por ali. Mas a mesma esquina guarda um incontestável porto seguro. Alheia à alta rotatividade que mora ao lado, a Osteria dell'Angolo, do chef Alessandro Cucco (na foto) ali fincou raízes. E segue intacta, lá se vão 16 anos. E uma ida ao restaurante ajuda a explicar a razão para tamanha longevidade.
Estive lá recentemente, a convite da importadora Mistral, para um almoço harmonizado, com vinhos da condessa italiana Beatrice Contini Bonacossi, da Tenuta de Capezzana.
Começamos muito bem, com o antepasto farto e o Tenuta di Capezzana Trebbiano VCT 2006, que ficou perfeito com a berinjela. De entrada, uma polenta com funghi. Bem cremosa, estava delicada como o vinho, o Barco Reale di Carmignano 2007.
O segundo prato foi um tagliatelle com ragú de cordeiro. Um prato que pode ser considerado simples, mas que, quando bem feito, é uma gostosura. A essa altura já dava para perceber que tinham acertado a mão, no tamanho das porções e na quantidade dos pratos. Nada de exageros. Os vinhos que acompanharam a massa foram o Trefiano Carmignano 2004 e o Villa di Capezzana Carmignano 2006. Ambos muito elegantes, mas o Trefiano esbanjava equilíbrio.
Seguimos com simplicidade e sabor. O prato seguinte foi um filé com batatinhas e alecrim. Hora nenhuma nos perguntaram o ponto da carne que iam servir. Mas quando o prato chegou, ninguém reclamou. Os vinhos que eram o grande motivo do almoço, foram ficando ainda melhores. O Ghiaie della Furba Carmignano 2003, que tem um nome complicado de se falar, na boca é bem fácil de entender, tem volume, acidez e é longo. O Capezzana 804 2004, que foi criado para comemorar os 12 séculos de existência da vinícola, a Tenuta de Capezzana. Este vinho não manda recado, sabe exatamente para o que veio. É forte, direto e muito longo.
Para terminar bem à italiana, o Vinsanto di Carmignano Riserva 2002. Uma delícia, macio fresco, com alta acidez que não te deixa enjoar. Poderia tomar a garrafa toda. Já a sobremesa de verdade foi uma espécie de tiramisu de maracujá. Boa, para mim, a sobremesa mesmo era o vinho.
Foi muito bom ter ido à Osteria dell'Angolo. Fazia mais de dois anos que eu não dava as caras por lá. E fiquei contente em ver que eles não tentaram reinventar a roda. Os pratos continuam os mais tradicionais da cozinha italiana, sem rapapé - mas com muito sabor. E este sabor, aliado ao sempre atencioso serviço, explica muito da longevidade da casa. |
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