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 Primeiro tempo Leio um livro ótimo - Vinhos de Portugal, do João Paulo Martins, editado no ano passado. As primeiras páginas são tira-dúvidas, daquelas "eternas". Por exemplo: os vinhos atuais têm muita química? Resposta: não, sobretudo se comparados aos outros produtos que consumimos no cotidiano. No entanto, utilizam-se estabilizadores e "corrigedores" do vinho, como o ácido tartárico, que já existe na casca das uvas mas é, às vezes, adicionado ao mosto para - como o nome indica - acrescentar acidez e melhorar o PH e as características sensoriais do produto final.
Outro agente químico, como o anidrido sulforoso - ou dióxido de enxofre (SO2) - é utilizado como desinfetante, anti-séptico e anti-bacteriano, além de inibir o desenvolvimento das leveduras e bactérias, detendo assim a fermentação alcoólica no momento desejado, ao mesmo tempo que assegura a esterilização do vinho. Nos rótulo das garrafas de vinho normalmente vem especificado que o produto tem INS 220 ou Conservante PV, ou seja, o próprio SO2. Muitas pessoas portadoras de enxaqueca relatam o agravamento da crise após tomar vinhos, mas na verdade a crise é causada por esses conservantes.
Agora, rápidas:
Quando se prova uma uva cabernet sauvignon, ou trincadeira, sabe-se que ela vai produzir o vinho correspondente? Não, com exceção da moscatel. Às vezes vamos perceber alguns aromas que serão, mais tarde, a característica do vinho. Mas não dá para diferenciar na boca.
Antigamente o vinho era mais puro? Sim. Mas não necessariamente de melhor qualidade.
O preço alto indica que um vinho é melhor? Se esse preço alto for uma constante através dos anos, sim. Se for uma tabela recente, pode significar apenas uma jogada de marketing.
É mais fácil fazer vinho branco ou tinto? O tinto. O branco requer mais tecnologia.
Quando se abre uma garrafa e a rolha se esfarela, é sinal de que o vinho está prejudicado? Não. Se ela se partir, abra aos poucos e decante o vinho.
Pode-se beber um bom vinho num copo ordinário? Beber, sim. DEGUSTAR, não.
Segundo tempo As uvas grenache, espécie de prima pobre das suas célebres irmãs - cabernet-sauvignon, merlot, shiraz, etc - é uma cepa que veio da Espanha para a França, no século XIII, proveniente da região litorânea da Catalunha, por isso também conhecida pelo seu nome espanhol: garnacha. Ela tanto nasce branca como tinta.
É a segunda casta vinífera mais cultivada no mundo. Então, cabe a pergunta: se assim é, por que pouca gente a conhece? Porque ela é usada em 90% dos casos, como corte e não como varietal. Tanto que está presente nos vinhos ibéricos de Rioja, de Navarra, de Aragão, do Priorat e de Penedès mas, e sobretudo, em Châteauneuf-du-Pape, em que é a cepa de referência, e em todos os grandes vinhos do sul da França: no Languedoc-Roussillon, na Provence e nos vales do Rhône meridional, onde a grenache resulta em vinhos tintos parrudos (alguns com graduação alcoólica de até 15%) mas, também, em vinhos doces naturais como o célebre Banyuls - o amigo do chocolate - e o Maury.
Ou seja, caros enoamigos, prestem atenção a essa uva: ela começa a aparecer no Brasil e não como turista! |
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