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 Fui gentilmente convidado pela vinícola Miolo na última quinta feira para a apresentação do novo Miolo Seleção e da sua linha de reservas.
O Seleção estava completando 15 anos e, como toda adolescente que se preza, no mundo atual, era mais do que necessário cuidar da imagem do mesmo, visto que para quem não sabe o Seleção ainda é o carro chefe da Miolo, sim é de onde a Miolo retira cerca de 50% de seu faturamento anual....
Não tenho os números atuais, mas com certeza, ano após ano tais números vinham caindo; bom sinal para nós, pois outros produtos do portfólio da Miolo estão pouco a pouco abocanhando parte do “share” do Seleção: vinhos novos, elaborados por novos enólogos, utilizando uvas de novos “terroirs”, testando uvas de diferentes castas e adaptando-as a estes novos pastos; que aproveitaram as experiências obtidas com as várias parcerias realizadas com empresas similares, em países tradicionalmente produtores de vinho, etc...
Mas esta redivisão, do “market share” do faturamento da empresas, deve ser feita com cuidado entre os quase 100 rótulos que a empresa oferece, pois corre o risco de se fazer que um vinho concorra com outro da mesma empresa....
No mercado saturado de vinhos hoje em dia, não apenas no Brasil, onde cada vez mais ouve-se falar em vinhos de autor...... e, a Miolo corajosamente nestes últimos anos investiu cerca de US$ 150 milhões de dólares, diversificando, ou seja utilizando a única estratégia de crescimento disponível, para qualquer empresa que queira crescer: ou diversificar para conquistar potenciais novos clientes, ou diversificar na oferta de seus produtos antigos e novos, ou diversificar nos seus negócios...
A Miolo fez e está fazendo tudo isso, até ovelhas no Nordeste o Darcy está testando, abrindo novos negócios, ganhando medalhas, caso o negócio de vinhos, pilotado pelos guris: Fabio, Alexandre e Adriano, não der certo... O mercado de ovinos cresce assustadoramente e o Brasil ainda importa 40% de seu consumo do Uruguai, Argentina e Chile. O Darcy Miolo enxerga longe...
Mas claro que o negócio de vinhos já deu certo! Além dos quase 100 rótulos elaborados, a Miolo exporta regularmente para cerca de 22 países hoje em dia, é um sucesso de exportação.
A Miolo é a Petrobrás do vinho do Brasil. Melhor até que a Vale e a Petrobrás juntas, pois exporta apenas recursos renováveis a cada ano. Pena que ainda não tenha ações nas bolsas.
Agora, falando do novo Seleção, vocês sabem que fui um grande critico deste vinho. Basta pesquisar minhas opiniões emitidas, nos fóruns que participo e, vocês encontrarão minhas críticas, muitas vezes criticas ásperas, mas sempre coerentes com o que percebia no vinho, com o que ouvia dos donos de restaurantes onde tentava incluir o vinho na carta, com o que ouvia e ainda ouço no dia de hoje quando falo do Miolo Seleção....
Pois é, cheguei e fui cordialmente recebido pelo sempre atencioso Alexandre Miolo, o único dos três guris acima que não estudou enologia, sei que ele quase se tornou sacerdote.... e hoje seus estudos não foram em vão! Pelo contrário, ele sabe muito bem, ouvir as nossas criticas,
e sabe principalmente vender as qualidades dos seus vinhos e as promessas de felicidade eterna, para os bem aventurados que são tolerantes e decidem testar o Miolo Seleção mais uma vez.
Eu testei, comecei testando o branco, um caldo de chardonnay com riesling-itálico, elaborado com as uvas mais simples de seus vinhedos de Bento, a cada ano, logo hoje um vinho safrado. Quem testemunhou minhas reações (Carlos Teles, Danusia, Marcelo Morais, etc) lembra que meu comentário imediato foi: "Excelente no nariz, mas, ligeiríssimo na boca, quase água.... um vinho para cheirar e se lambuzar como perfume na cama, antes dos momentos mais íntimos." Experimentem! Claro que muito, muito melhor que as versões anteriores.
Ao contrário, o Miolo Seleção tinto, agora é um petit-chateau Bordalês, coitados dos francesinhos baratos, vão ter que concorrer com vinho de R$ 30,00 ... Agora apenas Cabernet Sauvignon e Merlot são usados, o Pinot Noir foi retirado, como o Alicante Bouchet já o fora no passado. A garrafa até virou bordalesa. Este na boca tem estrutura mas perde um pouco no nariz. Inegavelmente um vinho muito melhor bebível que seu irmão anterior e por apenas R$ 14,00 na vinícola, ou para ser vendido por menos que R$ 30,00 nos restaurantes. Parabéns Miolo, pelo menos metade da receita continuará a ser mantida.
Depois passamos para a linha Reserva, começamos com o Chardonnay Reserva, também todo reinventado do rótulo ao conteúdo, vinho que até pouco tempo atrás reinava absoluto, quando eu queria um Chardonnay barato para colocar nas cartas de vinho. Claro que nestes últimos anos surgiram Chardonnays excelentes e eram e são um pouco mais caros, mas a Miolo conseguiu manter o preço lá em baixo, obrigando os chardonnays recém chegados a pelo menos repensarem seus preços.
Foi o vinho que mais gostei na noite, este sim para comprar de caixa se você quiser ter um único branquinho chardonnay em casa para o dia a dia. Não precisa nem de imposto do selo para vender. Este é o chardonnay BBB do Brasil de hoje e, se esta estratégia não funcionar, pois quando se fala em Chardonnay, a maioria das pessoas pensa num Mersault, esperem quando setembro vier: o Cuvèe Giuseppe Chardonnay sairá das barricas e garrafas para arrebentar. Palavra de quem já tomou...
Os tintos Reservas Cabernet Sauvignon e Merlot estão muito bons com novos rótulos, e eu achei o Merlot um pouco melhor.
Antes de ir embora ainda assisti ao vídeo promocional do lançamento, elaborado por gente da casa, nada de agencia, estilista de moda, etc. tantas frescuras que fazem o marketing burro de hoje em dia.
Em se falando de marketing conheci o novo estrategista do marketing da Miolo, com quem tive o prazer de comentar minhas idéias sobre vendas e sobre marketing. Ficaria muito cansativo repetir, mas os pontos que tenho me debatido sobre o marketing da Miolo, poderiam ser resumidos em:
1. Acabem com aquela pirâmide, que um dia eu chamei de sete céus. Aquilo é uma invenção das agencias de publicidade americanas para CLASSIFICAR VINHOS POR PREÇO! apenas isso e não tem nada ver com a qualidade do produto. Vocês possuem uma escala crescente de qualidade ao classificar as uvas em cada terroir, em cada safra, usem esta escala de qualidade. Se não fizerem isso o coitadinho do Miolo Seleção (leia–se quase 50% da receita da empresa) fica apenas no patamar acima dos vinhos de garrafão... e assim por diante, o único que tem qualidade para valer é o top da pirâmide.... os outros 99 vinhos tem qualidade inferior a ele....., pelo menos na leitura desta pirâmide....... Claro que não é isso , eu sei não é assim. Ou vocês vão colocar o Sesmarias no top , no lugar do lote 43? Ou o Lote 43 vai custar mais que os US$ 100.00 do vinho conceito?
2. Se a maior parte da receita vem do Miolo Seleção, leia-se de quem compra Miolo Seleção, por que não fazer publicidade para eles divulgarem mais o Seleção, até para eles venderem mais o Seleção e crescerem na linha de qualidade e não nos degraus da pirâmide.... Esta é uma missão de pastoreio, levar as ovelhas a conhecer novos pastos,
ups, digo novos vinhos! Tanto faz, seja Darcy ou Alexandre ambos saberão fazê-lo. |
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