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 O crescimento do consumo de vinho no mundo não se deve apenas a fatores econômicos ou motivações de ordem médica. Há também motivos filosóficos, culturais, sociais e psicológicos. Podemos dizer que o nobre fermentado é a bebida do nosso tempo, a que melhor se adapta à vida do homem moderno.
Mas como uma bebida tão antiga, com mais de 7 mil anos de história, tornou-se contemporânea? Este é o tema da exposição "How Wine Became Modern: Design + Wine - 1976 to Now". O evento acontece até 7 de abril, no San Francisco Museum of Modern Art (SFMOMA).
Esta exibição de arte explora o processo de transformação da cultura visual do vinho (principalmente na arquitetura e no design) nas últimas três décadas. Segundo seu curador, Henry Urbach, esta é a primeira mostra de arte a de fato considerar a cultura do vinho como um conjunto de fenômenos culturais ricos, modernos e globalizados.
A exposição agrega artefatos como maquetes arquitetônicas, fotografias, pinturas, esculturas, apresentações de multimídia e ambientes para imersões multi-sensorias (que incluem aromas). Serão exibidos ainda filmes relacionados ao tema e ambientes temáticos oferecerão um passeio por assuntos de interesse dos enófilos como: terroir, o mundo do vinho, a moderna produção, rótulos, garrafas e taças, aromas e palavras, enoarquitetura, enoturismo, degustação e o "Julgamento de Paris".
Ponto de partida desta exibição, o "Julgamento de Paris" foi uma degustação às cegas que aconteceu em 1976 e deu a vitória a então desconhecidos vinhos californianos, sobrepujando os medalhões franceses. Essa prova, comemorativa dos 200 anos da independência norte-americana, tornou-se o grande marco do século XX na história do vinho do novo mundo. Desse momento em diante, o eixo da produção e do consumo do nobre fermentado começou a se deslocar da Europa para outros continentes e países, como Oceania (Austrália), África (do sul) e as Américas do Norte (Califórnia) e do Sul (Chile e Argentina). Basta dizer que até 1980 os países do dito novo mundo detinham uma fatia de apenas 1,6% do comércio mundial de vinho. Em 2005 a fatia havia engrossado para quase 25% das exportações mundiais. Esta mudança também teve reflexos na cultura do vinho, que começou a valorizar menos a tradição e mais a inovação, diversificação e globalização.
A ligação do SFMOMA com o vinho é natural, por sua localização geográfica (São Francisco fica a poucos quilômetros dos vinhedos californianos), e antiga. Em 1985, esse museu organizou o que teria sido o primeiro concurso de arquitetura e design para criação de uma vinícola, a Clos Pegase, no Napa Valley. Os vencedores criaram linhas arquitetônicas pós-modernas para a vinícola.
Hoje, a arquitetura de vanguarda e o vinho andam de mãos dadas. Passear por modernas regiões vinícolas como Napa Valley ou Mendoza é também um passeio por modernos estilos arquitetônicos. Aos interessados no tema, recomendo o belo livro "Wineries/Bodegas Architecture And Design", de Hans Hartje e Jeanlou Perrier, que já rendeu um segundo volume e pode ser comprado facilmente na internet.
O gosto do vinho é um reflexo de seu terroir e da mão do homem que o fez. Este gosto evoluiu ao longo da história, da mesma forma que a cultura do vinho evoluiu, se modernizou e está cada vez mais conectada com outras formas de cultura, como mostro sempre nesta coluna.
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