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O Chile é o líder do mercado brasileiro de vinhos. Em 2008 a importação de vinhos chilenos ultrapassou a marca dos 18 milhões de litros, bem maior do que toda a produção nacional de tintos, brancos e rosados (vinífera), que não chegou aos 15 milhões de litros. Diante de números tão expressivos é fundamental acompanhar a produção chilena desde a origem.
Estive lá em agosto visitando 14 empresas de norte a sul do país, em 9 diferentes vales. Foram cerca de 170 vinhos provados em 6 dias, com visitas à vinhedos, bodegas e conversas com enólogos. Começo hoje um resumo do que vi e do provei lá.
Aos interessados no Chile sugiro a leitura de minhas colunas referentes a uma visita ao país em novembro de 2008. Os textos estão nos links:
Casablanca é a alma branca do Chile
San Antonio – a menina dos olhos do Chile
A excelência dos tintos do Vale de Maipo
Maipo, o coração tinto do Chile
Vale de Maule - Via Wines
 Vinhedos da Via Wines
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Minha jornada começou pelo sul do país, no vale de Maule. Este vale fica a cerca de 300 km da capital Santiago e é o maior em área plantada, com cerca de 31 mil hectares, o que representa 45% de todo o vinhedo do país. A maior parte do terreno (60%) está ocupada com duas cepas: Cabernet Sauvignon e País. Esta última é uma variedade de qualidade inferior, trazida pelos espanhóis no século XVI. Com uma extensão tão grande é natural que existam aqui inúmeros terroirs e micro-climas.
No geral chove bastante, com 735mm anuais em média (podendo passar de 1.200mm em algumas zonas), os solos são dominados pela argila densa, de muita retenção. O inverno é rigoroso, atingindo temperaturas abaixo de zero e o verão é quente, ultrapassando os 30oC, com muita amplitude térmica diária. É daqui de Maule uma das regiões que mais tem chamado a atenção recentemente: Cauquenes. Fiquem atentos aos vinhos elaborados a partir de vinhas velhas de Carginan de Cauquenes!
Em Maule visite a "Via Wines", empresa jovem fundada em 1998, que tem com um dos sócios uma família brasileira, do Rio de Janeiro, a família Coderch. Com bodegas em San Rafael (Vale de Maule), Lolol (Vale de Colchagua) e Casablanca, a empresa controla 1.039 hectares de vinhedos, plantados com muitas variedades como Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Carménère, Sangiovese e Tempranillo. Um destaque da empresa é seu vinhedo de Cabernet Franc, que gera vinhos excepcionais e ajuda em vários cortes tintos.
O enólogo chefe da empresa é Rafael Tirado (gêmeo de Enrique Tirado, responsável pelo Don Melchor na Concha y Toro), que não deve nada em talento ao irmão.
A Via Wines trabalha com duas linhas de vinhos: "Oveja Negra" - é a marca de maior volume, com vinhos em estilo moderno e roupagem jovem, utilizando mesclas inusitadas como Sauvignon Blanc+Carmenère.
A linha Chilcas, é uma gama mais alta, mais tradicional, mais voltada a expressão dos terroirs de origem. Lá provei 11 vinhos com o Rafael Tirado e Adriana Coderch. Veja abaixo o quadro de notas e os destaques.

Oveja Negra Reserva Sauvignon Blanc-Carmenère 2009 Cor muito clara, branco papel esverdeado. Aroma intenso e fresco, verdor pirazínico da Carmenère aparece bem integrado as ervas da Sauvignon Blanc, grama cortada, frutas cristalizadas, pêra, melão. Paladar leve, com ótima acidez, 13% de álcool, final fresco e agradável. Nota: 84 pontos
Oveja Negra Syngle Vineyard Carignan 2008 De vinha velhas (50 anos) de Carignan de Cauquenes e leva 8% de Cabernet Franc, passa 12 meses em barricas 1/3 novas. Muito escuro e violáceo na cor, aroma de fruta muito madura e concentrada, limpa e bem definida, especiarias picantes, tabaco, violetas. Bom corpo, taninos finos e doces com bom frescor, boa acidez. Nota: 89 pontos
Oveja Negra The Lost Barrel 2008 Elaborado com 40% Carignan, 40% Syrah, 18% Carmenère e 2% Petit Verdot, amadurece 18 meses em barricas 1/3 novas. Rubi violáceo escuro. Aroma de boa complexidade, frutas negras maduras, toque lácteo, especiarias picantes, toque de fruta cozida, madeira aparece bem na boca, 14% de álcool, taninos presentes, ainda nervosos. Um vinho ainda muito jovem, acaba de ser engarrafado, precisa de tempo de garrafa para se integrar. Nota: 89 pontos
Chilcas Single Vineyardn Cabernet Franc 2006 Fica 12 meses em barricas francesas. Rubi já sem tanto brilho na cor, entre claro e escuro. Aroma de fruta fresca, limpa e bem delineada, com a típica elegância e frescor da Cabernet Franc, especiarias secas, discretas, canela, cravo, noz moscada. Paladar de médio-bom corpo, taninos finos, 14,%5 de álcool, elegante e equilibrado por boa acidez. Nota: 89 pontos
Chilcas The Red One 2007 Elaborado com 40% Syrah, 20% Cabernet Franc, 20% Cabernet Sauvignon, 14% Carmenère e 6% Petit Verdot, amadurece 14 meses em barricas. Rubi escuro mas não tanto, com reflexos violáceos. Aroma intenso, frescor, com boa complexidade, focado nas frutas maduras, vermelhas e negras, com toque de especisrias doces (baunilha) e picantes (pimenta).Encorpado, com boa concentração, taninos ainda jovens e nervosos, secos, finos, longo. Ainda jovem precisa de tempo de garrafa, tem algum potencial de guarda, 8-10 anos. Nota: 89 pontos
Vale de Curicó - Viña Korta
 Viña Korta
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O Vale de Curicó está espremido entre Maule (ao sul) e Colchagua (ao norte), ocupa 19 mil hectares de vinhas, também dominados pela Cabernet Sauvignon (quase 7 mil hectares). Em geral o vale é quente, fechado entre montanhas, com 702mm anuais de chuvas e alguma influencia marítima. O terroir é mais propício as tintas que dominam 70% da produção.
Em Curicó dei uma breve parada para visitar a Viña Korta, fundada em 1997, uma das empresas da família Korta, de origem Basca. A sede da vinícola fica em Sagrada Familia (no vale de Lontué) e tem capacidade para processar 2 mil toneladas de uva, por gravidade. Quase 100% dos 120 hectares de vinhedos da empresa são próprios, ocupados 85% pelas tintas Cabernet Sauvignon, Cabenet Franc, Syrah, Carmenère, Syrah, Petit Verdot, Malbec e Carignan. As brancas implantadas são Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling, Viognier, Rousanne e Marsanne.
A variedade que mais chamou a atenção contudo foi a "Verdor Chineno". Esta cepa foi descoberta pelo enólogo Philippo Pszczolkowski, da Universidad de Chile. Não se sabe sua origem, seria talvez originado da "Verdot Francês" (variedade perdida com a Filoxera) ou uma mutação de alguma outra uva francesa. Leiam mais abaixo.
Vejamos os 11 vinhos provados e os destaques.

Gran Reserva Korta 2008 Elaborado com 41% Petit Verdot, 22% Carmenère, 18% Cabernet Franc, 16% Syrah, 3% Cabernet Sauvignon. Rubi escuro com reflexos violáceos. Bom ataque no nariz, com bom frescor, boa fruta, madura e doce, madeira, chocolate, tostados, especiarias. Bom corpo, taninos doces, redondos, longo, 14,5% de álcool. Nota: 88 pontos
Korta Barrel Selection Verdot Chileno 2007 Vermelho entre rubi e granada entre claro e escuro. Aroma intenso, floral (violetas e rosas), frutas vermelhas, groselha, framboesas. Paladar de leve a médio corpo, macio, com taninos finos e delicados, 14% de álcool, acidez moderada. É um vinho de pouca estrutura, lembrando um Pinot Noir, mas com menos frescor, mais floral e com mais perfil de vinho de "clima quente". O Verdor Chileno é uma novidade que merece ser desenvolvida. Nota: 86 pontos
Colchagua
 Vinhedos da Casa Lapostolle em Apalta
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Famoso por seus Carmenère, o Vale de Colchagua é dominado pelos tintos, que ocupam 90% dos 23 mil hectares plantados. A pequena cidade de Santa Cruz é o coração da região, a 178km a sudoeste da capital Santiago. Lá o clima é quente, com o frio vindo do Pacífico amenizado por serras e pela cordilheira costeira que bloqueiam parte da influencia marítima.
Apalta É um pequeno vale na parte interior e mais fria de Colchagua, em formato de ferradura de frente para o sul, com uma impressionante gama de solos, um verdadeiro paraíso para a Carmenère e para a Syrah. Para comprovar esta tese, basta dizer que são daqui alguns dos maiores ícones da enologia do país, como o Clos Apalta, Montes Alpha M e Neyen.
Apalta é um pouco mais úmida que a média de Colchagua, 650mm anuais de chuvas, contra 592mm, concentradas entre maio e setembro. Aqui é fundamental a irrigação, e somente com a criação de reservatórios de água torna-se possível a viticultura.
O inverso é seco e frio, com temperaturas entre 2oC e 15oC. Os verões são quentes, ma non troppo, ficando entre 12oC e 31oC. A altitude dos vinhedos é de 200 a 450 metros, e os solos variam bastante conforme a altitude, indo de aluvião na planície e granito com diferentes concentrações de argila nas encostas (detalhes mais adiante).
As castas mais plantadas em Apalta são a Cabernet Sauvignon, Carmenère, Syrah e a Merlot, embora existam inúmeras outras, tintas e brancas, plantadas como experimento. O estilo geral dos vinhos é de tintos de muita cor e concentração, mas também com frescor, elegância e mineralidade.
Casa Lapostolle
 Bodega da Casa Lapostolle
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No vale de Apalta visitei a vinícola da Casa Lapostolle, onde é elaborado o ícone chileno Clos Apalta. Fundada em 1994, a empresa pertence a família Marnier-Lapostolle (do licor Grand Marnier). São duas as unidades de vinificação, esta de Apalta (dedicada ao Clos Apalta e ao Borobo) e outra em Cunaco (Colchagua), onde os demais vinhos são elaborados.
Em Apalta a empresa possui 100 hectares de vinhas velhas (majoritariamente Carmenère) e 80 hectares de Merlot. A equipe técnica é liderada por Jacques Begarie com a consultoria de Michel Rolland. O onipresente consultor francês deu exclusividade no Chile à Casa Lapostolle e visita a empresa 4 vezes ao ano.
A vinícola em Apalta é belíssima, em forma de barril e representa o estado da arte em enologia. Aqui são elaborados apenas 2% da produção total da empresa, cerca de 4 mil garrafas de Borobo e 60 mil garrafas de Clos Apalta. O segredo deste último é um vinhedo de 60 hectares de Carmenère com 60 anos de idade. A elaboração deste vinho é bem cara: a colheita é feita toda a noite (entre 19-20hs), é feita uma seleção manual grão a grão, os bagos não são prensados, após criomaceração são vinificados inteiros em cubas de 7.500 litros de carvalho francês. Tal investimento dá resultado, já que o Clos Apalta foi eleito o vinho do ano de 2008 pela revista Wine Spectator.
A prova de 13 vinhos foi feita na sala de barricas do Clos Apalta com a enóloga Andrea León Iriarte. A qualidade média apresentada foi altíssima, talvez a mais alta entre as vinícolas visitadas nesta viagem. Vejamos abaixo o resultado e os destaques:

Cuvée Alexandre Chardonnay 2007 60% fermentado em barricas (50% novas), sem malolática, onde permanece 9 meses. Aroma intenso e com ótimo frescor, onde baunilha aparece bem, elegante, mostra flores brancas, fundo mineral. Paladar de médio corpo, elegante, com ótimo equilíbrio maciez-acidez, 14,5% de álcool, longo. Nota: 89 pontos
Cuvée Alexandre Merlot 2006 85% Merlot e 15% Caménère. Amadurece 8 meses em barricas francesas (20% novas). Vermelho rubi violáceo muito escuro. Aroma intenso de fruta densa, concentrada, madura e limpa, com toque de geléia de ameixa, amora, tostados e especiarias. Paladar encorpado, concentrado, com 15% de álcool, taninos estruturados, finos e doces, longo, com final doce. Nota: 91 pontos
Cuvée Alexandre Carmenère 2008 (amostra de barrica) 85% Caménère e 15% Merlot. Retinto e opaco, quase negro. Aroma ainda fechado, mas já mostrando muitos tostados, fruta ultra madura, geléias (com elegância, limpeza e definição, nada over ou enjoativo). Na boca, mesmo inacabado, já é um veludo, com ótimos taninos, bom corpo, estruturado. Será um ótimo vinho, um dos melhores Carmenère que provei nesta viagem. Nota: 91 pontos
Borobo 2006 26% Pinot Noir, 26% Syrah, 20% Carmenère, 16% Merlot, 10% Cabernet Sauvignon, 2% Petit Verdot. Vermelho rubi violáceo escuro. Aroma muito expressivo, talvez mais complexo que o Clos Apalta mas sem a mesma profundidade. Caramelo, frutas maduras, geléias, tostados, alcaçuz, musgo. Paladar de bom corpo (sem grande concentração), mais elegância que força, com taninos finos, macios, pronto, longo e delicioso. Nota: 92 pontos
Clos Apalta 2008 (amostra de barrica) Roxo na cor. Excepcional desde o primeiro contato com o nariz, muito aberto para uma amostra de barrica. Muita menta,caramelo, especiarias, fruta muito bem delineada, tem o toque selvagem da Carmenère (mas sem a rusticidade que marca esta casta). Paladar de grande estrutura, profundo, taninos volumosos e aveludados, longo, equilibrado, elegante complexo. Deve ficar mais 6-10 meses em barrica, mas já está maravilhoso. Nota: 94-95 pontos
Los Vascos Depois da Casa Lapostolle visitei outra empresa de capital francês, a Los Vascos, cuja origem remonta ao século XVIII, mas que em 1988 foi parcialmente comprada pelo grupo bordalês Domaines Barons de Rothschild (do Château Lafite Rothschild). A empresa possui duas unidades de vinificação, uma Curicó e outra, a que visitei, em Colchagua. A propriedade onde estive conta com 4 mil hectares, sendo 600 hectares de vinhedos, dominados em mais 90% pela Cabernet Sauvignon. Desde 2005 a proporção de Cabernet Sauvignon nos vinhedos vem diminuindo, com o plantio de variedades como Carmenère, Malbec e principalmente Syrah. O rendimento dos vinhedos varia conforme a linha de vinhos. Para a linha Reserva este número está na casa das 11 toneladas de uvas por hectare, para a linha Gran Reserva 8 toneladas por hectare e para o Le Dix, topo de gama da casa, apenas 7 toneladas por hectare.
O Le Dix foi lançado em 1998 (com a safra de 1996) para comemorar os 10 anos da Domaines Barons de Rothschild no Chile. Sua produção é a apenas 5 mil caixas ao ano. O segredo da qualidade deste vinho é um vinhedo de mais de 70 anos de idade de Cabernet Sauvignon. Desde 2005 o Le Dix deixou de ser mono-varietal para receber outras uvas em seu corte (Syrah, Carmenère e Malbec). As barricas usadas na elaboração do Le Dix são feitas pela tanoaria do Château Lafite em Bordeaux.
Abaixo as notas dos 15 provados e os destaques. A qualidade média foi muito boa e o estilo geral é de vinhos gastronômicos, com elegância e sem extrações exageradas. Além destes provei ao jantar com Marcelo Gallardo, o gerente de produção da empresa, o "Le Dix 1999", que estava excepcional e perfeito aos 10 anos de idade.

Los Vascos Reserva Sauvignon Blanc 2009 Elaborado com uvas de 3 vales, 85% de Casablanca 85%, que com seu solo granítico dá mais acidez, 10% de Leyda (mais mineralidade) e 5% Colchagua (mais corpo e cremosidade). Cor muito clara, branco papel. Nariz intenso, com cítricos, grama cortada maçã verde, pinho, lichia, notas de frescor verde típicas da casta. Paladar leve e fresco com boa cremosidade, 14,5% de álcool, ótima acidez, pulsante, muito seco, estilo mais gastronômico. Nota: 88 pontos
Los Vascos Grande Reserve 2005 75% Cabernet Sauvignon, 15% Carmenère, 5% Syrah, 5% Malbec, amadurece 12 meses em carvalho francês (30% novo). Cor na transição entre rubi e granada, escuro. Aroma bem amalgamado de fruta madura, bastante madeira, baunilha, especiarias, pimenta, noz moscada, ameixa passa, cassis. Paladar de bom corpo, taninos finos secos e elegantes, boa acidez, 14% de álcool, com boa profundidade e complexidade, pronto, em seu auge, muito bom. Este é o melhor Grande Reserve que provei. Em 2005 não houve Le Dix e assim as melhores parcelas de vinhos que seriam do Le Dix tornaram-se este Grande Reserve. Nota: 90 pontos
Los Vascos Le Dix 2002 100% Cabernet Sauvignon, amadurece 18 meses em barricas francesas novas. Cor rubi violáceo escuro, já um pouco esmaecido. Muito intenso no nariz, concentrado, bem amalgamado, mostrando notas vegetais de musgo (sottobosco) toque animal de couro, chocolate amargo, frutas secas (ameixas), pimenta negra, tabaco. Paladar de bom corpo (sem exageros), 13,6% de álcool, macio, os taninos estão veludo, pronto, em seu auge onde deve permanecer por maos 2-3 anos. Nota: 92 pontos
Los Vascos Le Dix 2006 85% Cabernet Sauvignon, 10% Carmenère, 5% Syrah, , amadurece 18 meses em barricas francesas novas. Cor rubi violáceo escuro, muito vivo. A mudança de estilo com a adição de outras castas à Cabernet Sauvignon é bem notada. O estilo é mais moderno, nota-se muito a fruta madura típica da Syrah, e as especiarias e o toque selvagem da Carmenère. Mostra mais meio de boca que os demais, mais concentração, porém um pouco menos do finesse e dos taninos da Cabernet Sauvignon. Nota: 90 pontos
Santa Helena
 Santa Helena
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Ainda no vale de Colchagua, em San Fernando, visitei a Santa Helena, a 2ª empresa chilena em volume de importações no Brasil (depois da Concha y Toro).
Fundada em 1942 a empresa é parte do grupo "VSPT", formado por Viña San Pedro, Tarapacá, Misiones de Rengo, Altaïr, Viña Mar, Casa Rivas, Finca La Celia e Bodega Tamarí.
A Santa Helena exporta 98% de sua produção, cerca de 1 milhão de caixas de vinho, para 50 países, e seu principal mercado é o Brasil. A empresa possui 334 hectares de vinhedos próprios e compra uvas provenientes de todo o Chile, de norte a sul.
Provei 12 vinhos (incluindo uma pequena vertical do top da casa) com a enólofa Maite Hojas e a gerente de marketing Marcela Au Alvarado. O estilo de todos os vinhos da casa é popular, com equilibrio pendendo para maciez, baixa acidez e, em alguns casos, açúcar residual perceptível. Vejamos o resultado e os destaques:

Notas de Guarda Carmenère 2008 Amadurece 12-14 meses de barricas francesas 70% novas. Rubi violáceo quase escuro. NO nariz mostra boa tipicidade da Carmenère, com com elegância, menta, compotas, toque herbáceo. Paladar de médio-bom corpo, taninos finos, bom meio de boca mas cai um pouco no final pois falta acidez, macio, taninos doces, maduros, final doce, com toque de açúcar residual. Nota: 84 pontos
D.O.N. 2007 85% Cabernet Sauvignon, 10% Syrah, 5% Petit Verdot. Rubi quase escuro com reflexos violáceos. Nariz onde a Syrah aparece bem, com boa fruta, madura, eucalipto, chocolate, especiaria picantes. Paladar mais firme que as safras anteriores, taninos um pouco rústicos, doces, acidez moderada, média persistência final doce. Nota: 84 pontos
D.O.N. 2008 85% Cabernet Sauvignon, 15% Petit Verdot. Rubi escuro com reflexos violáceos. Aroma mais fino, fruta madura mais definida que os anteriores, eucalipto, chocolate, ameixas, amoras, especiarias picantes. Paladar de bom corpo, bom meio de boca, acidez baixa, final doce, persistência média. Melhor vinho da casa, no mesmo estilo do D.O.N. 2007, mas com taninos mais firmes e mais finos.Nota: 86 pontos
Viña Corpora (Gracia de Chile, Augustinos) Fundado en 1893 por Adolfo Ibáñez o grupo Corpora é a maior empresa chilena de alimentos e bebidas, com negocios em 48 países. Uma das empresas mais conhecidas do grupo é o hotel conceitual Explora, no sul do Chile.
A "Viñedos e Bodegas Corpora", parte do grupo, engloba 4 vinícolas, Gracia de Chile e Porta (com marcas de maior volume), e Augustinos e Veranda (vinícolas menores com vinhos de mais alta gama). O enólogo chefe é Pascal Marchand, que conta com a consultoria de Nicolas Potel (ambos da Borgonha). A empresa toda possui 1.500 hectares plantados, sendo 1.300 em produção. São 3 as unidades de vinificação, uma em Aconcagua (onde é elaborada principalmente a linha Augustinos), uma em Maipo (principalmente Porta) e uma em Cachapoal (principalmente Gracia).
Visitei a Bodega Gracia, que foi fundada em 1989, tem capacidade para vinificar e armazenar 9 milhões de litros e está equipada con 3 mil barricas de carvalho francês. A menina dos olhos da empresa são seus vinhedos em Bio Bio, extremo sul do país, um terroir excepcinal para vinhos brancos e tintos como o Pinot Noir, por seu clima frio e solo vulcânico.
Provei 8 vinhos e meu predileto, confirmando expectativas, foi o Chardonnay de Bio Bio.

Gracia Ilusión Chardonnay Reserva Lo Mejor 2007 É 70% fermentado em madeira francesa, onde permanece por 12 meses. Amarelo palha com reflexos dourados, brihante, ainda com tons esverdeados. Aroma intenso de cítricos (limão siciliano), baunilha, tostados, frutas amarelas maduras, fundo mineral. Paladar de boa estrutura, com ótima acidez, crocante, boa complexidade, 13,5% de álcool, bom equilíbrio cremosidade-acidez, toque elegante da barrica aparece no fim de boca. Nota: 88 pontos
Gracia Misterioso Merlot Reserva Lo Mejor 2006 Amadurece 18 meses em carvalho francês.Rubi escuro violáceo bem vivo e profundo. Nariz focado na fruta, densa e bem amalgamada com madeira e especiarias, toque de evolução (couro), tabaco, menta. Paladar encorpado, bem proporcionado, taninos finos e doces, madeira de boa qualidade aparece bastante no nariz e na boca, mas bem casada. Um belo vinho, precisa apenas de algum tempo de garrafa para integrar-se melhor com a madeira. Nota: 87 pontos
Gracia Desvelo Syrah Reserva Lo Mejor 2007 Muito escuro, violáceo. Aroma intenso de menta, geléias, boa fruta típica da Syrah, chocolate. Paladar de bom corpo, 14% de álcool, bom taninos finos e doces, ainda presentes, boa acidez, boa persistência. Uma boa descoberta, promissor. Nota: 87 pontos
Gracia Porquenó Cabernet Sauvignon Reserva Lo Mejor 2007 Amadurece 18 meses em madeira francesas. Muito escuro, rubi violáceo. Nariz elegante e sem o mentol típico, fruta doce, frescor, madeira, baunilha, cassis, especiarias (discretas), mais focado na fruta. Paladar de bom corpo (sem grande extração), 14,5% de álcool, taninos finos doces, macios, longo e equilibrado, muito bom, fino. Nota: 88 pontos
Semana que vem voltamos com Chile, falando de Maipo.
Marcelo Copello www.mardevinho.com.br |
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