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Prezados leitores,
Aproveitando o ensejo da reeleição de Euclides Penedo Borges para a presidência da ABS-RJ por mais um biênio, fizemos o convite para que ele nos concedesse uma entrevista, o que foi prontamente aceito.
Com tal oportunidade, formulamos perguntas sobre os planos da ABS para o próximo período, apresentamos os questionamentos mais sensíveis que os associados usualmente fazem e, até mesmo, fizemos uma pergunta sobre a vinícola argentina do Euclides, produtor de vinhos.
A tudo, nosso presidente respondeu com objetividade. Vale a pena conferir!
Um abraço,
Oscar Daudt |
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EnoEventos |
Euclides Penedo Borges |
Na última assembléia da ABS, a quantidade de associados presentes, não diretamente ligados à Diretoria, foi de menos de 10 pessoas. A que você atribui essa baixa participação e quais os planos da nova diretoria para uma maior aproximação com os associados? |
Duas observações: primeiramente, menos de 10 pessoas está um pouquinho exagerado, pois quarenta e tantas pessoas assinaram o livro de presenças e eu lembro que você colocou não diretamente ligados à diretoria.
Na verdade, não estão incluídas nessas 10 pessoas que você colocou, por exemplo, Célio Alzer, Geraldo Alão,que já foram da Diretoria mas não são mais, e que estavam lá simplesmente como convidados, ex-presidentes que são.
A segunda observação: baixa participação tem sido uma constante nas Assembléias Gerais Ordinárias, na medida em que espera-se algo em torno de 10%, o que seriam 100 pessoas. Sempre tem sido feita a convocação de acordo com os preceitos estatutários: é divulgado no ABS Notícias, no site e depois reforçado por e-mail.
Mas as pessoas realmente não costumam comparecer em massa. Sempre que há a passagem de um presidente para outro, aumenta um pouco esse número; mas na continuidade do mesmo presidente, esse número é relativamente pequeno.
Você incluiu na pergunta a expressão maior aproximação com os associados. Quero lembrar apenas que a aproximação da diretoria da ABS com os associados se dá através de boletins, como o ABS Notícias, que é editado mensalmente, através de mensagens por e-mail, do site e de centenas de eventos anuais, como cursos, degustações, viagens... É dessa forma que nos aproximamos dos associados, e não através de uma Assembléia Geral Ordinária.
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Um dos planos que você propôs para 2009 foi a criação do Solar do Vinho do Porto. O que vem a ser isso? |
 No início deste século, 2001 mais ou menos, a ABS foi convidada a participar de um curso internacional sobre Vinho do Porto. Nesse curso, eu e cerca de 15 pessoas fomos diplomados como experts em Vinho do Porto pela Universidade Católica da Cidade do Porto.
Uma das coisas que nós tivemos a oportunidade de ver por lá, quando de nosso visita ao Instituto do Vinho do Porto (IVP), é que existe uma seção desse instituto chamada de Solar do Vinho do Porto, que é dedicada à divulgação do vinho através de degustações. Isso existe aqui no Brasil, em São Paulo e no Paraná.
Há 2 anos atrás, nós fizemos uma primeira tentativa para verificar se IVP poderia nos ajudar a implementar também no Rio de Janeiro. Não chegamos a nenhum resultado naquela oportunidade, por diversos motivos, porém agora nós estamos querendo examinar a oportunidade de voltarmos ao assunto e obtermos o suporte do IVP para essa implementação.
Seria praticamente dar o endereço da ABS como sendo um dos endereços do Solar e, por conta disso, promovermos 6 degustações de Vinho do Porto por ano, à disposição dos associados.
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"Não vamos desistir da ABS-Niterói enquanto essa possibilidade não se mostrar definitivamente inviável."
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Em agosto de 2007, a ABS anunciou a implantação de uma seção em Niterói, que me parece não ter sido exatamente um sucesso. Em seus planos de 2009, a ABS-Niterói volta à pauta. Qual a estratégia a ser adotada desta vez para que a iniciativa seja vitoriosa? O que se pretende realizar do outro lado da ponte? |
Bem, no outro lado da ponte, nós gostaríamos de realizar a mesma coisa que estamos fazendo na Barra, isto é, um setor da ABS-Rio que atendesse as necessidades locais da cidade de Niterói em termos de aprendizado e divulgação do vinho, degustações, etc...
Acontece que há cerca de um ano e meio atrás, nós assinamos um convênio com o Iate Clube de Niterói para implantação de um núcleo que mais tarde se transformaria na ABS-Niterói. O início foi promissor, aconteceram algumas coisas que deram certo, inclusive o coquetel para a imprensa, que reuniu um número significativo de pessoas e depois o primeiro curso ministrado também, com a participação de 40 alunos.
Porém, com o tempo, diminuiu o número de inscritos e nós, definitivamente, chegamos à conclusão de que o Iate Clube não era o local ideal, um pouco afastado, de acesso difícil. E o próprio Iate Clube, parece que não obteve de nós o que ele esperava através do convênio.
Então, quando o convênio terminou em setembro, nós suspendemos o assunto por algum tempo e agora no primeiro semestre de 2009, nós vamos fazer uma nova tentativa, buscando um local mais apropriado. Pretendemos entrar em contato com a Associação Médica, que ofereceu as suas instalações e vamos ver se é praticável. A dificuldade é sempre encontrar um lugar que tenha estacionamento disponível.
Não vamos desistir da ABS-Niterói enquanto essa possibilidade não se mostrar definitivamente inviável.
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No planejamento da diretoria para 2009, o ponto que eu mais gostei foi o anúncio da negociação de descontos para os associados nas importadoras de vinho. A força da ABS para negociar é muito grande e no entanto os resultados até hoje foram modestos. Poderemos esperar uma maior atenção da diretoria no futuro para esse aspecto? |
Não creio que você tenha interpretado certo, não. O que eu falei foi de negociação de descontos para a ABS, não para os associados. O que não significa que nós não vamos pensar em descontos para os associados.
Hoje mesmo eu mandei um e-mail geral, para todos os associados, avisando que a Vitis Vinifera está fornecendo um desconto para os associados da ABS. E, além disso, em relação à Taste-vin, eu solicitei hoje que fosse verificada a possibilidade de continuar em 2009 com o mesmo desconto que era dado em 2008.
Mas quando eu me referi a descontos, estava me referindo a descontos para os grupos de degustação.
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Minha alegria durou pouco. |
Bem, eu estou sendo sincero.
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"Atualmente, há vagas para quem quiser nos grupos de degustação."
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Sob meu ponto de vista, os grupos de degustação se constituem na iniciativa de maior repercussão que a ABS realiza em favor de seus associados. Mas a demanda é tão grande, que mesmo com o constante aumento na quantidade de grupos, conseguir uma vaga é bem difícil. O que a nova diretoria pretende fazer para melhor atender a essa demanda reprimida? |
Na verdade, não é o que nós pretendemos fazer, mas o que nós já fizemos. Qual é a nossa limitação? O número de salas disponíveis e o de orientadores. Realmente, quando chegamos a 52 grupos aqui no Flamengo, não tínhamos nem salas nem monitores para poder acompanhar os grupos.
O que nós fizemos? Neste exato momento está havendo uma prova para novos monitores. Já aprovamos mais 3 e na Barra mais 2. E, finalmente, agora em novembro, conseguimos alugar mais duas salas aqui no andar e eu posso afirmar que, no momento, tem lugar para todo mundo.
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Logo que entrei na ABS, eu fui a uma Festa da Trimestralidade. Achei tão desconfortável que, mesmo sendo de graça, nunca mais compareci a outra. A diretoria avalia que essas festas são positivas? Existe algum plano para mudar a forma de realização? |
Plano para mudar a forma de realização, não. Porém, eu tenho impressão que essa questão de desconforto é de caráter pessoal. Um gosta, o outro não. De qualquer forma, o desconforto se refere mais ao local onde a festa é realizada.
Já tentamos diversos locais, estamos na quinta localização e o Clube Naval já é a mais longa sequência, por conta de estar situado ali no Centro fazendo com que seja muito prático para quem está saindo do trabalho e pode ir à festa sem ter de se deslocar.
E apesar de um certo desconforto que o Clube Naval oferece, por conta do ar condicionado, da deficiência dos elevadores, nunca temos menos do que 250 pessoas, o que significa que no momento a única coisa que nós estamos eventualmente estudando é um outro local.
A fórmula, no entanto, não temos idéia de modificar, inclusive porque se trata de uma atividade deficitária. Ela não é paga e a ABS tem de arcar com toda a despesa. Não podemos, digamos assim, ser muito exuberantes nessa festa como nós fomos na Festa dos 25 Anos.
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Eu senti falta, na prestação de contas da diretoria passada, de uma informação básica: a quantidade de associados adimplentes. Quantos sócios somos, afinal? E quais os planos para aumentar a quantidade de associados? |
Nominalmente, somos 1.350, dos quais pagaram no último trimestre 1.200. Como todos os alunos dos cursos básico e avançado são necessáriamente sócios, esse número tem variado ao longo dos últimos anos entre 1.100 e 1.300.
Nós acreditamos que chegamos ao nosso limite aqui no Flamengo. Aumento agora, apenas na Barra e eventualmente, se for praticável, em Niterói.
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Então o número de associados não está crescendo? |
Está estabilizado. Ele era de 800 no ano 2000, aumentou para 1.200 e a partir daí estabilizou em torno desse número.
Eu acho que nós estamos saturados. Por exemplo, para termos mais do que isso, teríamos de contratar mais pessoal, coisa que nem passa pela nossa cabeça. Talvez até termos uma secretaria maior, coisa que também não passa pela nossa cabeça.
O aumento do número de atendimentos poderia exigir uma ampliação do sistema de informática, coisa que estamos considerando, mas de forma muito gradual.
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"Usamos espumantes nacionais em todos os nossos 60 grupos de degustação."
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A ABS oferece diversos cursos de especialização em vinhos relativos à França, Itália, Portugal, Alemanha, etc... Posso estar enganado, mas não lembro de já ter havido algum curso sobre vinhos brasileiros. Como você enxerga o papel da ABS no fortalecimento da indústria vinícola nacional?
 Em tempo: tomei a liberdade de, em nome do meu Rio Grande, agradecer à ABS! |
Estivemos no Rio Grande do Sul, ano passado, e tive a felicidade de ter falado, finalmente, com meu professor - através de seus livros - que é o Corte Real. Ele, ao me abraçar, falou: - Euclides, o Rio Grande do Sul ainda não agradeceu suficientemente o que a ABS tem feito pelo vinho nacional.
Por exemplo, eu escrevo um artigo no ABS Notícias, chamado Curiosidades Enológicas, que já se encontra no número 155. A cada 8, um se refere ao vinho brasileiro.
Temos, também, todo o ano, uma degustação de vinhos chamada de Vinhos TOP Nacionais que está sempre lotada. No entanto, temos feito outras degustações que não têm tido boa aceitação.
Mas o mais importante dos movimentos que temos a favor do vinho nacional tem sido a utilização sistemática de espumantes nacionais em todos os nossos 60 grupos de degustação. Todos eles começam com um espumante nacional.
Além disso, as vindas aqui de pessoas como o Adriano Miolo têm sido um sucesso absoluto, técnico e de público. De forma que nós temos dado alguma contribuição, apesar de não sermos de uma região vinícola.
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Eu me lembrei agora daquela degustação do Célio Alzer, Coisas Nossas, que não era de vinhos top, mas de vinhos simples e foi um grande sucesso. |
Bem lembrado! Eu esqueci de me referir a ela, pois foi uma coisa nova, que surgiu agora e provavelmente vai pegar, porque teve muito sucesso.
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"Preferimos que todos os associados façam o curso básico conosco, a fim de manter uma linguagem uniforme."
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Alguns leitores do EnoEventos discordam do fato de a ABS não reconhecer os cursos básicos de vinho administrados por outras entidades, obrigando os novos sócios a aprender, uma segunda vez, aquilo que já sabem. Uma liberalização nessa regra não seria uma boa política de captação de novos associados? |
A razão pela qual a ABS exige - há anos, não é uma coisa nova - que para comparecer a nossos eventos que o associado tenha os cursos básico e avançado é simplesmente porque nós temos um método de degustação que precisa não só desse conhecimento básico, mas também uma linguagem única.
Se nós permitirmos que uma pessoa que tenha feito um curso que foi dado por uma loja ou por uma outra entidade não reconhecida ou um único professor, não vai ter a mesma linguagem nossa. Resultado: vai começar a fazer perguntas, no curso avançado, sobre coisa que todos ali já sabem, atrapalhando até a andamento. É uma experiência que aprendemos no passado e que não pretendemos alterar.
Mas é claro, se vier aqui alguém que fez o curso básico da ABS-São Paulo, nós vamos reconhecer o curso.
O que nós não podemos é simplesmente colocar num curso avançado, onde as pessoas aprenderam não só a base do vinho, mas também a maneira pela qual nós conduzimos o assunto em termos de linguagem, em termos de método que nós utilizamos - o método Bossi, da Itália - pessoas que aprenderam o método francês e começam a discutir que não é assim, que não é assado, ou então que fizeram o método argentino e que têm uma outra percepção também distinta, pois é a maneira do Novo Mundo de ver o vinho.
Então, por conta disso, nós preferimos manter essa norma. Sabemos que às vezes reconhecemos alguma dificuldade e já abrimos exceção, é claro. Não se trata de uma coisa dogmática. Em princípio, preferimos que o curso avançado seja feito apenas por pessoas que já fizeram o nosso curso básico.
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Alguns associados questionam a não renovação da diretoria e pensam que uma disputa de chapas seria bastante saudável para nossa ABS. No entanto, ninguém se apresenta para a disputa. A diretoria atual pretende incentivar o aparecimento de outras chapas para daqui a 2 anos? |
Eu não respondo a essa pergunta nesse momento. Isso é para daqui a 2 anos. E inclusive porque não compete à diretoria incentivar as pessoas a fazerem chapas. O que ela tem de fazer, certamente, é o que manda o estatuto da Associação, que é o de colocar, na época da Assembléia, que é avisada através do Boletim e de e-mail, a comparecer à AGO.
Porém, se esse tipo de observação nos fizer ter alguma idéia de incentivar que alguns outros entrem na disputa, não teremos o menor problema em fazer.
Mas certamente isso seria feito no segundo semestre de 2010.
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Para finalizar, uma pergunta não ao presidente da ABS, mas ao Euclides produtor de vinhos: como vai sua vinícola na Argentina e quais são os novos lançamentos previstos para 2009? |
Nós temos um projeto relativamente recente. Nós adquirimos a propriedade vitícola, em Mendoza, na região de Alto Agrelo, em fevereiro de 2005 e, portanto, estamos completando 4 anos agora.
O que aconteceu nesse tempo? Em primeiro lugar, modéstia a parte, refiz toda a plantação, colocando irrigação por gotejamento, proteção anti-granizo, reduzindo a produção para aumentar a concentração das uvas.
Hoje nós podemos dizer que na plantação que compramos, já temos uvas da melhor qualidade. Além disso, em 2007, fizemos a plantação de mais 24 hectares, completando a área total de 48 hectares.
Ainda não estamos recebendo visitas porque não temos instalações adequadas para turistas.
E quanto aos vinhos? Nós começamos a colocar vinhos no Brasil em 2006. De 2006 para 2007, passamos de um único rótulo para 3 rótulos. Em 2008, vendemos 15.000 garrafas - trata-se portanto de um projeto pequeno - mas já com 5 rótulos:
Penedo Borges ChardonnayPenedo Borges Malbec ReservaPenedo Borges Malbec Gran ReservaMalbec-Merlot (o único que é vendido em supermercado)e um vinho que está chegando agora em março, que talvez seja o mais importante de nossa produção, que é um Cabernet Sauvignon da região de Agrelo, na Argentina.
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