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100 anos, um século, uma época, uma era. A mística do intervalo redondo de 100 anos evoca o tempo circular, recorrente e eterno, que se contrapõe ao tempo linear da ciência. A vinha e o vinho partilham deste mesmo tempo cíclico e simbolizam o renascimento e a renovação a cada safra. Este é um momento importante, pois uma das maiores vinícolas do Brasil faz 100 anos. À Salton, 100 brindes!
Esta empresa familiar, que passou por guerras mundiais e crises internacionais, chega a seu centenário em plena forma, prevendo aumentar sua linha de produção este ano em 80%. Os números da Salton impressionam. A expectativa da empresa é de vender este ano, só em espumantes, 6 milhões de garrafas, consolidando sua posição de líder na perlage nacional. Somando a estas cifras o crescimento esperado de 40% nos vinhos finos e de 24% nos sucos de uva, chega-se à meta de faturamento para 2010: R$ 240 milhões.
Para registrar esta data histórica e celebrar o sucesso da empresa, conversei com seu atual diretor presidente, Daniel Salton, neto do fundador, Paulo Salton. Nascido em Bento Gonçalves e formado em Administração de Empresas pela PUC-RS, Daniel iniciou sua carreira na vinícola como assessor administrativo, em 1980. Em abril de 1981 passou a diretor administrativo e no ano passado assumiu a presidência, no lugar do saudoso Ângelo Salton. Leiam a seguir as 10 perguntas que fiz a Daniel Salton:
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Marcelo Copello |
Daniel Salton |
A Salton completa históricos 100 anos como uma das empresas protagonistas do cenário nacional do vinho. Como você nos contaria esta trajetória de um século e como a Salton se insere no mercado brasileiro hoje? |
Desde os primeiros anos da história, tanto da família quanto da vinícola, até os dias de hoje sofremos inúmeras mudanças. Passamos tanto por crises internacionais (guerras mundiais), quanto crises econômicas nacionais (planos econômicos de combate a inflação) e também por crises familiares. Através da entrada do Ângelo Salton Neto como diretor presidente, em 1981, conseguimos crescer e solidificar todo o patrimônio que herdamos de nossos pais.
Nesta última década, o trabalho realizado por todos foi muito significativo e, através da união, elevamos o nome da vinícola e de nossa família. Passamos de uma empresa com visão retraída de mercado para uma vinícola com visão de mercado competitivo, obtendo sucesso e reconhecimento através dos produtos finos que vêm sendo lançados.
O mercado hoje é muito visado, tanto por empresas nacionais e internacionais, e a oferta de produtos é abundante. Para vencermos, faz-se necessário trabalharmos muito e com excelência em qualidade. |
O que podemos esperar da Salton em um futuro próximo em termos de novidades, investimentos e novos produtos? |
Pelo conceito que temos hoje e pela condição de mercado, acreditamos que, com nosso trabalho e planejamento desenvolvido, estamos seguindo no caminho correto para o crescimento e solidificação de nossas unidades produtivas e entre a família.
Estamos priorizando alguns investimentos em novos produtos e consolidando nossa posição de mercado, principalmente na categoria de espumantes. Já nos vinhos, esperamos que o consumidor, nos próximos anos, acredite mais fortemente na qualidade de nossos vinhos finos, assim como já possui confiança em consumir nossos espumantes.
Atualmente possuímos excelentes opções de vinhos em várias faixas de mercado, produtos estes que são elaborados seguindo programas de qualidade e que farão com que os consumidores que os provarem voltem a consumi-los em outras oportunidades.
Nossos investimentos este ano giram em torno de R$ 21 milhões. Este valor será utilizado para a aquisição de uma segunda linha de engarrafamento. Além dela, adquirimos ainda área de terras em Santana do Livramento e estrutura para início dos trabalhos naquela área, e também aquisição de 10 novos tanques, com capacidade individual de 250 mil litros, para estocagem de vinhos finos; estrutura para o Turismo e construção de um novo centro administrativo.
Quanto aos lançamentos, neste momento estamos nos preparando para colocar no mercado o vinho, o espumante e o brandy, produtos desenvolvidos em comemoração aos 100 anos da vinícola.
O vinho Salton 100 anos foi elaborado a partir das variedades de uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, corte este que amadureceu por 14 meses em barricas de carvalho francesas novas.
O espumante Salton 100 anos, elaborado através do método champenoise a partir das variedades Chardonnay e Pinot Noir, passou 3 anos em contato com as leveduras, o que lhe conferiu uma coloração amarelo-ouro e aromas de cevada tostada, pão torrado, mel, nozes, baunilha, avelã e café.
O brandy, elaborado a partir de destilado vínico, presta uma homenagem ao produto que por muitos anos foi carro-chefe da vinícola, o Conhaque Presidente.
Para o ano que vem, podemos esperar outras novidades, pois nossa equipe enológica realiza pesquisas constantemente para o desenvolvimento de produtos que venham a atender às necessidades de nossos consumidores. |
A Salton pensa em investir na produção de vinhos ou uvas no nordeste ou em alguma outra região do país? |
A Salton adquiriu 700 hectares na região de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul para o plantio de videiras. Ainda neste ano, planejamos plantar 30 hectares de uvas brancas Chardonnay para a elaboração de espumantes. Desde 2001, mantemos parceria com cerca de 35 produtores de Bagé e Livramento, por meio da qual a produção de cerca de 300 hectares é entregue, com exclusividade, à Salton.
Quanto à região nordeste do país, em termos de elaboração de vinhos e uvas, não pensamos em investir. Nosso investimento naquela região está focado na apresentação de nossos produtos e aumento de nossas vendas. |
O brasileiro parece ter descoberto os espumantes, segmento que mais cresce no mercado nacional de vinhos. A Salton é a líder em espumantes. Qual foi a estratégia da empresa para conquistar as flûtes do brasileiro? |
A estratégia adotada pela vinícola foi o investimento na qualidade de nossos produtos, desde o trabalho de plantio e colheita das uvas, o cuidado na elaboração, a tecnologia avançada e o esmero dos enólogos. Além disso, desenvolvemos campanhas de marketing, mostrando como essa nova vinícola foi capaz de realizar com sucesso todo esse trabalho em conjunto. |
O brasileiro ainda não é um grande consumidor de vinho, com menos de 2 litros per capita ao ano. A seu ver o que falta? |
O espumante brasileiro já é reconhecido como um dos melhores do mundo. Já os vinhos, mesmo tendo melhorado consideravelmente nos últimos anos, ainda enfrenta uma forte resistência do consumidor, que valoriza os produtos importados, dos quais, a grande maioria, possui qualidade duvidosa e preço baixo.
Muitas pessoas ligadas ao mundo do vinho (sommeliers, enófilos e jornalistas especializados) em suas colunas não deixam de citar menções favoráveis sobre os produtos nacionais. Isso é altamente positivo, porque estas pessoas observam que o produto nacional em termos de qualidade está igual ou melhor a um importado, sejam estes vinhos brancos, tintos ou espumantes. Um dos fatores mais importantes para que o consumidor venha a preferir o produto nacional é maior divulgação da qualidade de nossos produtos através da mídia. |
O preço hoje é o maior obstáculo entre o brasileiro e os vinhos de qualidade? |
O preço hoje, em termos de mercado brasileiro, é muito dinâmico, possuindo diversas faixas de valor sendo disputadas por produtos nacionais e importados. Procuramos trabalhar com uma relação custo x benefício muito interessante, mas o que dificulta os custos finais de nossos produtos é a carga tributária injusta em relação aos importados. Podemos dizer que, mesmo assim, temos excelentes opções de bons vinhos na faixa de R$ 15 e R$ 25 e que atendem aos mais variados gostos. |
A imagem do vinho como produto de luxo e a linguagem exageradamente rebuscada de muitos jornalistas, enólogos e sommeliers afugenta o consumidor? |
De fato, a grande maioria dos consumidores não tem a vivência do linguajar do vinho que os jornalistas, enólogos e sommeliers possuem, o que acaba se tornando problemático para eles.
A Salton possui, inclusive, um curso de degustação, cujo tema é "Descomplicando o mundo dos vinhos". O objetivo deste curso é aproximar o vinho do consumidor comum, lhe apresentando informações uteis, como formas de armazenamento, temperatura e modo ideal de serviço, para que o produto não se torne um problema ou cause algum tipo de desconforto no momento de seu consumo. |
Em fevereiro deste ano eu apresentei vinhos brasileiros à imprensa internacional em Portugal. A repercussão foi muito boa. O Ibravin e a Wines From Brasil estão fazendo um belo trabalho e aos poucos começamos a exportar. Temos condições de oferecer volume/preço/qualidade para brigar por uma fatia do mercado internacional? |
Falando de Salton e mercado internacional, podemos dizer que nosso interesse, neste momento, é apenas promover a marca da vinícola, por isso não pensamos tanto em volume/ quantidade. Nossa preocupação maior é atender com qualidade os clientes que temos e os que estamos conquistando. |
Estamos às vésperas da entrada em vigor de um Selo Fiscal. Qual a posição da Salton em relação ao novo imposto? |
Nós somos favoráveis a esta medida, pois acreditamos que a mesma inibirá a entrada de vinhos por vias duvidosas. Além disso, entendemos que será mais um investimento que as vinícolas terão que fazer, mas que terá um retorno positivo. |
Nestas 100 safras da Salton, qual o vinho que mais lhe marcou? |
Posso falar dos últimos 40 anos, pois vinhos anteriores a este período não tive a oportunidade de degustar. Para mim, o vinho que marcou uma mudança de posição da Salton no mercado nacional foi o Salton Talento safra 2002, primeira safra do produto, elaborado pelo Diretor Técnico Lucindo Copat e sua equipe de enólogos, e que deu início a uma nova década para a vinícola. |
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