"LF""LF""LF""LF""LF"
Matérias relacionadas
Colunistas
Antes de começarmos a coluna desta semana, um aviso: estão abertas as inscrições para o curso "Técnica e Prática de Degustação", da Escola Mar de Vinho. Clique aqui para saber mais.

A maison de Champagne Perrier-Jouët é puro luxo. Seu vinho principal, o Belle Epoque, com sua garrafa decorada com motivos florais, é reconhecida a distância por qualquer discípulo de Baco e associada à leveza de seu inconfundível estilo.

No último dia 13 de abril, em São Paulo, a Pernod Ricard, que controla a Perrier-Jouët, trouxe ao Brasil Hervé Deschamps, chefe de cave da Maison para uma prova inédita em solo nacional: uma vertical de Champagne Belle Epoque (leia mais detalhes sobre esta prova abaixo). Em uma entrevista na ocasião, Hervé me falou sobre a história da Perrier-Jouët, sobre seus Champagne prediletos e sobre música. Vejamos:
Marcelo Copello Hervé Deschamps
Em 1854, Charles Perrier lançou o primeiro Champagne seco, o que acabou motivando a criação da denominação "brut". O que levou a empresa a tal? O gosto do consumidor da época mudou? E o gosto do consumidor de hoje pede cada vez mais que tipo de Champagne? O consumidor inglês pedia um Champagne para ser degustado após o Jerez e o Porto, para refrescar o paladar. Antes disso, o Champagne era uma bebida de sobremesa, doce, e servia como preparação entre os dois pratos principais. O povo inglês foi o primeiro a entender que Champagne é um vinho!
Charles Perrier foi também um entusiasta dos Vintage, o que representava uma grande mudança de paradigma, em um vinho (o Champagne) essencialmente elaborado por adição de vinhos de reserva. Vejo os Champagnes non vintage e os vintage como duas bebidas totalmente diferentes. O que muda no objetivo da Perrier-Jouët ao elaborar seu Grand Brut non Vintage e o Grand Brut Vintage? Charles Perrier usou a cortiça (imprimindo o ano na rolha) e a rotulagem para de indicar o ano da colheita. Desde muito tempo os produtores de champanhe já faziam o Vintage, mas não indicavam o ano na cortiça ou nos rótulos.

Sim, são dois tipos de vinhos, mas sempre com a assinatura da Perrier-Jouët. O "não Vintage" é como um cartão de visita, tem a mesma qualidade ano a ano, enquanto o Vintage mantém as características de seu ano, e, com um longo envelhecimento desenvolve mais personalidade e aromas. Os "não Vintage" são mais para aperitivo e o Vintage para a refeição.
A Maison Belle Epoque, em Épernay, é um lugar belíssimo. Provar um Belle Epoque lá transforma a degustação em uma experiência completa. O ambiente melhora a percepção de uma bebida? A Maison Belle Epoque, a nossa casa de hóspedes, é um lugar mágico em que a decoração (mobiliário de Gallée, Majorelle, Guimard, Damousse, etc... telas, vasos, pinturas, jardinagem) é como um museu. A arte na garrafa de Belle Epoque foi criada por Emile Gallée, um fabricante de vidro famoso da Art Nouveau. Degustar uma taça de Belle Epoque sentado em uma poltrona de Louis Majorelle é um privilégio. Degustar uma taça de Belle Epoque em nossa maison, com decoração Art Nouveau, nos faz sonhar...
A Chardonnay não chega a dominar amplamente os blends dos Champagnes da Perrier-Jouët (à exceção do Belle Epoque Blanc de Blancs). Ao que se deve a associação da imagem da empresa, desde sua fundação em 1811 por Pierre-Nicolas-Marie Perrier, a esSa casta? Em todos os blends ds marca Perrier-Jouët você encontrará o gosto da Chardonnay, porque a Chardonnay da Perrier-Jouët é das melhores vilas da Côte des Blancs. É como cozinhar: o que marca não é a quantidade de um tempero, mas sua qualidade.
Em 1959, a Perrier-Jouët passou ao controle do grupo Mumm e depois mudou de dono algumas vezes (Seagram, Allier Domecq) e desde 2005 pertence à Pernod Ricard. Ao longo de sua história em algum momento essas mudanças influíram no estilo do vinho ou no seu posicionamento como produto? Sim, é delicado passar por 6 donos em 4 anos, mas nada mudou no estilo Perrier-Jouët. Se você mantiver a qualidade, você mantém os consumidores. E cada novo proprietário entendeu e respeitou a chave do sucesso da marca Perrier-Jouët, seu estilo e qualidade.
A história da criação do Champagne Belle Epoque é muito interessante. O senhor pode nos contar, primeiro sobre a concepção do vinho em si, por Michel Budin, Pierre Ernst e André Bavaret? Depois, sobre a descoberta da garrafa decorada de 1902 encontrada por acaso nos anos 1960? Quando Andre Baveret encontrou a garrafa magnum decorada por Gallé em 1902, foi muito difícil encontrar vidraceiro capaz de obter o mesmo resultado. Para esta nova garrafa, a equipe da Perrier-Jouët decidiu criar uma mistura especial com uma maioria de Chardonnay, especialmente a partir de Cramant, a melhor aldeia da Côte des Blancs.
O primeiro Belle Epoque é da safra de 1964 (lançado em 1969). O Sr. já provou essa safra? Das safras antigas de Perrier-Jouët (não apenas Belle Epoque) qual sua predileta ou qual foi a mais marcante que já provou? Hoje restam apenas duas garrafas magnum de 1964 em nossas caves. No ano passado, tivemos uma degustação com grandes gurus do vinho e servimos 20 safras históricas da Perrier-Jouët, de 2002 até 1825, a safra mais antiga ainda em nossas caves! Talvez o meu favorito tenha sido o 1911, com quase 100 anos!
O que mais me fascina na elaboração de um Champagne é a etapa de assemblage ou blend. Eu gostaria que o Sr. explicasse este processo. Quantos vinhos são provados normalmente para a elaboração de um Belle Epoque? Quando começam a cada ano as provas (em que mês) e quando terminam? Quantas pessoas provam? Como são organizadas as provas? Quantos vinhos provam de cada vez? Sempre às cegas? Fazem votações, pontuações, tomam notas? Utilizam algum software para ajudar na organização e controle destas degustações? Análises químicas dos vinhos são fundamentais na fase de blend ou não? Após a fermentação, geralmente no final de dezembro, começamos a degustar cada tanque (perto de 250 tanques). Cada tanque tem uma personalidade, não apenas da variedade da uva, mas de uma aldeia, de um vinhedo, de um viticultor... Durante uma semana eu degusto todos os tanques (degustação no final da manhã e no final da tarde). Eu degusto cada tanque em dezembro, em janeiro e no início de fevereiro. Eu analiso o potencial de cada tanque para entrar no próximo blend (do "não Vintage") ou para ser um Vintage.

O mais importante é a análise sensorial, a análise química não fornece informações suficientes para o blend, serve apenas como uma checagem. Eu trabalho com um enólogo assistente e recolho notas para cada tanque. Depois eu faço o blend na minha cabeça (como em um carro que você tem o motorista e o co-piloto). Depois minha equipe monta o blend que eu propus e nós o provamos juntos. Nessa equipe de prova estão enólogos e outra pessoas (não enólogos) que conhecem bem o estilo Perrier-Jouët.
O Sr ingressou na Perrier-Jouët em 1983. Nestes quase 30 anos de casa, qual foi a safra mais marcante em que já trabalhou e porquê? O 1995, meu primeiro Belle Epoque (Andre Baveret aposentou-se em 1993).
Que conselho ou orientação daria a quem vai provar um Belle Epoque pela primeira vez? Abra seu nariz, abra todos os seus sentidos, foque na elegância e na delicadeza da Belle Epoque. É como um perfume, não é necessário ter cheiro forte para ter a qualidade excepcional.
Se o Belle Epoque 2002 fosse uma música, qual seria? E o Rosé 2004? E o Blanc de Blancs 2000?
  • Belle Epoque 2002: Primavera, de Vivaldi
  • Belle Epoque Rosé 2004: La Vie en Rose, com Edith Piaf
  • Belle Epoque Blanc de Blancs 2000: Imagine, de John Lennon
  • Os vinhos degustados

    Perrier-Jouët Belle Epoque 2002: Elaborado com 50% Chardonnay, 46% Pinot Noir, 4% Pinot Meunier, 9 g/l. Palha claro e brilhante, com reflexos dourados claros. Aroma de médio ataque, elegante e complexo, foi se abrindo na taça, mostrando seu perfume, com toques fumés, baunilha, especiarias, muita finesse. Paladar estruturado sem perder a leveza, onde aparecem os tostados, brioche, fresco, cítrico, perlage faz um carinho, leve e de grande equilíbrio. Dentre todos os Belle Epoque provados, este foi que mais me remeteu ao estilo de leveza e elegância da casa. Para guarda. Nota: 92 pontos

    Perrier-Jouët Belle Epoque 2000: Elaborado com 50% Chardonnay, 45% Pinot Noir, 5% Pinot Meunier. É mais encorpado que o 2002, mostra mais tostados, é mais seco, com amêndoas, avelãs, baunilha, caramelo, brioche, minerais terrosos, damasco. Pronto agora. Nota: 91 pontos

    Perrier-Jouët Belle Epoque 1998: Elaborado com 50% Chardonnay, 45% Pinot Noir, 5% Pinot Meunier. Um ano quente, em que chegou a fazer 40ºC em agosto. Intenso e complexo, com aromas bem marcados de leveduras, caramelo, mel, florais, gengibre, maçã, mineral calcário. Paladar estruturado e redondo, com acidez crocante, o mais encorpado da prova, ainda jovem, para longa guarda. Nota: 94 pontos

    Perrier-Jouët Belle Epoque Blanc de Blancs 2000: Elaborado com 100% Chardonnay, 9g/l, 6,5 anos sur lie. Um Champagne de grande leveza e elegância, mostrando mel, flores, goiaba, cítricos, baunilha. Paladar leve e de grande equilíbrio, sem a acidez aguda do 1998, com muita pureza, muito longo. Delicioso. Nota: 94 pontos

    Perrier-Jouët Belle Epoque Rosé 2004 MAGNUM: Elaborado com 40% Chardonnay, 55% Pinot Noir, 3% Pinot Meunier, com mais 10% de vinho tinto. Linda cor entre salmão e pêssego. Aroma delicado e muito elegante de pétalas de rosas, frutas vermelhas frescas, framboesa e morango, tostados. Paladar leve e equilibrado, com acidez refrescante. Parece um rosé da Provence com um brioche dentro... Nota: 93 pontos

    Perrier-Jouët Belle Epoque Rosé 2002: Elaborado com 45% Chardonnay, 50% Pinot Noir, 5% Pinot Meunier, mais 8% de vinho tinto. Mais claro que o 2004, cor mais pêssego, pela idade e oxidação. Aroma delicado e cheio de nuanças, com frutas vermelhas frescas, morangos, mel, pão torrado, laranja confit, caramelo, baunilha. Paladar muito leve, fresco e bem equilibrado, mais leve e elegante que o 2004. Nota: 92 pontos
    Comentários
    Elson Bernardes de Oliveira
    Enófilo
    Santo André
    SP
    27/04/2010 Olá Marcelo,

    Que viagem sensacional e que champanhe maravilhoso você conheceu! Espero um dia conhecer a França e seus vinhos e champanhes mundialmente conhecidos.
    Marcelo Copello
    Colunista
    Rio de Janeiro
    RJ
    30/04/2010 Elson, a França é maravilhosa e o Champagne é um ícone mundial, parte do imaginário e da história da humanidade. Pare tudo e vá pra lá agora!

    Abraços,
    Marcelo Copello
    Osvaldir Francisco Castro
    Enófilo
    São José do Rio Preto
    SP
    01/05/2010 Que belo passeio! Degustei a 2000 e a 2002. Sensacionais.

    Valeu sua matéria, Marcelo.
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]