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O consumidor norte-americano típico bebe vinho ideologicamente. Ou seja: a sua escolha é preferencialmente por vinhos americanos, para manter empregos na América.

E como é o vinho americano? Primeira observação: embora hoje em dia se cultive a vinha em quase todos os estados americanos, 90% da produção vem da Califórnia, essa extensa plantação de parreiras no extremo oeste dos EUA, cuja topografia compreende vales, desertos e montanhas, o que propicia uma enorme variedade de microclimas - e o que, por sua vez, habilita as vinícolas a produzirem os mais diferentes tipos de vinho.

Mas os campeões são o branco Chardonnay e os tintos Cabernet Sauvignon e Zinfandel, produzidos principalmente em Napa Valley, Alexander Valley, Sonoma Valley, Monterey e nos altiplanos de Santa Cruz, desde que ali se instalaram os pioneiros, por volta de 1800. Mas os grandes vineyards também elaboram hoje em dia boas safras de Syrah, Barbera, Grenache, Merlot e das frutadas Sylvaner e Gewurztraminer. E, nas proximidades da baía de São Francisco, faz-se inclusive um razoável "vinho do Porto".

Segunda observação: os preços são altos, se comparados às prateleiras e cartas de vinhos do mundo, porque a mão-de-obra americana é cara e tudo lá é caro: os rótulos, as embalagens, o transporte e a própria colocação nos mercados regionais. Nunca é demais lembrar que as distâncias e os fusos horários internos são uma loucura, sobretudo no sentido leste/oeste. Além do câmbio, para o comum dos mortais não-europeus.

Mas, como na maioria das atitudes que esse povo toma quando se trata de comportamento coletivo (keep America rolling - ou, mantenha a América em marcha - é o slogan nacional) criado depois do 11 de setembro e referendado pela crise de 2008, o americano médio consome vinho americano até por patriotismo, repito. Para mostrar que não precisa do resto do mundo. Para manter o pleno emprego no campo. Para esnobar os franceses e seus vizinhos vinícolas europeus. Para poder pronunciar errado, à vontade, os "aux", os "ots" (Bordeaux e Pinot) sem fazer biquinho. E porque esse consumidor-patriota não está nem aí para dez dólares a mais ou a menos...

E mais: beber ou não vinho, em certas regiões, não está ligado apenas à decisão de ingerir ou não álcool. Tem a ver também com postura religiosa. Um professor chileno, agudo observador dos hábitos do país, me disse durante uma inquietante viagem de trem iniciada debaixo de neve, em Charlotte, com destino a Chapel Hill, na Carolina do Norte (onde o meu filho mais velho, Rodrigo, fez o seu MBA) que neste sudeste dos Estados Unidos, na área do chamado Bible ring (anel bíblico), o vinho é considerado "adesão" ao catolicismo, que o tem como ícone sagrado. Em matéria de fermentados, eles - de maioria protestante - preferem cerveja, o que só faz aumentar o impressionante número de pequenas cervejarias, às vezes praticamente domésticas.

Terceira observação: também como tudo deles, o vinho americano é meio diferente dos seus irmãos europeus, porque a maioria é varietal, isto é, feito com a predominância de um tipo de uva, e porque numa tendência quase inversa à moda light, quase todos apresentam graduação alcoólica que vai de 13,5% a 15%.

Finalmente (e o que importa), provei alguns bons tintos novos, custando entre quinze e vinte dólares na loja (supermercado e "wine house") que recomendo. São eles: o JUSTIN 99, Cabernet Sauvignon produzido em Paso Robles; o COLLAGE 2008, Merlot feito pela Kendall-Jackson; o Shiraz BERINGER 2008, cultivado em Napa Valley desde 1876, e o excelente BOGLE 2009 (tinto e branco), de Clarsburg.

De brancos, o espumante Domaine Carneros 2000, um blanc de blancs admirável; um Gewurz que parece beijo na boca, o Navarro Anderson também 2006 e o fantástico Opus One do Mondavi - caro como um quadro do Miró. E para não dizer que eu não explorei o território, provei dois néctares do "vizinho de cima", o Oregon. Um Chardonnay 2006 chamado Domaine Drouhin e um Pinot Noir 2008 chamado Panter Creek.

That's it!
 
Comentários
Duda Zagari
Confraria Carioca
Rio de Janeiro
RJ
16/11/2009 Grande Reinaldo, como vai?

Uma pena esse patriotismo não pegar por essas bandas! Quem sabe assim nosso vinho tivesse maior aceitação.

Abraços
Duda
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