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  Continuando o relato de minha última visita ao Chile, chegamos ao vale de Maipo, a região mais emblemática do país.

O Vale de Maipo corresponde à região metropolitana de Santiago. Os solos são (em quase todo o Chile) jovens, originados do granito e de material vulcânico (quando mais perto da cordilheira). Embora pouco variados em termos geológicos, o granito pode se decompor de diversas maneiras, variando muito em termos de textura (retenção de água) e profundidade, originando vinhos muito diferentes, mesmo em áreas muito próximas. As exceções em termos de solo são ao redor dos rios, pois as pedras se acumulam nas curvas do curso d'água e proporcionam melhor drenagem. O PH dos solos neste vale é em geral alto, gerando vinhos de baixa acidez, mas com ótimos taninos e bom corpo.

O clima em Maipo é continental, quente e seco, com 300 a 450 mm anuais de chuvas (concentradas no inverno). Durante 8 a 9 meses do ano faz calor, com dias quentes e noites frias. Aqui sente-se eventualmente o efeito do "El Niño" que pode aumentar o total de chuvas para 1.000 mm no ano, ou, do "La Niña" que pode gerar uma seca extrema, baixando as chuvas para apenas 100 mm no ano.

A região conta com nada menos que 10.791 hectares de vinhedos, sendo 85% de uvas tintas. A Cabernet Sauvignon é de longe a mais plantada com 6.414 hectares, seguida da Merlot (1.168 ha), Chardonnay (961 ha), Carménère (548 ha), Sauvignon Blanc (427 ha) e Syrah (383 ha).

 
Tarapacá

Viña Tarapacá


A primeira visita na região foi à Tarapacá, em Isla de Maipo. A empresa pertence ao 2º maior grupo vinícola do país, o VSPT Wine Group, que engloba a Viña San Pedro, outro gigante.

Fundada em 1874 como "Viña Tarapacá Ex Zavala", a empresa possui hoje cerca de 600 hectares de vinhedos e produz 4,5 milhões de litros de vinho ao ano. A propriedade em Isla de Maipo é belíssima com linda casa e magníficos jardins que merecem uma visita.

Ao visitar esta vinícola, em novembro de 2008, notei que a qualidade de seus vinhos estava ascendente, tendência que se confirmou agora. Vários investimentos têm sido feitos, em equipamento, em vinhedos e em pessoal, como na contratação do enólogo norte-americano Edward Flaherty. Formado em Davis, na Califórnia, Flaherty assumiu o comando enológico da empresa em 2006.

Uma curiosidade: ao visitá-los em novembro passado, vi tanques que continham um vinho "secreto" cujo objetivo me foi dito ser "receber 94 Wine Spectator". Achei curiosa a afirmativa e nesta visita pude provar junto com Flaherty o tal vinho, ainda não lançado, que se chamará "Tara Pakay". Vejam abaixo.



La Isla Sauvignon Blanc 2009
Palha claro esverdeado muito brilhante. Aroma cítrico, lima, limão, groselha branca (gooseberry), grama cortada, toque floral, fundo mineral. Paladar leve e fresco, acidez crocante, 13,5% de álcool, longo, delicioso. Nota: 86 pontos.

Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2007
95% Cabernet Sauvignon, 3% Cabernet Franc, 2% Carmenère. Origem: 86% Valle del Maipo,10% Valle de Aconcagua, 4% Valle de Colchagua. 80% do volume é amadurecido por 16 meses em barricas francesas e americanas. Rubi escuro, reflexos violáceo não muito vivos. Aromas de chocolate, fruta madura, com bom frescor, eucalipto, madeira bem casada, baunilha, especiarias. Paladar de bom corpo, taninos finos e firmes, 14,7% de álcool, bom equilibrio, o melhor da linha Gran Reserva. Nota: 88 pontos.

Gran Reserva Plus 2007
Um vinho orgânico, que será sempre a melhor mescla mudando a cada ano. Em 2007 foi 50% Cabernet Sauvignon, 30% Cabernet Franc, 12% de Syrah e 8% Carmnénére. Rubi escuro com reflexos violáceos. Aroma de menta, boa fruta, bom frescor, madeira discreta. Paladar de médio corpo, taninos finos, bom frescor e boa acidez aportada pela Cabernet Franc, 13% de álcool, elegante e bem equilibrado. Uma ótima compra. Nota: 88 pontos.

Zavala 2007
40% Cabernet Franc, 30% Cabernet Sauvignon, 30% Syrah, amadurece 14 meses em barricas francesas (80% novas). Rubi escuro com reflexos violáceos. Aroma com a menta da Cabernet Sauvignon, a fruta madura da Syrah, o bom frescor da Cabernet Franc, chocolate, especiarias. Paladar de bom corpo, taninos doces, prontos ainda com um toque de presença, final doce, com 15,2% de álcool. Nota: 88 pontos.

Tara Pakay 2007
O nome ícone da empresa, que promete chamar a atenção da crítica tem um corte de uvas secreto, mas pude notar Syrah e Cabernet Sauvignon. Rubi muito escuro violáceo, roxo retinto. Aroma em bloco, limpo e bem definido, um amálgama de fruta madura, especiarias doces, alcaçuz, baunilha, ameixa, eucalipto, amora, couro novo. Paladar concentrado, taninos finos, doces, acidez equilibrada, longo. Ótima novidade, muito promissor. Nota: 91 pontos.

Concha y Toro

Marcelo Papa


A Concha y Toro continua sendo uma parada obrigatória em Maipo e impressionando pela combinação rara de tamanho com qualidade. A conversa com os enólogos da casa, Ignácio Recabaren e Marcelo Papa, é também sempre enriquecedora. Provamos juntos vinhos da linha Marques de Casa Concha, Terrunyo e a nova sensação do Chile, o Carmim de Peumo. A linha Marques de Casa Concha, que era boa só faz melhorar e impressiona pela relação custo-benefício. Recentemente quase todos os vinhos sofreram modificações (benéficas) em relação às origens de suas uvas, com novos vinhedos, de vales mais propícios, sendo utilizados (à exceção do Merlot). Assim, cada variedade vem de sua melhor origem no país: o Carmenère vem de Peumo, o Cabernet Sauvignon de Puente Alto, o Chardonnay de Limarí etc... Além disso, raramente esses vinhos são mono-varietais como se pode pensar ao ler seus rótulos; toques de Cabernet Franc ou Petit Verdot podem melhorar muito os Cabernet Sauvignons ou Carmenères, por exemplo. Vejamos o resultado da prova.




Carmin de Peumo


Marques de Casa Concha Cabernet Sauvignon 2007
92% Cabernet Sauvignon, 7% Carmenère, 1% Petit Verdot. Rubi escuro violáceo. Aroma seco e elegante, com boa complexidade, com o eucalipto da Cabernet Sauvignon, especiarias e bela fruta, madura e bem delineada. Paladar estruturado por taninos ainda presentes, taninos mais secos que o Syrah da mesma linha, longo e equilibrado, deve evoluir bem em garrafa, com algum potencial de guarda. O melhor e mais sério vinho da linha. Nota: 90 pontos.

Terrunyo Sauvignon Blanc 2007
De Casablanca onde o vinhedo sofre influencia marítima e possui solos com um pouco de pedras areia e argila, onde há muito silex e quartzo no subsolo, que aportam aromas minerais que lembram os bons vinhos do Loire. Na cor é branco papel, brilhante. Aroma intenso e elegante, fresco, cítrico e com fundo mineral com toque de frutas tropicais, manga. É um vinho feito para a boca, de extrema elegância, com toque salino, e fim de boca mineral, com acidez crocante. Nota: 93 pontos.

Amelia Chardonnay 2007
Palha claro com reflexos dourados, brilhante. Muito no nariz, fruta fresca e bem definida, pouca madeira, com toque de baunilha elegante. Paladar de médio corpo, muito equilibrado, com finesse, acidez alta bem equilibrada com untuosidade, mineral aparece no final (sugiro decantar). Não é volumoso nem explosivo, mas de grande elegância. Nota: 92 pontos.

Carmin de Peumo 2005
Elaborado com 85% Carmenère, 11% Cabernet Sauvignon e 4% Cabernet Franc, amadurece 16 meses em barricas novas francesas. Decantado 1 hora antes da prova. Roxo na cor, impenetrável. Aroma fresco, elegante, mineral, fruta madura deliciosa, bem definida, especiarias discretas, toque de menta elegante, mineral de grafite. Paladar volumoso, taninos entre secos e doces, presentes mas aveludados, finíssimos, longo. Grande vinho, apenas 500 caixas feitas Nota: 95 pontos.

Santa Rita e Carmen
O grupo Claro é o 3º do Chile em tamanho e engloba Santa Rita, Carmem, Terra Andina, Doña Paula (Argentina) e detém parte da Los Vascos. A visita a Santa Rita foi curta e bem objetiva: direto à sala de degustações, onde provei vinhos da Santa Rita e Carmem. Visitei recentemente a empresa (novembro de 2008), logo muitos dos vinhos provados foram os mesmos, das mesmas safras, o que serviu para acompanhar sua evolução.

Nesta visita provei duas safras do Casa Real, o ícone da empresa. Uma safra antiga e outra, a mais recente no mercado. Os estilos eram um pouco diferentes, mas a qualidade a mesma. A enóloga Cecilia Torres está com o grande desafio: aumentar a produção do Casa Real sem diminuir sua qualidade. Ela está focada em descobrir novas parcelas de vinhedos de alta qualidade para agregá-los ao blend final. Cecilia Torres chegou à empresa em 1980 e hoje faz apenas esse vinho. O Casa Real nasceu de suas mãos em 1989.

Vejamos o resultado da prova deste ano e os destaques:




Casa Real

Floresta Sauvignon Blanc 2008
Branco papel verdeal. Aroma muito fresco, com foco nas ervas frescas, grama cortada, cítricos. Paladar leve e fresco, com boa textura, menos "crispy" que em outras safras, mais para encorpado. Nota: 88 pontos.

Triple C 2005
Elaborado com 55% Cabernet Franc, 30% Cabernet Sauvignon e 15% Carménère. Vermelho Granada escuro. Aroma fresco com toque de menta, frutas frescas típicas da Cabernet Franc, , fruta maduras e muitas especiarias da família da Carménères. Paladar de bom corpo, 14,5% de álcool, largo no meio de boca onde a madeira aparece, taninos finos, elegante, longo, acidez moderada. Nota: 89 pontos.

Pehuén Carmérère 2005
95% Carménére de Apalta com 5% de Cabernet Sauvignon de Maipo, 17 meses em barricas novas francesas. Roxo na cor, aroma fechado e vincado, com frescor, eucalipto, muito concentrado, geléias, fruta negra madura, muito especiarias, madeira discreta baunilha e tostados, mineralidade apareceu depois de algum tempo no decanter. Paladar volumoso, taninos doces, estruturados, mas macios, um veludo, acidez moderada, 14,5% de álcool. Nota: 91 pontos.

Casa Real Cabernet Sauvignon 1999
100% Cabernet Sauvignon, 18 meses de barricas novas francesas. Granada entre claro e escuro com reflexos alaranjados. Aroma intenso, muito expressivo, mesmo com pouco tempo no decanter, notas animais de evolução muito couro, café e chocolate, eucalipto típico da dasta, musgo, sottobosco (musgo) típico de Bordeaux, estilo mais Chile-França do que internacional, madeira aparece, de boa qualidade. Paladar de bom corpo, 13,5% de álcool, taninos finíssimos, doces, ainda presentes, acidez moderada mas o suficiente para que seja longo. Um clássico, um dos melhores vinhos do Chile que já provei Nota: 94 pontos.

Casa Real Cabernet Sauvignon 2005
Rubi escuro com reflexos granada. Aroma intenso e muito fino, com perfil mais moderno que o 1999, com fruta mais madura e doce, menta, especiarias, madeira, musgo. Paladar de bom corpo, um pouco mais concentrado que o 1999 mas sem exageros de concentração, taninos finíssimos ainda secantes, doces e elegantes, 14% de álcool, boa acidez boa. Ainda vai crescer muito em garrafa. Nota: 92 pontos.

Winemakers Reserve Red 2005
Elaborado com 50% Cabernet Sauvignon, 20% Carménère, 10% Syrah, 10% Merlot e 10% Petite Sirah. Rubi muito escuro, reflexos violáceos esmaecidos. Boa complexidade, menta, couro, especiarias picantes, cassis, ameixa, florais, chocolate, café. Paladar encorpado, taninos finos e doces, 14% de álcool, acidez baixa, final com madeira aparecendo na boca. Nota: 89 pontos.

Gold Reserve Cabernet Sauvignon 2005
Amadurece 24 meses em barricas francesas novas francesas. Rubi violáceo muito escuro. Aroma intenso e concentrado, com muita madeira, eucalipto, cassis, couro novo, chocolate, caramelo. Paladar muito concentrado, taninos de grande estrtura, madeira aparece bastante no fim de boca. Precisa de tempo de garrafa para resolver a madeira. As cegas eu diria tratar-se de um vinho australiano, pela concentração e madeira. Nota: 89 pontos.

Haras de Pirque

Haras de Pirque


Posso dizer que a visita ao vale de Maipo foi encerrada com chave de ouro, com uma vertical de Albis, um vinho excepcional. Foi a primeira vez que visitei a Haras de Pirque. Até então eu conhecia apenas o top da empresa (Albis), de modo que a surpresa ficou por conta da alta qualidade média dos demais vinhos, além da impressionante bodega, em forma de ferradura, rodeada por belíssimos vinhedos e um haras. Cheguei de manhã, enquanto ainda havia uma neblina que tornou quase onírica a paisagem de cavalos através de vinhedos.

A propriedade foi fundada em 1991 pelo empresário Eduardo Matte, amante dos vinhos e cavalos. Em 2003 o Marquês Antinori, da Toscana, comprou 50% do empreendimento e somou à equipe de enologia seu renomado enólogo Renzo Cotarella. O Marquês visita a casa a cada dois anos e Cotarella vem uma vez ao ano participar da elaboração dos vinhos. Mesmo com DNA toscano, a empresa nunca cogitou plantar variedades da velha bota, como Sangiovese, e sim dar foco em vinhos francamente chilenos.

A empresa possui 150 hectares plantados e é voltada para os tintos (85% da produção), sobretudo da casta Cabernet Sauvignon (55% da produção). A maior parte de seus terrenos é de solo argiloso denso, propício aos tintos encorpados de Cabernet Sauvignon. Os demais terremos, em locais mais arenosos, são ocupados por outras variedades, como Carmenère, Syrah e Cabernet Franc. A prova foi na sala de barricas e orientada pela enóloga Cecilia Guzmán.



Haras Character Syrah 2007
Violáceo muito escuro. Aroma concentrado, de boa complexidade, ainda fechado, frescor de menta, fruta ácida bem madura, frutas negras tabaco, Paladar concentrado, taninos secantes, finos, boa acidez, ainda jovem. Belo Syrah, fresco concentrado e elegante. Nota: 90 pontos.

Haras Elegance 2007
Rubi muito escuro violáceo. Aroma intenso fresco, com boa fruta, musgo, menta e fundo mineral elegante. Paladar encorpado, taninos firmes, secantes e finos, boa acidez, bom frescor, longo, para alguma guarda, 8 anos?. Nota: 91 pontos.

Albis 2004
75% Cabernet Sauvignon e 25% Carménère, 18 meses em barricas francesas. Rubi granada muito escuro. Aroma intenso com musgo-menta na frente, grande elegância, figo seco, frutas secas. Paladar encorpado mas sem excessos de extração, taninos finíssimos ainda bem presentes, 14,8% de álcool. Dentre os 4 Albis provados este é o típico do terroir de Maipo, o mais chileno. Nota: 93 pontos.

Vertical de Albis



Albis 2005
80% Cabernet Sauvignon e 20% Carménère, 18 meses em barricas francesas. Rubi granada muito escuro. Aroma intenso com musgo-menta na frente, toque de cana de açúcar, caldo de cana, boa fruta, muito madura. Paladar mais doce, um pouco mais concentrado que o anterior, musgo aparece bem na boca, especiarias, boa acidez, 14,8% de álcool, equilibrado elegante e longo, só não tem a mesma complexidade e elegância do 2004. Nota: 91 pontos.

Albis 2006
80% Cabernet Sauvignon e 20% Carménère, 18 meses em barricas francesas. Rubi muito escuro com reflexos violáceos. Aroma mais delicado e ainda um pouco fechado, musgo-menta na frente, muito fresco e vivo, fruta negras ácidas, com menos fruta e mais frescor, toque mineral aparece no final. Paladar de boa estrutura, mas sem concentração exagerada, ótima acidez. O mais elegante da prova deve evoluir muito bem pela ótima acidez, o que mais agradou meu gosto pessoal. Nota: 94 pontos.

Albis 2007
83% Cabernet Sauvignon e 17% Carménère, 18 meses em barricas francesas. Rubi muito escuro com reflexos violáceos. Aroma intenso com mais fruta doce densa, menta, muito fresco, toque musgo aparece bem (embora menos do que nos demais vinhos). Paladar volumoso, taninos doces, muito finos, boa acidez, longo e elegante. È o de melhores taninos da prova, estruturados, finos e doces, o mais moderno em estilo, mais frutado. Belíssimo vinho, ainda muito jovem, chegará no mínimo a seu 10º aniversario. Nota: 94 pontos.
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