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Caros, acabo de chegar de uma longa e profícua viagem a Portugal, por 7 regiões em 10 dias, onde degustei mais de 700 vinhos. Este périplo é parte de um trabalho para a ViniPortugal de seleção dos 50 maiores vinhos de Portugal para o Brasil. Estou realizando esta tarefa (que já me levou a provar cerca de 1.500 vinhos portugueses este ano) em conjunto com o crítico inglês Charles Metcalfe. O resultado será apresentado no Brasil em novembro, aguardem!

Por enquanto posso adiantar que uma das boas surpresas (foram muitas) que constatei nestas degustações foi a notável evolução dos brancos de Portugal, o que me fez resgatar um texto que publiquei há alguns anos na Gazeta Mercantil. Leiam abaixo:

Por vezes, já ouvi a frase: "Não entendo muito de vinho, mas uma coisa eu já aprendi: vinho bom é vinho tinto", o que é um lamentável equívoco. O pouco prestígio que os vinhos brancos ainda gozam no Brasil é um fenômeno incompreensível para a maioria dos produtores estrangeiros que nos visitam. Afinal, o país é majoritariamente tropical e os peixes, frutos do mar, frutas e saladas têm papel importante em nossa culinária. Hoje a oferta de brancos importados já é grande, com qualidade, preço atraente e diversidade. O consumidor já reconhece isso e aos poucos os caldos amarelos entram na moda, embora ainda exista muito preconceito. Esta "brancofobia" só pode ser entendida com uma analise do histórico da evolução do nosso mercado.

Nos anos 70, a mania foi o rosado português Matheus Rosé, frisante e semi-doce. Nos anos 80, dominaram os alemães e pseudo-alemães da garrafa azul, cuja intensidade do consumo foi inversamente proporcional à qualidade. Como consequência, associou-se qualquer vinho branco àqueles caldos açucarados intragáveis.

Hoje estão em voga os tintos super-encorpados, super-alcoólicos, super-madeirados e, muitas vezes, também super-caros. Todavia, os verdadeiros amantes do nobre fermentado não se dividem em bebedores de vinhos tintos ou brancos. São apenas apreciadores de produtos de categoria. E esta não se exprime na cor do vinho e sim na qualidade intrínseca ao líquido, dentro de seu estilo.

A primazia dos tintos chegou ao extremo de motivar alguns dos vitivinicultores brasileiros a arrancar vinhas de castas brancas para plantar tintas em seu lugar. Os rubros também contribuem com cerca de 80% do volume dos vinhos de mesa importados para o Brasil.

Outros fatores que explicam a preferência pelos tintos são: a pouca oferta de brancos nacionais de bom nível e a associação dos tintos à saúde.

Enumerei abaixo 10 motivos e dicas para você descobrir e melhor apreciar os vinhos brancos em geral:

1. Clima: o clima da maior parte do Brasil na maior parte do ano pede vinhos mais refrescantes, mais leves ao palato e à digestão e servidos a temperaturas mais baixas.

2. Saúde: Que nossa bebida favorita faz bem, sobretudo os tintos, sabemos. Mas isto não deveria ser um argumento para o abandono dos brancos. Não esqueçamos que o "paradoxo francês" (baixo índice de problemas causados pelo colesterol em um país de alto consumo de gorduras saturadas) vem da nação que produz os maiores brancos do mundo. Quem quiser uma justificativa para se conceder o prazer dos vinhos brancos, já tem: recentemente, cientistas do departamento de anatomia humana da Universidade de Milão, comprovaram que substâncias contidas nestes reduzem a tendência a doenças como artrite reumatoide e osteoporose.

3. Menor rejeição do organismo: complementando o item anterior, os vinhos tintos são pura saúde para a maioria das pessoas, mas alguns infelizmente são sensíveis aos polifenóis e histaminas contidas em maior concentração nos tintos, sofrendo de alergias e enxaquecas. Para estas pessoas os brancos são a solução.

4. Gastronomia: na hora de harmonizar vinhos e pratos, os brancos são bem mais versáteis e combinam com uma gama muito maior de pratos. O tanino dos tintos pode ser um fator complicador pois pode "brigar" ou se sobrepor a uma série de ingredientes e receitas, o que não acontece com os brancos. Além de saladas, frutos do mar e doces, os brancos são o ideal com: aspargos, chucrute, cozinha chinesa, cozinha japonesa, cozinha tailandesa, curries, escargots, foie gras (escalope e terrine), rãs e, conforme a receita, podem ser a melhor escolha para o risoto, pato, vitela e presunto cru, por exemplo.

5. "Queijos e Vinhos" e o Fondue: na hora do seu "queijos e vinhos" os brancos também são mais versáteis, pois combinam com uma gama muito maior de queijos. Para as receitas de fondue de queijo em geral, os vinhos brancos estruturados e com boa acidez são os mais indicados, como um Riesling.

6. Serviço correto: apreciar um bom branco exige um serviço correto. Taças ovaladas são importantes para valorizar os aromas do vinho e a temperatura certa é fundamental para que o vinho mostre seu frescor. Quem prova brancos quentes tem todos os motivos para não gostar deles. Sirva: cerca de 6ºC a 8ºC para brancos doces (Sauternes, Moscato, Tokaj); de 8ºC a 10ºC para brancos suaves e alguns brancos secos (Gewürztraminer, Vinho Verde, Muscadet, Vouvray, Sancerre, Orvieto, Chenin Blanc); de 10ºC a 12ºC para brancos mais secos (Borgonhas, Chablis, Bordeauxs brancos, Jerez fino, Riesling, Soave, Verdicchio, Chardonnay e Sauvignon Blanc em geral); 12ºC a 14ºC para grandes brancos secos com mais idade.

7. Bom gosto e bom senso: o "bom gosto" a que nos referimos é ter o bom senso de servir o vinho adequado a cada ocasião, a cada prato e a cada ambiente. Sabemos que ir de sobretudo à praia, por exemplo, ou dormir de smoking, ou ir de biquíni à opera no Teatro Municipal é um pouco fora do bom senso. Assim é com o vinho. Cada tipo de vinho tem seu momento, a sua hora. Para quem pede tinto sempre, independente do prato ou da ocasião, experimente um bom branco na hora certa e faça o teste.

8. Estilos: Existe uma ampla gama de vinhos brancos para vários paladares e várias ocasiões. Podem ser doces, meio-doces ou secos; florais, frutados, minerais, barricados (fermentados em madeira e portanto com aromas de baunilha, tostados etc); leves ou encorpados. Como exemplos de brancos leves podemos citar: Vinhos Verdes, Sauvignon Blanc, Pinot Grigio, Torrontés e Chablis AOC. Alguns mais encorpados são: vinhos barricados (fermentados em madeira) em geral, Rieslings, Chardonnay, Alvarinhos (alguns são barricados), brancos do Rhône (Chateauneuf-du-Pape, Condrieu), Chablis Grand Cru.

9. Brancos de guarda: É verdade que como regra geral brancos não envelhecem bem, mas existem muitas exceções. Bordeaux de maior estirpe, Borgonhas e Chablis 1er Cru e Grand Cru, os melhores Rieslings de vários países, Sémillons australianos do Hunter Valley, diversos brancos portugueses, como os da casta Encruzado, são brancos que podem viver mais de uma década sem problemas e lhe dar grandes alegrias na hora de apreciá-los. Os vinhos doces em geral são bastante longevos e vivem décadas.

10. A cara do Brasil: O vinho branco combina não só com nosso clima mas também com o temperamento expansivo da população, o que sugere uma maior afinidade com a fragrância dos brancos do que com os tintos mais sérios e cerebrais. É um dos caminhos para o aumento de consumo desta bebida no Brasil.

11. Diversidade: sei que prometemos apenas 10 motivos e dicas, mas é sempre bom dar mais do que o esperado e este 11º item é um "bonus track". Um dos maiores encantos do vinho é sua diversidade. Normalmente quem gosta de vinho gosta de experimentar, está sempre em busca de novos sabores. Para quem só degusta tintos, continue a gostar dele, mas dê uma chance aos brancos, pois abdicar deles é abrir mão de uma grande parte da produção mundial desta bebida e de muitas descobertas e bons momentos.
 
Comentários
João Elvecio Faé
Administrador
Vitória
ES
30/08/2010 Muito bom seu comentário, realmente um vinho branco na temperatura ideal, vai muito bem com nossa culinária, principalmente a MOQUECA CAPIXABA.

Já tem uns dez anos que aprendi também a gostar dos vinhos brancos, e participo de duas confrarias, que já é regra começar pelos brancos para depois ir para os tintos. E um bom Sauvignon Blanc, na beira de uma piscina, é perfeito.

Vou aguardar com muita expectativa o resultado dos 50 melhores vinhos brancos.

Parabéns, um abraço.
JEFaé.
Marcelo Copello
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
31/08/2010 Obrigado João! E acrescentaria que os brancos não são só para a beira da piscina ou para abrir uma degustação. Existem brancos de grande complexidade e longevidade, que não devem nada em nenhum quesito aos tintos.

Grande abraço,
Marcelo.
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
31/08/2010 Marcelo,

Uma das medidas de incentivo ao consumo de vinhos brancos é torná-los atraentes também pelo preço final ao consumidor. Os produtores sempre mantiveram a distinção de preços entre tintos e brancos, de mesmas categorias, para os distribuidores. Os brancos tem preços com valores menores, motivado pelo processo de vinificação e maturação.

Os distribuidores brasileiros precificam os vinhos brancos na equivalência de preços aos tintos, contando com a falta de informação e mecanismos de defesa do consumidor, aumentando ainda mais suas margens de lucro.

Os críticos de vinho, jornalistas especializados e formadores de opinião devem manter um alerta sistêmico ao mercado, denunciando esta prática desleal, na tentativa de reversão de mais este descalabro.

Pelas altas temperaturas que estão ocorrendo neste período no hemisfério norte, poderemos prenunciar que nosso próximo verão será escaldante e o consumo de brancos irá explodir.

Sugiro este 2° bonus track,- o vinho branco, em mesma categoria, e mais barato que o vinho tinto.

Boas degustações,
Rafael
José Bataglia
Aposentado (não riam)
Rio de Janeiro
RJ
31/08/2010 Cara, simplesmente e literalmente, amo esse site! Sempre aprendo mais sobre a arte da degustação de um bom vinho.

Obrigado, Marcelo Copello, pela bela e esclarecedora matéria; você nos brindou com ela.

Forte e fraterno abraço.
Bataglia
Rodrigo Britto
Enófilo
Sampa
SP
31/08/2010 Muito oportuno seu artigo. Antigamente, se dizia que se começava com brancos doces, passava aos brancos secos e se chegava aos tintos (parece que o Temporal dizia que se chegava ao final aos merlots...).

Mas, hoje, com a presença maciça de tintos no cone sul, de onde vêm muitos dos vinhos que temos no mercado, o marketing dirige o gosto dos entrantes. Claro, provocado pela parkerização do gosto mundial. E o gosto mundial está voltado mais para chocolate blocks (fáceis de gostar) do que a acidez maravilhosa dos brancos,que exige dedicação e tempo.

Um abraço,
Rodrigo Britto.
Irineo Dall'Agnol
Enólogo e Vitivinicultor
Estrelas do Brasil
Bento Gonçalves
RS
31/08/2010 Excelente matéria Marcelo, parabéns.

Tenho a convicção de que os vinhos brancos tranquilos serão a bola da vez no futuro bem próximo no Brasil.

Quando se diz que o vinho tinto leva vantagem sobre o branco, falando em benefícios para a saúde, não é verdade. O vinho tinto tem sim maior quantidade de polifenóis, mas a quantidade diária que necessitamos é muito pequena e o resto não é aproveitado pelo nosso organismo. Mesmo o vinho branco tendo aproximadamente 10 vezes menos polifenóis que o vinho tinto, a ingestão de duas a três taças diariamente são o suficiente para usufruirmos dos benefícios sobre a nossa saúde.

Abraço, enológico!
Irineo.
Sergio Mello
Advogado
Rio de Janeiro
RJ
31/08/2010 Parabéns pela oportunidade da matéria, principalmente agora que o frio já está indo embora e se avizinha o verão, um dos 10 belos motivos listados por você na bela matéria.

Parabéns igualmente pelo arrojado projeto sobre Portugal. Fico me perguntando qual o segredo utilizado para conseguir degustar tantos vinhos.

Por último, gostaria de dicas de brancos em Portugal, pois estou embarcando para lá no mês que vem.

Saudações
Humberto Heidrich
Comerciante-Importador
Canela
RS
31/08/2010 Ola Marcelo, parabéns pela reportagem, uma belezura. Temos que divulgar mais os vinhos brancos que são, como dizes, uma ótima opção para pessoas que não podem beber vinho tinto.

Outro tema: gostaria de te convidar para uma apresentação da Bodega Bressia, dia 27/09, no Gran Hyatt, às 16 hs. em Sampa. Desculpe em enviar o convite por esta pagina, mas estou tentando pelo teu e-mail e está voltando. O do Oscar também está voltando. Gostaria de convidá-lo também. Passe esta mensagem a ele por gentileza.

Fraterno abraço
Humberto
Roberto Franco
Aposentado (também sem risos)
Rio de Janeiro
RJ
31/08/2010 Ótimas considerações! Já que o nosso clima pede, além dos nossos espetaculares espumantes, quais dos nossos brancos que se sobressaem no custo benefício?

Grato, Roberto.
Valdiney Ferreira
L'Orangerie
Rio de Janeiro
RJ
31/08/2010 Olá Marcelo,

Muito oportuno este seu belo artigo que pode contribuir para reduzir a estranha "brancofobia" que nos assola. Felizmente nossos excelentes espumantes bruts brancos vem ajudando a elevar este consumo.

"Last but not least" vale acrescentar que mesmo na terra do Romanée-Conti, a Borgonha, entre seus 120 milhões de litros de vinhos produzidos por ano, cerca de 61% são brancos, considerados por muitos tops mundiais. Subiu cerca de 10% nos últimos 5 anos, possivelmente acompanhando um aumento de demanda.

Fica aqui uma sugestão para os mais ousados: um branco seco estruturado (fermentado em barricas) com um brasileiríssimo leitãozinho assado. Vai nessa Oscar, se é que você já não experimentou.

Abcs
Gunnar Horvath
Representante de vinícola austríaca
Santana de Parnaiba
SP
31/08/2010 Marcelo, boa tarde...

Parabêns pela matéria, muito bem colocado, os brasileiros parece que ficaram "traumatizados" com o grande marketing e massificação dos vinhos alemães garrafas azuis "Liebfraumilch", que se esqueceram deste nectar.

Represento um vinícola austríaca no Brasil que além dos Brancos, Riesling e Doces, produz tintos maravilhosos. Se permite aqui uma dica, acessem o site: www.mylenemacedo.com.br e entrem no link "enoteca"!!! Para quem não conhece ou quer mais informações sobre os vinhos austríacos, boa leitura. Realmente Jóias da Coroa...

Abçs,
Gunnar
www.leo-hillinger.com
Marcelo Carneiro
Advogado, escritor e enófilo
Resende
RJ
01/09/2010 Em Penedo e Visconde de Mauá, por exemplo, terras onde a Truta é um dos principais atrativos, simplesmente não há mercado para vinhos brancos. Incrível, não?

Por mais que se fale em harmonização, os restaurantes tem que se pautar pelo gosto médio dos clientes e, com isso, a venda de brancos e rosés é pífia!
Marcelo Copello
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
03/09/2010 Rafael, boa idéia, incluo esta bonus track em uma futura versão do texto!

Bataglia, aposentado tem mais tempo para apreciar os vinhos (tintos e brancos), nós temos que ter inveja!

Rodrigo, aquele livro do Temporal é excelente e marcou época. Hoje felizmente o mundo do vinho se alargou e temos mais e melhores caldos!

Irineo, mais um motivo pra degustarmos brancos, saúde!

Sérgio, a lista de bons brancos portugueses é longa, tente o VZ, o Guru, o Aneto, o Quinta dos Carvalhais Encruzado, o Four C branco, o Redoma Reserva branco, o Quinta de Foz de Arouce branco... tantos...

Humberto, obrigado pelo convite, mas dia 29 dou uma aula de degustação no Rio, onde moro. Sempre que tiver problemas tente meu outro email [email protected].

Roberto, Valduga e a Salton fazem dois bons Chardonnay, por exemplo, mas nossos brancos ainda são muito tímidos.

Valdiney, boa idéia! É só pensar que na Alemanha e na Alsacia se come muuito porco e o vinho é branco!

Gunnar, adoro os brancos austríacos! Se puder me mandar mais informações por email, [email protected]

Marcelo, frequento Mauá há anos (Maringá) e vejo este crime lá com frequencia...

Pessoal, estou em uma terra de tintos e ainda mais brancos, a Grécia, com bons frutos do Mar.

Até breve!
Marcelo.
Érico Guanais Mineiro Neto
Médico pediatra e sommelier
Feira de Santana
BA
03/09/2010 Participo de um grupo de gastronomia onde enfatizo sempre o uso de vinho branco, pela melhor facilidade de harmonização, por morarmos no Nordeste, onde o clima e propício para tal.

Tenho preferência por espumantes nacionais (excelentes), por brancos do novo mundo, Borgonha, Portugal e Alemanha.
Marcelo Carneiro
Advogado, escritor e enófilo
Resende
RJ
03/09/2010 Quando estiver por vir, me avise. Sempre tem um restaurante novo pra conhecer. Hoje, creio que me relaciono bem com todos os donos dos bons restaurantes da região.

Aliás, com o asfaltamento da estrada de Mauá em andamento, o "perrengue" da viagem diminuiu (rssss).
Denise Cavalcante
Promotora de eventos
São Paulo
SP
24/09/2010 Marcelo,

Vou ler o texto com calma, mas não resisti em deixar o comentário de que este mês percebi como o vinho branco me deixa melhor do que o tinto. Agora você vai me dar fundamentos para entender porque não tenho mais ressaca no dia seguinte!!
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]