O início da história
A década de 1920 foi caracterizada por grande desunião no seio do setor vitivinícola gaúcho, com brigas intermináveis e desentendimentos crônicos entre as principais lideranças, além da concorrência desleal e suicida entre as vinícolas. Altas e descontroladas produções associadas às práticas de preços aviltados - esta a receita para a grande crise.

As autoridades gaúchas, preocupadas, promoveram reuniões, discussões e induziram 41 vinícolas a se unirem em torno de uma instituição comum, o Syndicato Viti-Vinícola do Rio Grande do Sul, consolidado no final de 1928. Era a tentativa de unir a vitivinicultura gaúcha.

O governo estadual, através de decreto, criou o primeiro instrumento legal para fortalecer o Syndicato e atrair o setor em torno dele, impondo a obrigatoriedade de exames bromatológicos dos vinhos a serem comercializados, expediente pago e somente realizado através desta instituição.

Esse dispositivo legal deu-lhe força de órgão estatal e passou a privilegiar com custo zero seus associados aderentes, em detrimento daqueles muitos que optaram por ficar de fora e que teriam que pagar a cada exame solicitado. Com isso a desunião e os embates aumentaram dentro do setor.

Finalmente, devido às artimanhas oficiais e em decorrência do medo de serem engolidos pela séria crise que grassava na Serra Gaúcha, em 1929 foi formada a Sociedade Vinícola Rio-Grandense Ltda., agora reunindo 49 vinícolas, para garantir a aglutinação dos negociantes de vinho da região nesta grande sociedade que permitiria a imposição dos interesses do Governo Estadual para "sanear o setor".

Conflitos e mais conflitos
A Sociedade Vinícola Rio-Grandense, nome original da Companhia Vinícola Rio-Grandense, foi um braço importante de atuação comercial do Syndicato, que o eximia de atuar diretamente nas desgastantes querelas comerciais.

Não seria tarefa simples pois envolvia um trabalho insano e que exigiria grande habilidade de negociação para alcançar o milagre de aproximar posições historicamente antagônicas, ajustar interesses conflitantes e curar feridas profundas de rixas anteriores.

Em 1929, a Sociedade Vinícola Rio-Grandense Ltda. deu início às suas atividades fundamentais, comercializando e homogeneizando o estoque dos comerciantes, dos produtores fundadores e dos demais que abdicaram da venda direta ao mercado e, com isso, não pagar a taxa bromatológica que recaia sobre o vinho dos comerciantes independentes.

A sua atuação não pacificou o setor, pelo contrário, acirrou os desentendimentos e os embates, criando dois blocos distintos na vitivinicultura gaúcha: Sociedade Vinícola de um lado, vinícolas independentes do outro que, aos poucos, foram se associando em grupos, dando origem às Cooperativas Vinícolas.

Sérgio Inglez de Souza é editor do blog Todovinho, ex-presidente da SBAV, escritor e um dos especialistas em vinhos mais respeitados do Brasil
04/03/2013
Comentários
Altanir Jaime Gava
Engenheiro Agrônomo
Niterói
RJ
18/03/2013 Não sei se o autor irá comentar na fase II mas, queria aqui enaltecer o trabalho do Eng. Agr. Danilo Callegari, enólogo da casa que, na década de 1970, ajudou a desenvolver o suco de uva concentrado para uso em bebidas como refrigerantes. Juntos chegamos ao suco de uva sulfitado que, depois foi concentrado na VINOSUl, empresa do Governo do RS que tinha dois evaporadores APV. Assim, nasceu o suco de uva concentrado sulfitado 72 graus Brix para uso industrial.

Lembro muito bem da paixão do Callegari, como era conhecido, pelos seus vinhos Granja União onde juntos, no seu laboratório, tivemos momentos muito alegres.

Sds. enofílicas,
Altanir
Catiuscia Xavier
Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
Caxias do Sul
RS
17/10/2013 Estou fazendo um trabalho de separação a respeito da Companhia Vinícola Rio Grandense e, realmente, o Sr. Callegari era uma pessoa muito importante para a empresa. A sua correspondência pessoal é incrível; com certeza ele sabia fazer muito bem o seu trabalho.
Jeferson Coteco
Funcionário público
São Paulo
SP
26/01/2014 Eu tenho uma garrafa de vinho da Vinícola Rio-grandense de 1965 e gostaria de saber o preço no mercado dela.

Atenciosamente,
Jeferson

Não há preço determinado para um vinho desses, pois praticamente não existem mais. Será tudo uma combinação entre comprador e vendedor. Abraços, Oscar.
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]