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 Além da queda da Bastilha e da Marseillaise - hino musicalmente lindo, mas cuja letra é, hoje, no mínimo, políticamente incorreta ("estão ouvindo, nos campos, rugirem esses ferozes soldados? Vêm eles até os vossos braços, degolar vossos filhos, vossas mulheres...") e, finalmente, o comando: "Às armas, meus cidadãos!") - eu prefiro celebrar nesta data a outra França, a minha França, que vai de Bordeaux à Bourgogne, do brie (le roi des fromages, le fromage des rois!) aos outros 300 queijos, do cognac ao armagnac (e todos os marcs e eaux-de-vies) e, sobretudo, do formidável champagne a todos os tintos, brancos e rosés que esse incrível país produz.
Aliás, nenhum país possui tantos vinhos de excepcional qualidade. A França possui cerca de uma dezena de grandes regiões vinícolas demarcadas, algumas delas subdivididas em até mais de vinte regiões menores. A principal é Bordeaux, que se destaca por possuir o maior número de vinhos excepcionais - os famosos Grand Cru, Premier Cru, Deuxième Cru e Cru Bourgeois - muitos deles atingindo preços estratosféricos. Suas sub-regiões mais importantes são: Médoc, Graves, Pomerol e Saint-Emilion para os tintos, e Sauternes-Barsac, para os brancos.
Bourgogne é a segunda região mais importante e possui sub-regiões, das quais as mais famosas são: Côte de Beaune, Côte de Nuits, Côte Chalonnaise, Mâconnais e Beaujolais.
Depois, vêm as regiões do Champagne, berço dos maravilhosos espumantes; da Alsace, conhecida pelos seus brancos minerais e florais; do Val de Loire, famosa pelos seus rosés e brancos; do Rhône, com as suas sub-regiões Hermitage, Crozes-Hermitage e Châteauneuf-du-Pape, com excelentes tintos; Provence, Languedoc-Roussillon, Corse, Savoie e outras regiões menos badaladas, mas que produzem deliciosos "vins de pays" ou vinhos de mesa de qualidade menor, os "vins de table" - vinhos de todo-dia.
Isso sem falar na gastronomia que estabelece com esse universo vinícola uma relação de cumplicidade. Mas por que esse privilégio? Porque a França se beneficia de um relevo onde predominam as planícies que cobrem cerca de 2/3 do território. Além disso, participa de três cadeias de montanhas, situadas no centro, no sudoeste e no leste do país, e que são: o Maciço Central, os Pireneus e os Alpes. Possui, também, uma extensa rede hidrográfica que compreende quatro rios importantes: o Loire, com 1.012 km de extensão, o Garone, com 575 km (ambos pouco utilizados para a navegação), o Sena, com 776 km de extensão navegável, de Rouen até o Havre - que atravessa Paris - e o Rhône, com 522 km, que vai de Lyon até a região marítima. E por último, o Reno, com apenas 190 km, na fronteira com a Alemanha.
Se somarmos a isso quatro estações bastante definidas, teremos uma agricultura e uma vida animal campestre, variada e rica em matérias-prima, razão da excelência dessa "Douce France" - às vezes tão mal-humorada, tão cerebral e cartesiana - mas que supera todos os "mauvaises caracteres" quando o garçom diz: "asseyez-vous, monsieur-dame" e começa a trazer os primeiros copos (que podem ser de baccarat, limoges, lalique, Saint Louis...) ou do velho e bom vidro, o menu e...on y va!
Aliás, francês que é francês almoça falando no jantar. Bom appétit! |
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