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Prosecco ou espumante: afinal qual é a diferença?

Vejamos, primeiro, as semelhanças: genericamente, todos eles são o resultado do "aprisionamento" do vinho ainda em fase de fermentação, com muito gás carbônico, portanto, dentro da garrafa. Daí a denominação universal de espumantes, em suas diversas traduções: sparkling, em inglês, cava, em espanhol, sekt, em alemão e mousseux em francês. Outros pontos em comum: todos são vinhos hospedados por garrafas espessas, por causa da efervescência (a pressão dentro delas atinge níveis de 5 a 6 atmosferas, iguais a um pneu de caminhão) e vedados por rolhas grossas, por sua vez protegidas por gaiolas de arame ou de ferro. E podem ser tomados como um drinque - a qualquer hora "normal" - ou para acompanhar o mesmo tipo de pratos: sushis, ostras, caviar, salmão, peixes, crustáceos e tartares, canapés frios e congêneres.

Mas, agora, as diferenças. A mais significativa é que todo Prosecco é espumante, mas nem todo espumante é Prosecco. E por quê? Porque o Prosecco legítimo é produzido a partir de uma uva só, do mesmo nome, originária do Vêneto. É um espumante consumido há muito tempo na Itália e, lá, entrou na lista dos modismos de verão quando começou a ser servido nos barzinhos que circundam a Praça de São Marcos, em Veneza. Às vêzes é misturado com suco de morango, prosecco con fragola, preferido por mulheres (e gays).

É um vinho banal, com honrosas exceções, como alguns da região de Valdobbiadene. Pergunta: então porque cargas d´água ele aterrisou no Brasil e se instalou como parente sinônimo de espumante - e em casos de demência, sinônimo de champagne? Jogada de marketing, senhores. E estupenda. Por volta de 1998/99, algum gênio sacou que estava se aproximando o "révéillon do milênio" e, obviamente, o preço do champagne iria voar para os cornos da lua. (observação: champagne é masculino e dizer champagne francês é pleonasmo.)

Voltemos ao gênio que tomou, então, a seguinte providência: abarrotou o mercado (brasileiro) de um produto inédito, fácil de memorizar, com preço "palatável", distribuição horizontal e... com "cara de champagne". Acertou no milhar. Milhares de garrafas foram vendidas, não só naquele fim de ano, mas até hoje. E não apenas dos fabricados na Itália, pois já se produz Prosecco na serra gaúcha, ora só com a própria uva, ora com o "corte" de outra espécie, como a Moscato, para fazer um frisante mais doce.

Passemos agora para os espumantes. O espumante é um vinho fabricado da mesma forma que se fabrica um vinho branco tranqüilo, ao qual se acrescenta uma mistura chamada "liqueur de tirage", formada de açúcar de cana e de leveduras diluídas. A adição desse componente é que vai produzir uma segunda fermentação no vinho base, que pode ocorrer dentro da garrafa (método champenoise) ou dentro de cubas de aço inoxidável (método charmat). Essa segunda fermentação será a responsável pelo acréscimo do gás carbônico, característica de um vinho espumante. No Brasil, a quase totalidade dos espumantes é fabricada pelo método charmat, porque o champenoise é muito caro.

Mas é aqui que se estabelece a diferença essencial entre o Prosecco que, como dissemos, é feito de um único tipo de uva e os bons espumantes, que podem ser feitos com o "blend" de até duas uvas tintas e uma branca. Por isso, é um produto (os melhores) elaborado como se elabora um champagne - só que sem a certidão de nascimento lavrada em Épernay ou Reims (se pronuncia rãms), na região demarcada da França.

No Brasil, temos muito bons espumantes, como o Chandon (o Excellence é excelente!), o Salton, o Dal Pizzol, o Marson, o Dom Laurindo, o Lovara e o Miolo, além do novo rosé Adolfo Lona, produzido pela Aurora a partir de uma assemblage de uvas Chardonnay e Pinot Noir. Aliás, se algum presidente da República quisesse entrar para a história do vinho no Brasil (como lá atrás o Getúlio ensaiou), era só dar força ao espumante. A gente iria bater rapidinho os nossos "hermanos" do continente.

Os espumantes devem ser servidos à temperatura de 6º a 10º C, dependendo de dois momentos: o seu, caro leitor - e o dele. Saúde!
 
Comentários
Carlos Gomide Ribeiro
Enófilo
São Paulo
SP
12/10/2009 Achei muito oportuno este artigo. Um fato que me deixa indignado é quando estamos em um evento onde é servido um excelente Champagne e os garçons, ou quem está servindo, dizem: "O senhor aceita um prosecco".

Minha opinião é que a grande maioria dos espumantes é muito superior ao prosecco.

Gostaria de ressaltar que os espumantes brasileiros estão cada vez melhores e entre eles destaco o casa Valduga Extra Brut, que às cegas não perderá para muitos Champagnes.
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo
Mealhada
Bairrada
Portugal
12/10/2009 Caro Paes Barreto

Parabens pelo seu artigo. Simples, explica o que é um espumante e como se faz. Eu acrescentar-lhe-ia a diferença entre os Brancos e o Espumante:

Na Vindima
O Espumante deve ser vindimado "no cedo" pois precisamos de mais acidez e para um branco as uvas devem estar bem maduras com os açucares lá em cima.

Na Produção
No espumante controlamos a fermentação através de um abaixamento de temperatura. Após o engarrafamento e com a fermentação parada, as garrafas são fechadas com uma rolha de plastico oca e colocadas de gargalo para baixo com uma inclinação que irá permitir que naturalmente as impurezas se encaminhem para o gargalo. Estas vão sendo rodadas para que as impurezas não fiquem agarradas ás paredes da garrafa. Esta operação que pode durar vários meses (6 normalmente) termina quando a garrafa estiver na vertical e de gargalo para baixo. Antes da colocação da rolha final o gargalo é congelado de modo a que quando a capsula for retirada saiam também as impurezas. A quantidade de espumante perdido nesta operação é reposto na operação de engarrafamento. Após o estágio é só bebê-lo bem fresco.

Presentemente os melhores espumantes produzidos em Portugal são elaborados de uvas Tintas: a baga e a aragonêz. Das brancas: a Moscatel, a Chardonnay, a Pinot, a Bical e a Maria Gomes são das mais utilizadas na Bairrada.

Vou tentar fazer um vide-espumante pois penso que será bom para os nossos amigos confrades do Vinho.

Até lá bons espumantes!

Fernando
Reinaldo Paes Barreto
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
12/10/2009 Agradeço aos enófilos Carlos Gomide Ribeiro, de São Paulo e Fernando Sequeira de Matos, da Mealhada, em Portugal, os oportunos comentários sobre o post desta semana.

No caso do comentário do Fernando, reproduzo-o no meu blog (diário) de hoje, 13/10, (jblog.com.br/reinaldo.php) pelo teor complementar e elucidativo ao texto-base.

A ambos o meu abraço afetuoso.
Reinaldo
Rodolfo
Enófilo
Curitiba
PR
12/10/2009 Gostei muito desse artigo pois esclarece bem sobre o prosecco e espumante.
Scheila Bulhões
Consultora/sommelier
Salvador
BA
13/10/2009 Prezado Reinaldo,

Parabéns pelo artigo. Essa é uma dúvida que constantemente esclareço aos clientes e amantes do vinho. Você conseguiu esclarecê-la de forma bem simples, apresentando as similaridades. Vou começar a utilizar sua explicação.

Obrigada!
Bruna Hodara
Vendedora de vinhos
Porto Alegre
RS
13/10/2009 Muito bom, só que no penúltimo parágrafo, entre os "nossos bons espumantes" é impossível não destacar o espumante Cave Geisse Terroir Nature, que merece muuuitas estrelinhas.

Sem querer puxar o saco do Mário Geisse, mas ele é realmente bom no que faz.
Valdir Siqueira
Publicitário
13/10/2009 Reinaldo, como sempre seus artigos são informativos e simples de entender. Parabéns!

Valdir
Alexandrina Ferreira
Jornalista
Rio de Janeiro
RJ
14/10/2009 Excelente artigo, com linguagem simples e muito conteúdo.

Só gostaria de saber a sua opinião sobre o espumante Cave Geisse porque, para mim, é um dos melhores.
Denário Nascimento
Viñeria
Salvador
BA
14/10/2009 Muito bom o esclarecimento do sr. Reinaldo Barreto com relação a espulmantes e proseccos.

Agora, se é para falar de espulmantes brasileiros, não podemos deixar de falar no Dom Cândido Brut!!

Abraço.
Antonio Carlos Moreira Martins
Vinhos Don Miguel / Trading
Rio de Janeiro
RJ
19/10/2009 Caro Reinaldo,

À respeito do "boom" do prosecco, ele teve origem antes da virada do século e foi através da novela "Por Amor"(1997/98), na qual o personagem vivido por Antonio Fagundes diz que para se consolar da separação de sua Helena (Regina Duarte), fará uma viagem no "Orient Express" e tomará um prosecco! À época o importador Aldo Sittoni junto ao "Zona Sul" comercializava os da Cantina di Produtori di Valdobbiadene, versão "prata" e "ouro", o que serviu de padrão para os outros que vieram à seguir.

No mais parabéns pela coluna!
Patrícia Sá
Cabo Frio
RJ
21/10/2009 Corretíssimo sobre tudo. Especialmente sobre o nosso presidente ter o poder de fazer algo para a valorização de nossos espumantes!!!!!!!!!!

Obrigada,

Um abraço,
Patricia Sá
Ricardo Biban
Distribuidor de vinhos
Rio de Janeiro
RJ
18/11/2009 É sempre um prazer ler as colunas do Reinaldo Paes Barreto aqui e/ou no jornal.

Sobre o Prosecco, tem um de melhor qualidade que não chega (até aonde eu sei) aqui no Brasil. É de uma pequena região de Valdobbiadene e que se chama Prosecco Superiore di Cartizze. Em uma ocasião, meu pai vindo da Italia, me presenteou com um Prosecco que não era frisante e nem espumante. Um bom vinho "tranquilo" como chamam por lá (região de Conegliano-TV e arredores). Muito usado no dia a dia e, segundo meu pai, quando se pede um prosecco em uma "osteria" local é com um prosecco tranquilo que se "inicia os trabalhos".

O vinho que ele trouxe de lá era da vinícola Riva dei Fratti - www.rivadeifrati.it/vini-eng.html. Acho que não tem importador no Brasil. Agora segundo li no bom jornal Bon Vivant (sendo este já comentado em matéria neste portal), a partir de agosto passado, a uva prosecco passou a se chamar Glera e chamarão (ou já estão chamando) de Prosecco, uma região que será a atual e mais uma grande área que adentrará a vizinha região do Friuli - http://www.jornalbonvivant.com.br/

E adoro os espumante nacionais. A cada ano melhores!

Prefiro os da região de Pinto Bandeira: Valmarino, Don Giovanni e Cave Geisse

Salute!
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