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A 7ª edição do Essência do Vinho reuniu cerca de 19 mil enófilos em seus quatro dias (de 4 a 7 de março). O cenário foi o monumental Palácio da Bolsa, edifício histórico na cidade do Porto (Portugal). Os números do evento são expressivos, uma centena de críticos especializados de vários países, 350 produtores, 3 mil vinhos em prova e cerca de 50 atividades paralelas, entre degustações, palestras e harmonizações. Além disso o evento elege a cada ano os Top 10 vinhos portugueses, com um júri formado por críticos de vários países, do qual fiz parte.
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Os Top 10 vinhos portugueses |
 Cheguei do Brasil na 5ª feira de manhã direto do avião para a eleição dos "Top-10". Estavam em prova os 41 dos vinhos mais bem pontuados ao longo de 2009 pela revista Wine Essência do Vinho, promotora do evento. Assim, provamos 5 brancos da safra de 2008, 29 tintos da safra de 2007 e 7 Portos Vintage da safra de 2007.
Como era de se esperar, o nível da prova foi altíssimo, pontuei alto quase todos os vinhos. No final os vencedores foram:
BRANCO 1º-Redoma Reserva 2008, Douro, Niepoort
TINTOS 1º-Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2007, Douro, Quinta do Crasto 2º-Quinta dos Avidagos Grande Reserva 2007, Douro, Quinta dos Avidagos 3º-Malhadinha Matilde 2007 Alentejo, Herdade da Malhadinha 4º-Quinta do Couquinho Grande Reserva 2007, Douro, Maria Adelaide Melo e Trigo 5º-Charme 2007, Douro, Niepoort 6º-Scala Coeli 2007, Alentejo, Fundação Eugénio de Almeida 7º-Quinta da Touriga Chã 2007,Douro, Jorge Rosas 8º-Quinta do Vale Meão 2007 Douro, F. Olazabal e Filhos
PORTO VINTAGE 1º-Warre's Porto Vintage 2007, Symington Family Estates
Fizeram parte do júri os seguintes jornalistas e sommeliers:
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Vinhos brasileiros em prova |
 Mais importante (para mim) que os "Top 10 vinhos portugueses" foi a apresentação que fiz no evento, chamada de O Melhor do Brasil, Vinhos Brasileiros em Prova, que aconteceu no dia seguinte. Até onde sei foi a primeira vez que vinhos brasileiros foram apresentados à imprensa internacional por um jornalista e não pelas próprias empresas ou órgão oficiais.
Após a degustação dos "Top 10 vinhos portugueses" aproveitei para conversar com muitos dos membros do júri e convidá-los para a degustação brasileira. Pude constatar que no mundo inteiro há muito interesse pelo vinho brasileiro, por parte dos jornalistas e sommeliers. Todos estavam curiosos em provar os nossos vinhos. Um enólogo português chegou a brincar que o título "O Melhor do Brasil", o fez pensar em samba e mulheres.
Critério A organização do Essência do Vinho me limitou a 8 vinhos e 50 minutos de palestra. A seleção foi de minha responsabilidade e meu critério foi escolher vinhos de 8 empresas diferentes, com ao menos um vinho do nordeste (a curiosidade pelo paralelo 8 é imensa) e um vinho de altitude de Santa Catarina. Baseei a escolha em minhas degustações de 2009, todas publicadas em meu site www.mardevinho.com.br.
Para a organização da palestra contei com o apoio do Ibravin e da Wines From Brazil. A "seleção brasileira" foi escalada com:
1-Espumante Geisse Terroir 2006, Cave de Amadeu 2-Chardonnay Villa Francioni Lote II 3-Rio Sol Reserva Cabernet-Syrah 2008, Vini Brasil 4-Talento 2005, Salton 5-Merlot DNA99 Single Vineyard 2005, Pizzato 6-Storia Merlot 2005, Casa Valduga 7-Lote 43 2005, Miolo 8-Gran Reserva Teroldego 2007, Don Guerino
A Palestra As reservas estavam previamente esgotadas. Fiz a maior parte da palestra em inglês, devido à bem vinda presença de estrangeiros. Falei do panorama do mercado no Brasil (produção brasileira, importados, consumidor brasileiro, etc), depois apresentei as regiões produtoras, Pernambuco, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e por fim provamos juntos todos os vinhos. Os 6 tintos foram servidos às cegas e pedi que cada um elegesse seu favorito.
A votação O espumante e o branco servidos antes da prova cega agradaram. O Chardonnay Villa Francioni foi bastante elogiado, com algumas ressalvas para a madeira a mais. Os tintos foram avaliados de forma criteriosa, por um público bastante profissional e crítico, atento a todos os detalhes. Alguns pontos a melhorar foram apontados, como toques de "bret" (aromas animais) em alguns vinhos, taninos verdes em outros e excesso de madeira em outros. A qualidade geral, contudo, superou as expectativas e o potencial dos vinhos foi elogiado. O que vi foi uma platéia satisfeita e muito contente por poder provar estes vinhos, ainda quase inéditos para o mundo.
Fiz uma votação entre os presentes e pedi que cada um me apontasse seu vinho predileto. Estava lá um brasileiro ilustre, o sommelier do grupo Fasano, Manoel Beato, que participou do certame. Eu esperava uma votação dividida, mas para minha surpresa, com exceção de 1 voto (para o Merlot da Pizzato), TODOS votaram no mesmo vinho, em quase unanimidade.
O eleito foi: Lote 43 2005, Miolo.
Parabéns à Miolo e aos vinhos brasileiros!
Reproduzo aqui minha avaliação do LOTE 43, feita em 7/8/2009 e publicada em meu site no link: www.mardevinho.com.br/colunas/crise-nao-tira-nacionais.
"Lote 43 2005, Miolo. Elaborado com Cabernet Sauvignon e Merlot, amadurecido em barricas de carvalho americano. Vermelho rubi escuro com reflexos violáceos bem vivos. Aroma intenso e bem integrado de frutas maduras, especiarias doces da madeira, vegetal da Cabernet Sauvignon. Paladar de bom corpo, sem exageros, taninos finos e doces, boa acidez, 14% de álcool, longo e equilibrado. Muito bem elaborado, sem arestas, delicioso. Cresceu muito depois de algum tempo no decanter. O melhor corte da prova e um dos melhores vinhos do Brasil. Nota 88 pontos"
Uma curiosidade: durante a apresentação um irlandês perguntou, com preocupações ecológicas, se estamos desmatando a floresta Amazônica para implantar vinhedos.
Repito uma declaração que dei ao Ibravin, "a maior prova de que eu confio na qualidade do vinho brasileiro é me colocar na frente de especialistas de vários países para apresentar estes vinhos". Lembrem, contudo, que estamos apenas começando e que o caminho da qualidade é longo, feito de muitos passos. Espero ter ajudado com este pequeno passo.
Para entender melhor o que quero dizer, basta saber que enquanto degustávamos os vinhos brasileiros, na sala ao lado havia a prova comemorativa dos 100 anos da república portuguesa, com Portos, Moscatéis e Madeiras da safra de 1910, vinhos fantásticos que eu pude provar e que atestam o trabalho de qualidade de muitas gerações.
[email protected] www.mardevinho.com.br |
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