"LF""LF""LF""LF""LF"
Matérias relacionadas
Colunistas
 
Para os amantes do vinho que nunca tiveram a oportunidade de ir além da Cabernet Sauvignon e da Chardonnay o Douro é um desbunde. O Douro é a região de todo o mundo com o maior numero de castas em produção, são mais de 100!

No final dos anos 1970, um grupo de enólogos liderados por João Nicolau de Almeida (que estudou na Universidade de Bordeaux) iniciou um estudo com as principais castas da região que permitiu selecionar cinco castas que seriam as mais bem adaptadas ao Douro: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinto Cão e Tinta Roriz. A tendência hoje é que novas plantações se concentrem nestas castas e em mais algumas, como a Tinta Amarela. Nas brancas, as mais importantes são: Malvasia Fina, Gouveio, Viosinho, Códega e Malvasia Rei.

As castas recomendadas
A legislação prevê um grupo de 29 castas "recomendadas" (15 Tintas e 14 Brancas esquematizadas no quadro abaixo). Estas 29 são divididas em dois grupos, o primeiro que deve compor ao menos 60% do vinho e o segundo que não pode passar de 40% do vinho. Existe um outro grupo de castas que também podem ser usadas nos vinhos da região, complementando o lote, são as castas "autorizadas", que são várias dezenas! As castas autorizadas e recomendadas pela legislação valem tanto para o vinho do Porto quanto para os vinhos de mesa.

As uvas mais plantadas
No que diz respeito à área ocupada, a evolução nos últimos anos foi a seguinte (fonte IVDP):
 
Características das uvas do Douro
As tintas
Touriga Nacional: chamada por alguns autores de "o Cabernet português", por sua alta qualidade, adaptabilidade a vários solos e personalidade marcante. Existe hoje em Portugal um consenso de que esta é a casta mais importante do país. No Douro, a Touriga Nacional ainda ocupa uma área mínima (2,5%), mas proporcionalmente é a casta que mais cresce em área plantada na região.

No passado esta casta era indesejada pois produzia muito pouco e era muito suscetível a doenças. Hoje, após muitos estudos, já se sabe como tirar o melhor dela (o porta-enxerto ideal, o melhor sistema de condução, a melhor densidade de plantação, as melhores praticas de poda etc). É uma casta pouco produtiva, geralmente entre 1kg e 1,5kg de uva por pé. Gera vinhos de cor escura, aromas intensamente frutados, lembrando frutas doces como ameixas, cassis e flores como violetas, paladar estruturado, com taninos doces e concentrados, muita complexidade e elegância. Os vinhos de Touriga Nacional normalmente têm grande capacidade de envelhecimento, mantendo por muito tempo suas características e por isso esta casta reina nos Portos Vintage. Além disso é uma das poucas castas do Douro que segue muito bem em "carreira solo", em vinhos de mesa sem a adição de outras castas, o que chamamos de mono-varietais ou mono-castas.

Touriga Franca: É a casta mais plantada do Douro, no passado chamada de Touriga Francesa (apesar de não ter nenhuma relação com a França). Tem muitas qualidades: adapta-se bem a qualquer tipo de solo, produz bastante (2,5 kg de uvas por planta), resiste bem ao calor, por isso é muito utilizada no Douro Superior, e resiste bem aos anos secos. Exige alguns cuidados na vinificação por sua facilidade em oxidar. Os vinhos feitos com Touriga Franca são robustos, de cor intensa, típicos aromas de frutas negras e florais de rosas. No paladar geralmente são estruturados, com muitos e bons taninos, com boa capacidade de envelhecimento. Como é a casta mais plantada na região e muito usada nos Portos Vintage, geralmente nos anos em que a Touriga Franca vai bem há bons Vintages de todos os produtores (uma declaração generalizada de Vintages).

Tinta Roriz: também chamada de Aragonêz no Alentejo e de Tempranillo na Espanha, entre vários outros nomes. É uma casta de alta qualidade e produtividade (2,5 kg por pé) que se dá em solos ricos e temperaturas médias. É uma das castas mais conhecidas e cultivadas de Portugal, graças a sua adaptabilidade aos solos e climas e seu bom rendimento. É muito versátil, podendo gerar desde roses, até fazer parte bends de Portos Vintage. No Douro é a 2ª casta mais plantada, depois da Touriga Franca, e lá diz-se que esta casta é muito "aneira" (depende do ano), e é "boa quando lhe apetece". A Tinta Roriz gera vinhos com menor intensidade de cor, mas que nos melhores anos têm aromas intensos, com profundidade e complexos de frutas de geléias de negras e especiarias, que podem chegar a ótima estrutura de taninos, elevado teor alcoólico, baixa acidez e por sua estrutura de taninos, ótima capacidade de envelhecimento.

Tinta Barroca: É uma casta antiga, remonta ao século XVII e hoje é uma das mais plantadas do Douro. É uma casta robusta, de boa produção (2,5 kg por pé) e uma das primeiras a amadurecer e ser vindimada. Gera vinhos de média intensidade de cor, taninos macios, alcoólicos e encorpados, com aromas doces suavemente frutados, lembrando cerejas e ameixas. É muito usada em lotes de Portos Vintage, por sua graduação alcoólica e concentração de cor e boa capacidade de envelhecimento em garrafas. É mais comum encontrá-la no Baixo Corgo e Cima Corgo. No Douro Superior se desidrata fácil, atingindo a sobrematuração, podendo dar vinhos mais grosseiros.

Tinto Cão: Esta casta gera vinhos mais leves, de pouca cor e pouco expressivos na juventude (com aromas elegantes de frutas vermelhas, especiarias e flores), mas que com a idade mostram grandes qualidades, resistentes a oxidação. É quase sempre misturada a outras castas.

Tinta Amarela: muito presente no Baixo Corgo. É uma casta de difícil cultivo, pois é suscetível a doenças, mas que pode gerar vinhos de ótima cor, com ótima fragrância, aromas intensos frutados, com toque vegetais característico, com boa capacidade de envelhecimento. É também muito plantada no Alentejo onde é chamada de Trincadeira ou Trincadeira Preta. Em outras regiões pode se chamar Espadeiro ou Crato Preto ou Mortágua ou Murteira ou Rabo de Ovelha Tinto.
As brancas
As castas brancas no Douro geralmente ocupam terrenos mais altos e frescos, que não são propícios às tintas e não direito a produzir vinhos do Porto. As principais são:

Malvasia Fina: como o nome diz, gera vinhos de aromas muito finos, encorpados, frutados. É cultivada em várias regiões portuguesas, como a ilha da Madeira. Muito usada no Porto Branco e brancos de mesa do Douro.

Gouveio: cultivada em outras regiões portuguesas, como na Ilha da Madeira, é chamada de Verdelho. Gera vinhos aromáticos e de textura macia, com aromas de maça, boa acidez e boa concentração de açúcar. Bastante usada em cortes com Malvasia Fina no Porto Branco

Viosinho: casta pouco produtiva, mas de qualidade, que confere estrutura e intensidade aromática aos vinhos, bastante usada em cortes com Malvasia Fina no Porto Branco.

Códega: casta muito antiga em Portugal, hoje é uva branca mais plantada no Douro. Produz muito e dá vinhos com elevada graduação alcoólica e baixa acidez.

Malvasia Rei: Produz muito, mas resulta em vinhos pouco ricos e pouco complexos. Mais usada em cortes.

Marcelo Copello
www.mardevinho.com.br
Comentários
Pedro Figueiredo
QVE - Sociedade Agrícola de Silgueiros
Silgueiros
Portugal
05/04/2010 Só para relembrar, que o berço da Touriga-Nacional (Tourigo ou Preto de Mortágua - nomes utilizados para esta casta) é o Dão. Daí emigrou, para o...Mundo.

Abraço
Pedro
Antonio Carlos Ferreira
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
05/04/2010 Marcelo,

Nesse seu artigo que nos delicia com uma descrição clara e objetiva das castas portuguesas, tem algo que chama a atenção pela sua beleza. A foto ilustrativa do belíssimo azulejo com que você apresentou a matéria.
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo
Beria Litoral - V N Poaires
Portugal
06/04/2010 Bom dia, caro Marcelo,

Antes de mais agradeço o seu artigo sobre o Douro, a minha região vinicola de excepção.

Quanto ao nosso amigo Pedro de Silgueiros, espero quando regressar a Portugal provar a sua Touriga, que iremos desenterrar no curral da Burra do Martelo e comparar com a Touriga Femea do Douro.

Quanto à Touriga Francesa de Portugal, está a dar-se bem aqui no Brasil e a dar bons vinhos.

Quanto á temática do Douro e das castas para o vinho do Porto é assunto dos Durienses, das suas vinhas de Letra A e dos leilões de venda do beneficio. Assunto repassado há muitas gerações, desde o séc. XVIII e que dá o encanto ao Douro.

Um abraço e bons vinhos
Fernando
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo
Beria Litoral - V N Poaires
Portugal
06/04/2010 Caro Coppello,

Há 2 séculos as terras do Douro foram repartidas e selecionadas para a produção de uvas a utilizar na produção de vinho do Porto. Esta directiva condicionou não só as vinhas com cuja produção se produziria o Vinho Generoso como também limitou a quantidade de vinho a produzir. Esta regulamentação criou as condições para que o produto não se adulterasse e obtivesse muito justamente o mérito que hoje disfruta.

Nos dias de hoje muitas das vinhas de Letra A (a mais qualificada para a produção de vinho do Porto) são propriedade de Herdeiros de antigos proprietários do Douro que deixaram as encostas do Douro e foram habitar para a cosmopolita cidade do Porto e nomeadamente na Foz do Douro. Estes "donos" de boa parte do Douro vendem em leilão o beneficio da produção das terras herdadas e desta venda usufruem de uma boa qualidade de vida na cidade. Muitos deles não trabalham e vivem desta herança. Muitos também estão a regressar tomando conta das terras da herança e uma juventude conhecedora e não ociosa chegou ao Douro dando-lhe um novo folego.

È básicamente neste intrincado de leis e direitos que cabe a sua frase de "não dão o direito de produzir vinho do Porto". Ainda bem, pois temos um produto de qualidade que não pode ser produzido nas quantidades que se quer, mas sim na qualidade que se quer. Como dizem os Durienses, o limite de produção das adegas do Douro está regulamentado não tendo estas unidades o céu como limite de produção como infelizmente se vê nalgumas nóveis regiões demarcadas.

Quanto aos azulejos referidos pelo sr. A.Carlos Ferreira (que são de babar), só indo lá visitar as estações do comboio se pode ver da grandeza deste património.

Um abraço
Fernando
Marcelo Copello
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
09/04/2010 Caro Pedro, que o berço da Touriga/Tourigo é o Dão ningém esquece! Leia minha coluna que sairá na Expovinis na edição especial da Revista de Vinhos sobre as Beiras.

Antonio, obrigado, quem ilustrou a matéria foi o Oscar, se não me engano esta foto é dos azulejos da estação do Pinhão.

Fernando, obrigado, você nos enriquece com sua cultura e paixão pelo Douro.

Abraços a todos aqui de Belém!
Marcelo Copello
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo
Beria Litoral - V N Poaires
Portugal
11/04/2010 Caro Marcelo,

Os azulejos são da estação do comboio da linha do Douro, no Pinhão.

Um abraço
Fernando
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]