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 Faz, este mês, 168 anos que D. Pedro II foi coroado Imperador do Brasil. E embora a sagração tenha sido marcada para 18 de julho de 1841, as festas duraram semanas.
D. Pedro tinha 14 anos: reinou durante 49. Foi o século mais extraordinário do Brasil: fomos colônia, reino, império e república! Na média, D. Pedro foi um grande estadista mas teve, infelizmente, um triste fim. Diabético, vagamente cansado de todo aquele fausto, (dizia-se que à boca pequena se declarava republicano!), foi envolvido involuntáriamente no episódio que entrou para a história como o Último Baile da Ilha Fiscal. Agora a injustiça: sendo quase um anti-gourmet - já que não se interessava por nada relacionado a vinho ou comida e herdou do avô obeso o gosto duvidoso por frangos e galinhas, estas em forma de canja - teve o seu fim ligado à mais estupenda esbórnia etílico-culinária da nossa História: o banquete oferecido ao comandante Bannen e aos oficiais do encouraçado chileno Almirante Cochrane, na noite de 9 de novembro de 1889, pelo Primeiro-Ministro brasileiro, o Visconde de Ouro Preto.
A lógica de marketing era esnobar os republicanos andinos com a pompa da monarquia brasileira, a começar pelo local: um perfeito ponto de mídia preparado para se transformar, naquela noite, na Versailles Tropical. Nos jardins, 10.000 lanternas venezianas clareando todo o ambiente e o entorno, o magnífico espelho d'água da Baía da Guanabara. No interior, o palácio iluminado com setecentas lâmpadas elétricas para impressionar os cerca de 4.500 convidados. E para bem serví-los, 90 cozinheiros e 150 garçons, que prepararam 500 perus, 64 faisões, 800 quilos de camarão, 800 latas de trufas, 1.200 latas de aspargos, 1.300 frangos e 12.000 sorvetes. Tudo descrito, comme il faut, num menu impresso em pergaminho. Vejam a descrição: crême à la Richelieu et purée à la Reine; merlan (badejo) à la façon du chef; chartreuse de caille (codorniz) et pigeons sauvages (pombos), e por aí vai. De sobremesas, 2.900 doces variados, (além de) crême au chocolat et aux violettes, charlotes, marrons glacées et bonbons fondants. Depois, 1.800 frutas brasileiras e queijos da Província de Minas.
Vejam só os vinhos: Madeira, Sherry, Marsala, Sauternes (Château d'Yquem), Chablis, Moscato, Margaux, Lafitte, Château Léoville, Lacrima Christi e Porto - safra 1834. E os champagnes Cristal, Veuve Clicquot, Heidsièck, Chambertin e Pommard. Além de licores e conhaques, como descrevem José Murilo de Carvalho, Guilherme Figueiredo e Carlos Cabral. A preço de hoje, foram gastos algo como 250.000 dólares em bebidas! (Clique aqui para ver a invejável carta de vinhos)
Para alegrar o ambiente, seis orquestras executavam valsas e minuetos e muitas senhoras "pregaram" gaiolinhas de pirilampos em seus coques, para alumiar a Valsa do Imperador. Enquanto no Largo do Paço, fronteiro à ilha, uma banda da polícia tocava lundus e fandangos para a pequena multidão que, barrada no baile, assistia no sereno.
D. Pedro II compareceu com toda a família, mas retirou-se cedo. Diabético (repito) e doente, deve ter considerado mais uma maçada do cargo. Mas provavelmente não suspeitava que perto do cais, no Clube Militar, um punhado de conspiradores acertava os detalhes do assalto ao poder.
Só que essa festa retumbante, como a descreveu, criticando, o jornal "O Paiz", foi de inteira responsabilidade do voluntarioso Visconde de Ouro Preto, mineiro, ex-ministro da Marinha e, na época, presidente do Conselho de Ministros, que a concebeu como um exemplo da grandeur do Império.
Oito dias depois, a 17 de novembro - um domingo - uma lancha do Arsenal da Marinha levou a Família Imperial para o vapor Paraíba, ainda de madrugada. Ao meio-dia, o Paraíba zarpou para a Ilha Grande, onde estava o Alagoas. O transbordo foi feito à noite e na manhã do dia 18 de novembro D. Pedro fez-se ao mar oceano da costa brasileira a caminho da França - para nunca mais voltar. |
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