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Quando comecei a dar cursos básicos de vinho, há mais de dez anos, um dos assuntos que mais interessava aos alunos era a aula intitulada Como não pagar mico no restaurante. A frase é de efeito, pois a sensação dos neófitos diante de uma extensa carta de vinhos e de um sommelier uniformizado, ostentando um tastevin (*) e pins de associações etc, frequentemente é de pânico.

O medo de gafes, especialmente se for em um primeiro encontro romântico, é enorme. Relaxe, pois tudo pode ser simples, basta seguir uma lógica, norteada pelo bom senso e educação. Em uma sequência onde a simplicidade deve prevalecer sobre qualquer tradição ou rigidez, normalmente:

1- Ao chegar no restaurante o sommelier, maitre ou garçon normalmente irá lhe oferecer a carta de vinhos, ou você pode pedi-la: "A carta de vinhos por favor".

2- Leia a carta com calma e fique à vontade em pedir mais informações. Se tiver dúvida confira o que for necessário com o sommelier (safras, regiões, produtores etc). Se achar necessário, peça para ver a garrafa, sem compromisso.

3- Fique à vontade para pedir a orientação ao sommelier, ele está lá para isso e é quem melhor conhece a carta e o menu. O bom sommelier saberá identificar seu gosto, sua disposição financeira, fazer o melhor casamento com o menu e conciliar o gosto de todos à mesa.

4- Ao trazer a garrafa solicitada o sommelier deve mostrá-la antes de abri-la. Confira seu pedido, veja se o vinho e safra estão corretos e autorize a abertura. Um simples "pode abrir".

5- O sommelier irá abrir a garrafa em um local onde você possa ver, uma mesa ao lado talvez. Ele irá então provar um "micro-gole" do vinho para verificar se não está estragado.

6- Depois o sommelier irá servir uma pequena dose para você. Verifique se o vinho está de acordo com o que você queria. Depois de sua aprovação (veja abaixo "a recusa da garrafa"), com um "pode servir", o sommelier irá servir todos os outros à mesa (primeiro mulheres e depois homens). Caso haja um homenageado ou uma autoridade etc, esta pessoa será servida primeiro. Por último, a sua taça será completada.

7- O sommelier deve servir o suficiente, nunca mais que a metade da taça, para que haja espaço na taça a fim de que os aromas do vinho se mostrem.

8- O sommelier bem treinado saberá dividir a garrafa de modo a que todos recebam a mesma dose, e não abrirá outra garrafa sem sua autorização. Neste caso a outra garrafa (mesmo que seja do mesmo vinho) seguira todo o ritual novamente, e você irá prová-la antes de que os demais sejam servidos.

9- Ao mudar de prato é normal mudar de vinho, afinal você pode estar curioso para provar outros vinhos da carta. Mude de vinho quantas vezes achar necessário, o sommelier irá orientá-lo a cada escolha. Exija também que a taça seja trocada sempre que houver troca de vinho.

10- Se ao acabar a refeição sobrar vinho na garrafa leve o restante para casa. Alguns levam a garrafa, mesmo vazia, para enriquecer sua coleção de rótulos, por exemplo.

E se o vinho estiver ruim, posso devolver?
Você só deve recusar o vinho que você escolheu se este estiver defeituoso. Se o vinho está perfeitamente bom mas não era bem o que você queria, paciência. Contudo se foi o sommelier que escolheu o vinho, esta troca é mais fácil. Se você for trocar o vinho, não por outra garrafa do mesmo, mas por um vinho diferente, a etiqueta manda que você não peça um vinho muito mais barato, pois pode parecer que você se arrependeu do preço e não do vinho.

A maioria dos restaurantes irá aceitar a recusa da garrafa sem discussão. Caso o sommelier discorde de você em relação à sanidade do vinho, este deve indicar ao cliente para que não troque por uma outra garrafa do mesmo vinho, pois neste caso o problema não era do vinho mas de incompatibilidade deste com o gosto do cliente. A tolerância na questão da troca varia muito de restaurante para restaurante, nem todos seguem o lema "o cliente tem sempre razão". Vale sempre a conversa, o entendimento e o bom senso.

Para que serve a rolha?
Talvez o sommelier ao abrir a garrafa lhe entregue a rolha da mesma, ou a coloque a seu alcance em um pires, por exemplo, para que possa examiná-la. Não é necessário examinar a rolha nem fazer nenhum tipo de comentário. No entanto, caso você queira, examine e cheire a rolha, se ela estiver verde e bolorenta possivelmente (mas nem sempre) o vinho estará estragado. Se a rolha está sem cor em um vinho escuro, indica que a garrafa estava de pé. Se a rolha é longa, indica um vinho de guarda, por exemplo. A meu ver é desnecessário examinar a rolha, já que uma vez aberto o vinho, podemos examinar diretamente o vinho. Muitos enófilos, no entanto, colecionam rolhas. Se for este seu caso não se acanhe e leve a rolha, ela é sua.

(*) Tastevin (ou tambuladeira, como chamam em Portugal) é aquela pequena taça prateada, mais parecida com um pires, que os sommeliers mais tradicionais usam penduradas no pescoço e que servem para provar o vinho a ser servido.
 
Comentários
João Montarroyos
Mestre equitador
Rio de Janeiro
RJ
04/10/2010 Grande Marcelo,

Essa foi uma magnífica aula e me deixou mais corajoso, enfrento qualquer cavalo bravo, mas vinho em restaurante, confesso que tinha algum medo de pagar um miquinho, agora, enfrento qualquer um, em qualquer casa de pasto do Brasil!!! Pretendo fazer um curso com vc., tão logo acabe meu cafofo em Secretário.

Um abraço.

PS: Já tem o CD do Marcio editado epós o falecimento dele?
Luiz Augusto de Azevedo Marques
Advogado
Rio de Janeiro
RJ
04/10/2010 Prezado amigo Marcelo,

Excelente a sua coluna. Acredito que tenha resolvido o problema de muitas pessoas.

Obrigado e grande abraço.
Luiz Augusto
Paulo Szarvas
Rio de Janeiro
RJ
04/10/2010 Se as informações fazem parte do programa "bolsa-vinho", onde dicas variadas são dadas, apenas discordo do título, eis que preconceituoso. No mais, alerto apenas que o básico foi indicado nesta dica, algo que se supõe seja de sabença comum. Melhor seria ter usado o espaço para as filigranas que acompanham a vivência do vinho.

Saudações,
Paulo Szarvas
Sergio Mendes
Sommelier
Rio de Janeiro
RJ
04/10/2010 Olá Marcelo,tudo bem?

Grande matéria,parabéns!!! Aproveitando que você está falando sobre "etiquetas" no Restaurante, você poderia fazer uma matéria sobre a "temida" TAXA DE ROLHA?

Grande abraço.
Sergio Mendes
Terzetto Café
Eliane Cabral
Socióloga e enófila
Natal
RN
04/10/2010 Marcelo, parabenizá-lo pode ser uma redundância! rsss...

A sua habilidade de democratizar e incentivar o interesse e o hábito de beber vinho, eu considero uma atitude de muito bom gosto e humildade. Ao mesmo tempo em que você divulga esse "refinado" hábito, você quebra a resistência de muitos em iniciar o conhecimento e dominar a prática desse maravilhoso hábito: BEBER VINHO...

Continue assim, o caminho é esse...

Um abraço, Eliane
André Paranhos
Feijoadólogo
Rio de Janeiro
RJ
04/10/2010 Show, Marcelo!

Um pouco, ou de preferência, muita humildade, não faz mal a ninguém!
Mauro Raja Gabaglia
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
04/10/2010 Em relação a rolha, concordo com o Marcelo. Cheirar a rolha não nos ensina nada, o sommelier a cheira para ter o que fazer.

Esse hábito de trazer a rolha para exame surgiu nos restaurantes franceses no final do séc XIX, onde o excesso de umidade da adega criava mofo nos rótulos, muitas vezes dificultando a leitura. A rolha com o nome da propriedade e safra, identificava o vinho, protegendo também contra falsificações, que eram comuna naquela época.
Teresa Cristina Joia
Enófila
Rio de Janeiro
RJ
04/10/2010 Excelente! Simples e direto!

Bjks
Henrique Quirino
Engenheiro
Rio de Janeiro
RJ
04/10/2010 Que bom escutar, ou melhor, ler opiniões simples, objetivas, diretas. São tão eficientes quanto um bom vinho é prazeroso.
Marcelo Copello
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
05/10/2010 João,obrigado! Não sabia do CD, vou procurar nas lojas!

Luiz, obrigado, assim o vinho deixa de ser um problema e vira só prazer!

Paulo, Saudações! Obrigado por me alertar! Concordo que o título é preconceituoso. Se eu fosse um mico me sentiria ofendido! Coloquei este título para chamar a atenção e para atrair o neófito, público alvo deste texto. A sabença não é comum, ela é adquirida, já que ninguém nasce sabendo. Para as filigranas já escrevo muitas matérias. Às vezes é bom oferecer algo a quem ainda não está começando, para que o vinho seja a bebida de muitos e não de poucos!

OI Sérgio! Obrigado! Boa sugestão sobre a taxa de rolha, assunto que merece um amplo debate.

Eliane, obrigado! O vinho pode continuar sendo refinado e alcançar mais taças, tornar-se a bebida saudável de mais brasileiros!

Obrigado André! Quem gosta de vinho na essência (e não nas superficialidades) acaba tornando-se humildade, pois vemos que somos pequenos ante o vasto universo báquico!

Oi Mauro! Legal a história da origem do cheira-rolha!

Obrigado Tereza ;)

Henrique, o vinho não tem que ser nada mais do que quer que ele seja - se você busca prazer e simplicidade, eis que pode encontrar tudo isso no vinho.

Abraços a todos e até semana que vem!
Marcelo Copello.
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]