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Em vez de pesticidas, nux vomica

Na semana passada o enólogo-chefe da vinícola Nativa, braço orgânico do grupo Carmen, chileno, participou de um almoço no Porcão Ipanema, a convite - bem como nós, bem-aventurados - da Mistral (leia-se Yoná Adler). Apresentou os seus produtos, dos quais o que mais me agradou foi o Reserva Carmenère 2008, produzido, como os demais, no vale do Curicó - na louca geografia do Chile, como dizia o Neruda. Parêntesis: essa preferência não é a mesma do meu guru-editor, Oscar Daudt - fazer o quê? A democracia, como a adolescência, é um problemão.

Bom, mas a partir desse papo (natural/orgãnico/biodinâmico) me pareceu interessante dividir com vocês essas considerações.

Vinhos Naturais
"São produzidos sem nenhuma adição de sulfito", diz o consultor francês Jacques Trefois, um dos maiores especialistas no assunto. O sulfito, aliás, é uma espécie de satanás dos vinhos, porque segundo um crítico, essa substância, utilizada para ajudar a conservá-los, é a culpada pelas dores de cabeça que aparecem na manhã seguinte a uma noite de degustação de taças de vinhos comuns. "Vinhos naturais não dão dor de cabeça. A ressaca é culpa do sulfito", diz o cantor Ed Motta, assumidamente radical na defesa dos vinhos naturais. "Hoje em dia só bebo vinhos orgânicos da Borgonha." Charme é charme: eu tomo um bom vinho orgânico do Chile, de Portugal, de onde vier...

Vinhos Orgânicos
São produzidos com uvas cultivadas de forma totalmente natural, sem inseticidas, pesticidas nem agrotóxicos. Mas permitem a adição de substâncias químicas (inclusive o sulfito em doses reduzidíssimas) para conservação ou correção de sabor.

Vinhos Biodinâmicos
São uma espécie de orgânicos esotéricos, segundo Marcelo Omega, do Portal da Exame. Além de não utilizar química no plantio das uvas, os produtores respeitam o calendário lunar e fazem preparados com ervas, água da chuva e até chá de pelos de rabo de cavalo e raspas de chifres de boi para borrifar nas parreiras. Só falta a bênção do Chico Xavier!


Exemplo emblemático: o Romanée-Conti

A recente conversão total do Domaine de La Romanée-Conti (DRC), uma mítica propriedade de cerca de 25 hectares situada na Borgonha, aos preceitos da biodinâmica, uma vertente mais radical e mística do cultivo orgânico, talvez seja um marco no processo de afirmação de vinhos mais ecológicos. Aubert de Villaine, gerente e co-proprietário do DRC, rendeu-se à nova forma de cultivo, inspirada nas idéias formuladas para a agricultura em geral na década de 1920 pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925).

História: para os seguidores das teorias de Steiner, que desafiam o pensar mais científico, o vinhedo é um organismo vivo que deve ser mantido de uma maneira auto-sustentável. No fundo, esses viticultores não abraçam só um sistema de produção agrícola, mas todo um modo de vida, um jeito de pensar, no qual grande parte dos esforços se volta para a prevenção - e não para a cura (com compostos sintéticos) - das doenças que afetam as parreiras. A formulação de preparados exóticos - como esterco bovino fermentado num chifre de vaca que é enterrado no solo em pleno inverno ou ainda sílica misturada com água da chuva dentro de um chifre de vaca, que é soterrado na primavera e desenterrado no outono - é um dos diferenciais dos biodinâmicos em relação à produção convencional e aos orgânicos em geral. O conteúdo desses preparados é diluído e energizado ou ativado por um processo denominado dinamização, que lembra procedimentos da homeopatia, e depois é aplicado no solo ou nos vinhedos na forma de composto ou spray, de acordo com os ciclos da lua e de outros objetos cósmicos. Em geral, o solo dos vinhedos biodinâmicos (e orgânicos) parece possuir uma maior biodiversidade de organismos vivos do que o dos parreirais convencionais.

Outro seguidor de Steiner é o francês Nicolas Joly, um dos gurus da Biodinâmica. Para cuidar das vinhas, Joly - um aristocático francês que largou uma promissora carreira nas finanças de Londres, com MBA na Columbia University de Nova Iorque, para se dedicar ao vinhedo da família - utiliza do que há na natureza. Na seca, por exemplo, ele aplica algas marinhas e, nas floradas, usa arnica, que segundo ele resulta em melhores brotos. Joly é uma espécie de Samuel Hahnemann do vinho (o médico alemão, pai da homeopatia). Joly afirma que uma vinha plantada na época certa - o que implica fase de lua em quadraturas astronômicas e direção dos ventos - nunca fica doente. Ou seja, dia desses vamos ter uma clínica de check-up para parreiras...

No Brasil, o professor uruguaio Juan Carrau é o único que produz comercialmente vinhos certificados como orgânicos, em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai. Não é muito fácil achar os produtos de Carrau no mercado, mas no site da empresa da família (www.velhomuseu.com.br) há a relação de onde seus vinhos orgânicos podem ser comprados em todo o Brasil.

Saúde!
 
Comentários
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo
Mealhada
Bairrada
Portugal
17/11/2009 Carissimo Paes Barreto

Isto dos vinhos organicos e biodinamicos é como a pescadinha de rabo na boca nunca mais acaba e acaba sempre do mesmo modo.

Actualmente todo o mundo , que sabe de vinhos , faz vinhos orgãnicos e depois tem de meter um conservante o tal sulfito. Era bom que nem o sulfito se colocasse mas então tinhamos de ir à adega e do espiche encher a canada do dia.

Quanto às coisas naturais ancestralmente associadas ao cultivo da vinha e fabrico do vinho o que sei,o que ouvi vi e vivi é o que abaixo indico:

Relativamente aos chifres enterrados nada sei e são completas novidades.

Relativamente à orientação solar da vinha há um seculo atras já meu avô tinha esse cuidado e os problemas só surgiam quando o pinhal do vizinho tapava o sol à vinha.

Relativamente á vindima fazia-se pela prova do bago para ver os açucares , sem laboratório.

Quanto ao controle de temperatura para que o vinho ao ferver não transbordasse para fora do lagar fazia-se com as bilhas do azeite cheias de agua da gelada da mina arcaico mas eficaz.

Ainda me recordo de ás duas da manhã o meu avô gritar "Ò Zé não ouves o vinho a ferver ". E lá ia o pobre do pastor encher com agua gelada da mina as bilhas do azeite para enterrar no mosto fervente para baixar a temperatura do lagar.

O engarrafamento também tinha os seus segredos pois as garrafas eram lavadas com aguardente , mel e aí tinha de se escolher a lua.

Não havia sulfitos e o vinho não se estragava mas saia da adega para a mesa sem transportes.

Continuo a achar que essas histórias de enterrar chifres são procedimentos um pouco esotéricos e mais marchandising que cultura de vinho.

Parabens pelo seu artigo.

Fernando
Cláudia Bulcão

Rio de Janeiro
RJ
22/11/2009 Sou admiradora da antroposofia (Rudolf Steiner). No Brasil existe a Associação Biodinâmica e o Instituto Elo que divulgam a técnica da agricultura biodinâmica.

Há pouco, houve na França um evento com mais de 40 participantes, só de vinhos bio e o champagne Fleury. Quem sabe um produtor dessas bandas não se prontifica???
Floriano Abinader
Tilintar Vinhos
Rio de Janeiro
RJ
26/11/2009 Prezado Reinaldo,

A vinícola Bianchetti, do novo terroir do Vale do São Francisco, está produzindo bons vinhos orgânicos das uvas Ruby Cabernet, Cabernet Sauvignon, Tempranillo e Barbera. Os vinhos estão sendo distribuidos no RJ pela nossa distribuidora, a Tilintar.(2543-1271). Já podem ser encontrados na Eccellenza Pizzaria, na Rua Visconde de Caravelas, 121 em Botafogo.

Abraços
Floriano (8845-9210)
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]