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É, sim senhor! E isto porque o Presidente da República sancionou este ano a Lei nº11.476 que equipara, em todo o território nacional, a profissão de enólogo às categorias possuidoras de diplomas de nível superior expedidos no Brasil ou por escolas estrangeiras validadas pelo MEC. Ou seja, enólogo não é mais um substantivo arrancado da costela do agrônomo, nem um químico que entende de vinho. É, legalmente, um(a) doutor(a) em vinho.

Um profissional que jurou saber tudo o que está acontecendo com a mãe da uva, que é a terra, e com as circunstâncias do parto: o tipo e as características do solo, os seus vizinhos: solo (rios, mares, encostas, montanhas) e o clima. E jurou, também, combater como um cruzado os inimigos históricos do vinho – pragas, secas, geadas, nevascas, epidemias, aquecimento global – além dos vetores exógenos: crises no fornecimento, preço dos produtos agregados (rótulos, garrafas, distribuição, etc...), sem falar na pata fiscal do governo e nos botes da concorrência... Ou seja, o bom enólogo é um guerreiro da luz empenhado em transformar a uva em néctar e, este, num produto apreciado pelo consumidor. Além de rentável para toda a cadeia produtiva.

A propósito, converso com Arley Pereira, 19 anos, que está terminando o curso de enologia no Centro Federal de Educação Tecnológica de Bento Gonçalves (CEFET). Arley é filho do veterano Valmir, o respeitado sommelier que vai-se mudar do D'Amici para o Fiducia. Vejamos o que diz Arley:

– Qual a diferença entre um enólogo e um vitivinicultor?

– O enólogo trabalha 80% no laboratório e 20% na cantina da vinícola. O viticultor atua 80% no parreiral. Mas os dois se encontram na saída (do vinho para o tonel). E, se por um lado há a regra imutável de que não se faz bom vinho sem boa uva, por outro sabe-se que é na fase de vinificação que o enólogo faz a diferença. Como? Corrigindo os percentuais de açúcar, controlando a contagem das leveduras, vigiando a incidência de bactérias, intervindo no PH do mosto e acompanhando, enfim, a evolução do vinho que vai nascer.

A partir daí, o destino do "produto final" depende da inteligência logística da vinícola. Ou o dono decide engarrafar apenas parte, ou toda a safra produzida no ano. E decide também, junto com o enólogo, se vai utilizar a marca-referência (tipo Barca Velha, em Portugal ou Vega Sicilia, na Espanha, para ficar nos casos mais emblemáticos) ou, ao contrário, declara que a safra não permitiu o grau de excelência dos seus "cardeais" e, por isso, vai colocar no mercado os "vice-líderes" - no caso do Barca Velha, o Ferrerinha Reserva.


Pergunto agora a Tatiana Sellmert, também pré-enóloga e namorada do Arley:

– Vocês não são muito moços para entender de vinho?

– Há um rejuvenescimento no ambiente do vinho. A idade média de um enólogo recém-formado - hoje - é de 22 anos. E há cada vez mais mulheres interessadas em enologia. Elas são mais sensíveis às questões aromáticas e à identificação visual das melhores cepas.

Arley completa:

– Grande parte dos cerca de 200 enólogos que deverão se formar este ano vai trabalhar nas vinícolas em que já estagiam. Outros serão colunistas de vinho, operadores de enoturismo, distribuidores, sommeliers ou futuros donos de restaurantes.

Termino com uma pergunta ao meu amigo e veterano "vinhateiro" Antonio Dal Pizzol, dono, com os seus irmãos, da vinícola do mesmo nome:

- Há muitos casos de alcoolismo entre os trabalhadores do vinho?

– Em 33 anos, a vinícola Dal Pizzol não registrou um único caso, responde ele, orgulhoso por trás do seu bigode de Barão do Rio Branco.

Saúde e paz, remato eu. Até porque o resto... a gente corre atrás!
 
Comentários
Ana Maria Gazzola
Bióloga e enófila
Rio de Janeiro
RJ
15/09/2009 Reinaldo, suas crônicas são deliciosas de ler, mesmo para quem já é conhecedor do assunto.

Um abraço.
Reinaldo Paes Barreto
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
15/09/2009 Ana Maria Gazzola, obrigado pelo seu comentário. Já ganhei a tarde!

Abraços,
Reinaldo
Alexandra Bezerra
Bióloga
Rio de Janeiro
RJ
15/09/2009 Fico muito contente que agora temos um curso academico em Enologia! Realmente, o estudo das uvas e vinhos é um mundo a parte e complexo.

Mas nao posso deixar uma aparte. Doutor é quem defende tese academica, e é aprovado, em um curso de doutorado. Vide: https://secure.jurid.com.br/new/jengine.exe/cpag?ID=19104&p=jornaldetalhejornal:" resolução destaca que o uso do título de doutor, em relação ao diplomado por qualquer curso de nível superior, constitui uma praxe “secularmente fundamentada nos costumes e na tradição brasileira”, mas ressalta que não existem preceitos legais que disciplinem a concessão do título de doutor. E que em razão da tradição e da universalização dos cursos de nível superior no País,” todo profissional adota a prática e o direito de usar o título de doutor, banalizando e vulgarizando esta identificação”. Não vamos perpetuar o erro...

Obrigada pela atenção e um abraço!
Allan Mendes
Consultor de vinhos
Niterói
RJ
16/09/2009 Reinaldo, você realmente é um mestre das palavras.

Grande abraço
Allan Mendes
Daniel Fachinelli Dall'Onder
Enólogo
Carlos Barbosa
RS
16/09/2009 O Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia formou sua primeira turma de Enólogos em 1998 e, desde então, já formou mais de 150 enólogos.

Até 2008, havia somente 1 turma de 25 alunos por ano. Hoje, são 2 turmas por ano. Na época em que estudei (2003-2006) além de aprender e conhecer mais sobre o mundo do vinho, seus segredos e sua complexa ciência, ganhei muitos amigos, o que prova que o vinho une pessoas... Inclusive encontrei a moça da minha vida, no curso.

Hoje, a antiga Escola Agrotécnica Federal, que posteriormente virou CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica), tornou-se IFRS (Instituto Federal de Tecnologia). Existem vários cursos no IFRS Campus Bento, inclusive a Pós Graduação: Especialização em Viticultura, da qual sou aluno.

Mas o ponto que quero chegar é que a escola, que já tem 50 anos, não pode deixar de lado o seu "Sangue Vitivinicultor", sua essência... Deve investir massivamente no que a tornou o que é hoje. Alguém daqui sabia que a escola têm uma vinícola dentro dela? E é um baita prédio, muito funcional, com grande capacidade de produção. Construído para aproveitar o desnível do terreno. Além de tudo tem uma beleza sem igual...

Mas protestos a parte, fica aqui os meus cumprimentos ao Reinaldo pela referência a nós enólogos brasileiros, que tanto nos empenhamos no aperfeiçoamento de nossas bebidas favoritas.

Abraço.
Arley F. Pereira
Enólogo
Bento Gonçalves
RS
16/09/2009 O Reinaldo é um craque mesmo.

E a forma como ele põe no papel é um dom, tanto como a sensiblidade de muitos enólogos na elaboração de vinhos.

O Brasil está se preparando, e os primeiros passos estão sendo dados. Enólogo doutor do vinho? Muito mais que isso às vezes, hehe...

Parabéns Oscar, vc está com um grande time no site agora, que não é só de entretenimento, contudo informação, cultura e um ponto de encontro de grandes amigos.

Saudações
Arley Pereira
Altanir Jaime Gava
Engº. Agrônomo/MS em Alimentos
Niterói
RJ
17/09/2009 Quero parabenizar o Reinaldo pela capacidade de sintetizar de maneira bem clara, popular e entendível, matérias mais complexas como a área de vitivinicultura.

Considero importante a formação do Tecnólogo em Viticultura e Enologia, mais especilizado com as técnicas da cultura da videira e da cantina e, sem dúvida nenhuma é um aperfeiçoamento da formação profissional concentrada numa área específica do conhecimento. Agora, por continuar a ser uma atividade multiprofissional como o Tecnólogo ou Engenheiro de Alimentos sempre terá a atuação de profissionais paralelos como Engo. Agrônomo, Biólogo, Engenheiro Industrial, de Alimentos, Químico e oitras funções similares.

Sds. enófilas,
Altanir
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo e aposentado
Mealhada
Portugal
23/09/2009 Bom dia

Primeiro os meus parabéns pelos seus comentários descomprometidos e sabedores.

Vi o seu artigo de Enólogo ser Dr. Na verdade, há já muitos anos que na Europa Enólogo é curso superior e portanto é DR. Àparte a França em que o DR. é só para Medicina mas com semântica complementar para os outros cursos superiores nomeadamente o de Maìtre para os advogados.

Mas passando ao vinho. Permita-me lembrá-lo que o vinho começa na poda e logo aí começam as opções com os Sarmentos e os Sarmentinhos. Depois é o aparecimento do pintor na vinha dá novo toque na vinha e lá vem o viticultor e o enólogo desparrar, arejar a vinha se o tempo assim mandar.

Depois, com o aproximar das vindimas, começa o controle do açucar e a previsão do dia da vindima. Altura em que se verifica que tempo vamos ter no dia da vindima e se toma a decisão final.

Há dois anos, um famosíssimo produtor da Mealhada telefonou para a Adega alarmado pois o seu Baga estava a ferver a 8º e perguntou como estava o nosso. Na videira foi a resposta. Os cachos já devem estar secos das chuvadas de 5ª feira e vamos apanhá-lo hoje ou amanhã.

E só depois disto tudo é que se pode pegar no seu artigo do controle dos açucares, leveduras, etc etc... mas sem esquecer o controle de temperatura dos cachos quando colhidos para que o choque térmico não seja perturbador e controlará a fermentação e como fazê-la com ou sem desengace. As variáveis são muitas e todas importantes.

Quanto ao Barca Velha e à Reserva penso que não é uma dicotomia como o sr. falou, mas sim um "trilema" como eu digo pois nessas dificeis decisões os enólogos da Ferreirinha ainda têm de encaixar o Duas Quintas. Nota de bom bebedor secundado por quem fez a escolha do Barca Velha e da Reserva>

O Duas Quintas de 2004 até parece Barca Velha e è a nossa chance de comprar umas caixas.

Continuem que estão a fazer um bom trabalho pelo vinho, muitos furos acima do que se faz em Portugal, que é uma feira de vaidades e também de muita falta de conhecimentos (aqui estamos empatados pois há ignorantes pretensiosos ou toda a parte).

Bons vinhos
Fernando Sequeira de Matos
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo e aposentado
Mealhada
Portugal
23/09/2009 Comentário à utilização do titulo de Dr. pela Biologa Dr. em Biologia A. Bezerra do Rio

Termina a cara Drª. com um .... não vamos perpetuar o erro.

Sou de uma cidade universitária com academia desde o sec. XII. Em tão antiga Academia não era fácil cursar e desta mundialmente conceituada Universidade comparada, dada a provecta idade, à Bolonha, Oxford, Cambridge e Bordeus, saíram conceituados DR (DÊERRES) não só em Medicina (com um Prémio Nobel em Medicina) como noutras ciências.

Nas matemáticas, sai um Português que resolve o calculo da altura do Sol e permite aos Portugueses andarem sem se perderem nos mares até então desconhecidos.

E permite também, quando da partilha do mundo entre Portugal e Castela, que na parte Portuguesa do Tratado de Tordesilhas ficasse o Brasil.

O erro é permitir a existência de Universidades de vão de escada sem qualidade. E é este erro que leva os impreparados alunos a pensar que se antes do nome colocarem um DR ficam de repente sábios e competentes.

Fernando Sequeira de Matos
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]