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 A História de um Império do Champanhe e da Mulher que o Construiu
Mais um dos livros que eu comprei em Miami, The Widow Clicquot, é uma leitura obrigatória para os apreciadores de Champagnes. O livro conta a história de Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin, uma mulher a frente de seu tempo, que construiu o grande império que delicia os enófilos até os dias de hoje.
É bastante interessante aprender como, numa época em que o papel das mulheres era apenas ser dona de casa e cuidar dos filhos, uma jovem viúva de 27 anos toma as rédeas da empresa de vinhos de seu finado marido e a transforma na mais poderosa casa de Champagne. Com seu tino comercial, sua determinação, seu esforço em aprender a arte de fazer vinhos e a criatividade que imprimia a seus negócios, Barbe-Nicole tornou-se a mulher mais rica de seu tempo. Tão rica que seu passatempo era construir castelos... (vejam só nas fotos ao lado o Chateau de Borsault, sua casinha de campo)
É particularmente saboroso ler sobre as disputas comerciais com seu maior concorrente, Jean-Remy Moet, e acompanhar o processo de criação da remuage, que tornava seus vinhos límpidos e brilhantes, enquanto seus competidores, com seus espumantes opacos, iam à loucura tentando descobrir o segredo que conseguiu ser mantido por 15 anos. Foi o tempo suficiente para que a viúva conquistasse uma vantagem competitiva invejável.
Aprende-se, também, que o champagne que se bebia naquele tempo não tinha muita coisa a ver com o que apreciamos hoje. O teor de açúcar, nos dias de Barbe-Nicole, era em torno de 200g/l, fazendo com que a bebida fosse muito mais doce do que os vinhos de sobremesa mais melosos que hoje conhecemos. Mas, gosto é gosto...
A época em que a viúva viveu era bem conturbada. Em sua infância, Barbe-Nicole viveu as dificuldades da Revolução Francesa. Quando assumiu o comando da vinícola, as guerras napoleônicas colocaram a França contra quase todos os países da Europa e os entraves comerciais eram gigantescos. Mesmo assim, em uma jogada de mestre, a viúva consegue furar o bloqueio naval e entregar uma enorme quantidade de seu famoso espumante na distante São Petersburgo, conquistando definitivamente a preferência do czar e da nobreza russa.
No entanto, o livro me deixou de certa forma desapontado. A autora, a americana Tilar J. Mazzeo, confessa já no prólogo que, apesar de extenuante trabalho de pesquisa, pouco coisa pode descobrir sobre a biografada. Enquanto os dados comerciais tinham sido preservados, quase nada restava sobre a vida e o pensamento de Barbe-Nicole. Os primeiros e os últimos capítulos, principalmente, são quase que totalmente escritos na base de hipóteses: deve ter acontecido... provavelmente ocorreu... ela deve ter pensado... pode ser que...". Não dá, é difícil de engolir...
Mas a gente perdoa. Nada pode ser mais gratificante do que abrir um champagne Veuve Clicquot, sentar-se em uma confortável poltrona, aproveitar o livro e se deixar levar pelas conjecturas.
Oscar Daudt
Serviço: A Viúva Clicquot Autora: Tilar J. Mazzeo Páginas: 304 Editora Rocco Preço: R$31,60 (promoção nos sites das livrarias Cultura e Saraiva) |
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