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O verão nem começou ainda, no hemisfério sul, mas o calor já. E veio quente. Por isso, os vinhos mais adequados para o aperitivo - vinhos sociais -- para escoltar uma refeição leve, ou para o papo inteligente, continuam sendo os vinhos brancos ou os rosés. E por quê?

Porque, ao contrário dos tintos, para produzir um vinho branco separam-se as cascas do suco logo no início da fermentação, o que resulta num produto menos calórico e ideal para ser tomado à temperatura de 8 a 12 graus. É menos calórico, porque as cascas contêm tanino, que são os músculos do vinho tinto - dão-lhe cor, estrutura, firmeza, mas muitas calorias, que é o diferencial do tinto. E ideal para ser refrigerado, porque os taninos quando submetidos a baixas temperaturas amargam o gosto do vinho.

Os rosés ainda têm um pouco de tanino, porque as cascas ficam em contato com o líquido algumas horas, até o início da fermentação (donde a coloração, já que as uvas que o originam são tintas). Mas também são leves e devem ser tomados na mesma temperatura dos brancos.

CURIOSIDADE: pode-se fazer vinho branco de uvas brancas ou tintas; mas o rosé e o tinto só podem ser produzido com o esmagamento das uvas tintas.

Vejamos cada circunstância:

1) Vinho Social (ou vinho como aperitivo): um branco leve e seco, com graduação alcóolica igual ou menor do que 12%, como os trocken alemães, os pouilly franceses, os frascati, trebbiano e verdicchio italianos. São vinhos jovens, isto é, que não envelheceram nos tonéis e nas garrafas e devem ser bebidos à temperatura entre 8º e 12º. O vinho verde é uma história à parte, mas também é uma boa pedida para o consumo despretensioso. O melhor é o Alvarinho. Tem baixo teor alcóolico e exala aromas florais e minerais. Sirva-o, ou sirva-se a 8 graus.

2) Vinho & Comida (leve): Um branco igualmente seco, mas aromático, com três a cinco anos de envelhecimento em garrafa e com graduação alcóolica que pode chegar a 14% GL, como os extraordinários sauvignon blancs e chardonnays californinanos, (mas também os franceses, australianos, neo-zelandeses e sul-americanos); ou os gewürztraminers e sylvaners das margens do Danúbio; ou ainda os muscats e tokays de todas as procedências. Ou o viognier, do Rhône e argentinos. E pode ser um vinho seco e complexo (que apresenta aromas e paladares diversos), como os chablis, os rieslings, os riojas, os sémillion ou ainda o torrontés.

3) Vinho e papo inteligente: o rosé é a atual pedida para o papo antes ou depois da comida. Igualmente leve e seco. E como o rosé "viaja mal", deve-se preferir os rótulos argentinos, chilenos e brasileiros, que devem ser tomados a 10 graus centígrados. Mas se essa conversa for acompanada de petit-fours, ou algum docinho, pode-se optar pelo tipo sauternes, isto é, o vinho botrytizado, que é o produto de uma uva que os viticultores deixam na videira até que ela seja atacada pelo fungo botrytis cinerea, que seca a uva deixando um "caldo" açucarado, do qual uma parte a fermentação transforma em álcool. São vinhos com um sabor excelente e graduação alcoólica em torno de 13%, produzidos por alemães, austríacos, italianos e franceses - registro o soberbo Château d'Yquem! - e, hoje, por quase todos os produtores do Novo Mundo. Inclusive os brasileiros. São vinhos com pelo menos cinco anos de envelhecimento e devem ser servidos a 12 graus centígrados.

Finalmente, alguns conselhos:

  • ao consultar a carta de vinhos de um restaurante mais sofisticado, cuidado com a interpretação do número que aparece ao lado da marca. Pode ser a safra - e não o preço.

  • estabelecimentos que investem no serviço do sommelier (sommelière), merecem que você os consulte, mesmo que seja um expert em harmonização.

  • quando você for visitar alguém que fica horas de conversinha e nada de servir um cordial, sapeque a pergunta: vocês têm visto o Thomas? Se a resposta (que ocorre em 90% dos casos) for: "Que Thomas?", faça meio segundo de suspense e responda em meigo tom: "Champanhe!"

  • Um mico a evitar: tudo bem, quando for provar um vinho, gire lentamente o seu copo para melhor aspirar os aromas. Mas não acelere demais para não parecer que ligou uma centrífuga e, sobretudo, não faça olhares remotos de espírita incorporando o Chico Xavier.

    E que Baco nunca nos falte!
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    Comentários
    João Cadamuro
    Administrador
    Brasília
    DF
    24/11/2009 Muito bom e oportuno o texto do Reinaldo. As dicas são bastante interessantes, seja para um principiante ou para um conhecedor (não aquele com jeito espírita incorporado)!

    Gostei tb das bem humoradas dicas! Vamos aos brancos...

    Abs
    João
    Fernando Sequeira de Matos
    Enófilo
    Mealhada
    Bairrada
    Portugal
    24/11/2009 Caro Reinaldo

    Já estava com saudades de ler os artigos do EnoEventos. Estou atrasado, mas como estou no Brasil, o fuso ainda não acertou. Estou em SP e provavelmente não irei ao Rio por impossibilidade de agenda, pois este fim de semana parto para o sul à procura de uma boa praia: Floripa e Camboriu do calor e de um bom Rosé.

    E é bem verdade o que diz pois na realidade todas as uvas sendo por dentro brancas só dão vinho branco. Mas se na fermentação se retirarem as películas, então o vinho é sempre branco quer as uvas sejam brancas ou tintas. Se durante o processo de fermentação de uvas tintas se retirarem as peliculas, o vinho fica mais ou menos rosé consoante o periodo de tempo em que se manteve o contacto. Vinho Rosé não é mistura de branco com tinto e é sempre mais suave de taninos pois o contacto pelicular não acompanha a fermentação até ao fim.

    Agora vou dar novidades e degustar os bons vinhos do Brasil: Lote 43, Encruzilhada, terroir de bons vinhos cá no Brasil.

    Um abraço
    Fernando
    Gustavo Silveira
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    25/11/2009 Adorei a do Thomas. Rsrsrs
    Cello Carneiro
    Advogado e escritor
    Resende
    RJ
    27/11/2009 Tenho experimentado alguns rosés. Gostei muito do Terras de Penalva (Portugal - FTP Wines) e do Santa Digna (Chile - Reloco).

    Agora, corram do Casillero, pois tem sabor de branco e, para tomar rosé com gosto de branco, melhor tomar um branco!
    Eduardo Neves
    Economista
    Rio de Janeiro
    RJ
    13/12/2009 Excelente e esclarecedor o artigo do Sr. Reinaldo Paes Barreto. Os vinhos brancos e rosés são excelentes para os climas mais quentes e o consumo deles no Brasil, ainda é muito baixo comparativamente a países europeus e de outros continentes.

    Recentemente, tomei o rosé Terras de Penalva, da FTP Wines, e pude comprovar como um rosé de qualidade (apesar do baixo custo) pode transformar em ideal um apetitoso prato de frutos do mar.
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]