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 Pessoal, o assunto ainda é a Expovinis 2010. Escrevi o texto abaixo para a revista Vinhos de Portugal, uma edição elaborada pelas Comissões Vitivinícolas da Bairrada, Dão e Beira Interior, especialmente para circular durante a feira em São Paulo.
Boa leitura e saúde! Marcelo Copello
Conhecer do vinho português apenas os exemplares de Douro e Alentejo é como conhecer do Brasil apenas o Corcovado e o Cristo Redentor, sem jamais visitar as praias do nordeste ou as Cataratas do Iguaçú. Tão vasta e exuberante quanto as belezas naturais brasileiras é a variedade do vinho Português.
Beira Interior, Dão e Bairrada são verdadeiros universos de sabores a serem descobertos. O estilo destes vinhos é incomparável. Ou, se quiserem comparar: um Baga da Bairrada tem os taninos de um Barolo. Um Touriga Nacional do Dão, ao envelhecer, alcança a elegância de um Borgonha. Os melhores brancos da Encruzado são tão longevos quanto os melhores Montrachets. Os espumantes da região não devem nada em acidez e frescor aos melhores exemplares do norte da Itália.
Potencial no Brasil O potencial destes vinhos no mercado brasileiro (e mundial) é enorme. Os vinhos das Beiras encaixam-se como uma luva nos anseios dos consumidores iniciantes brasileiros, por diversas razões.
1º - Tocam no ponto mais sensível deste consumidor: o bolso, com preços convidativos. 2º - À exceção de alguns tintos, como os taninosos Baga, são vinhos fáceis de beber desde a juventude. 3º - Abrangem toda a gama de tipologias, tintos, brancos, rosados e espumantes (além de alguns poucos e bons vinhos de sobremesa). 4º - Oferecem uma ótima opção à oferta de rótulos que se encontra no mercado brasileiro, dominado por castas "internacionais", como a Cabernet Sauvignon e Chardonnay. Há pelo menos uma dúzia de castas autóctones portuguesas que se destacam na região, como as tintas Baga, Touriga Nacional, Aragonês, Alfrocheiro, Jaen, Trincadeira e Rufete; e as brancas Encruzado, Arinto, Verdelho e Cercial e Fernão Pires (também chamada de Maria Gomes).
Quem quer um branco leve e aromático para variar do Sauvignon Blanc, pode provar um Arinto ou um Fernão Pires. Para um espumante de acidez crocante vá de Bical. Para um tinto frutado e perfumado a escolha pode ser a versátil Touriga Nacional, ou então um bom Alfrocheiro. Quem gosta de taninos ficará feliz com um Baga jovem e nervoso. Quem quiser continuar nas castas de sempre, a partir de um terroir diferente, pode provar os exemplares elaborados nas Beiras de castas como Sauvignon Blanc, Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot e Pinot Noir. Esta última adaptou-se muito bem à Bairrada, com muita originalidade.
Para os aficionados Para os consumidores brasileiros de um nível mais avançado (e são muitos), as Beiras são manancial valioso. O terroir local é único, congregando o frescor da altitude, maturações lentas e solos privilegiados.
Conheço enólogos de países do Novo Mundo que dariam um braço ou um rim por um bom pedaço de vinhedo em solo xistoso ou granítico, o que há de sobra na região das Beiras. E porque estes solos são tão valiosos? Pois em conjunção com o clima e as castas locais, e em mãos de um produtor cuidadoso, pode gerar caldos que alcançam o nirvana de qualquer aficionado, esbanjando elegância, longevidade, mineralidade e distinção.
Os melhores vinhos das Beiras seguem a atual tendência mundial entre os consumidores mais sofisticados: menos madeira nova, menos extração, boa acidez natural, aromas que vão além do binômio fruta-madeira e chegam aos florais e delicados minerais, e vocação gastronômica.
Não nos esqueçamos também do patrimônio que esta região tem em diversidade clonal. Lembrem que três das castas mais importantes de Portugal são originárias das Beiras e, portanto, perfeitamente adaptadas a esse terroir. Falo das tintas Baga e Touriga Nacional e da branca Encruzado.
Para o colecionador Em fevereiro de 2010 tive o privilégio de participar em Lisboa de uma evento promovido pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), chamado "Dois Séculos de Vinho Português".
Esta prova contou com nada menos de 45 rótulos de safras de 1890 a 1993. Ou seja, caldos com idade entre 17 e 120 anos! Uma prova inesquecível, com vários vinhos de classe internacional, capazes de enfrentar os melhores vinhos do mundo. Todos os detalhes desta prova podem ser lidos clicando aqui.
Nesta degustação, nada menos do que 14 dos tintos e brancos eram do Dão e da Bairrada. Os vinhos estavam impecáveis e alcançaram altas pontuações. Vejam meus comentários sobre um tinto e um branco:
Dão Touriga Nacional 1963: Produzido pelo Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão (CEVD). Elaborado com 100% de Touriga Nacional, sem madeira. Cor escura e densa em tons granada alaranjado. Aroma potente e dando a impressão de ainda ter evolução pela frente, complexo ainda com fruta nesta idade! Mostrando couro, ameixas maduras, especiarias, pelica, chocolate amargo. Paladar encorpado vivíssimo, taninos ainda presentes, fim de boca seco e sério, com ótima acidez. O que impressionou foi ver que este exemplar tem um caráter moderno, com boa fruta, madura, meio de boca largo, taninos secos, finos, firmes, longo. Nota 96 pontos
Dão Branco 1971: (CEVD). Elaborado com 100% Encruzado. Maravilhoso desde o primeiro contato. Palha claro com reflexos dourados, sem demonstrar evolução na cor. Aroma intenso, fresco e ainda jovial, mostrando minerais, anis, aneto, florais. Paladar muito seco, acidez crocante, muito longo e equilibrado, grande vinho. Nota 94 pontos
Exemplares como estes atestam a longevidade dos vinhos das Beiras e sua vocação para a alta qualidade, capaz de aguçar o ímpeto dos mais exigentes colecionadores.
Marcelo Copello www.mardevinho.com.br |
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